Evento importante na agenda da ala progressista da Igreja Católica do Brasil, a 36ª Romaria da Terra terá renúncia do Papa Bento XVI como a conversa forte dos bastidores do evento, que acontece na manhã de terça-feira em Bento Gonçalves, na Serra.
Continua depois da publicidade
Nascida nos anos 1980, na época dos grandes conflitos agrários do Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, todos os anos o evento tem um tema principal, neste ano é: “Terra, Vida e Cidadania: princípios do bem viver”. Entre as celebrações religiosas, os freis, padres e leigos ligados aos movimentos sociais, se envolvem em conversas sobre estratégias da luta política na defesa dos necessitados. Estes religiosos são ligados aos bispos e cardeais, pessoas que tomam decisões dentro da hierarquia da igreja.
– A conversa sobre quem será o novo papa deverá ser forte nos bastidores da Romaria da Terra – comentou o Evanir José Albarello, coordenador da Pastoral da Terra.
Militante calejado dos movimentos sociais, Albarello prevê que bispos e cardeais estarão interessados em saber o pensamento dos militantes das organizações populares sobre o perfil do substituto de Bento XVI. A prática tem mostrando que com um papa conservador, como é o caso de Bento XVI, a vida dos militantes das causas populares é extremamente dificultada. Um papa progressista, como foi o caso João Paulo I (1978), geralmente facilita a vida das organizações populares.
Continua depois da publicidade
– Precisamos de um papa com perfil menos legalista e mais misericordioso – definiu o frei Sérgio Görgen, um militante histórico das organizações populares no Rio Grande do Sul, como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
O frei Sérgio disse que há questões fundamentais na vida comunidade que o novo papa terá que se posicionar, como as ligadas a sexualidade e à ética comercial. Aliás, chama atenção o frei, um dos temas da Romaria da Terra é a Cidadania.
– O mundo atual exige um papa corajoso para conduzir a igreja no debate destes temas – acrescentou.
Continua depois da publicidade
Os religiosos progressistas gaúchos pertencem a uma rede mundial, que tem o seu foco nos chamados países pobres e emergentes, como é o caso do Brasil. Os religiosos e leigos que atuam nos movimentos populares não têm força para influenciar na escolha do substituto dos Bento XVI. Mas tem um barganha muito boa nas mãos. Eles atuam junto às comunidades pobres onde há uma disputa ferrenha entre a igreja e os evangelhos pentecostais. Esta é uma das razões pelas quais os conversadores da igreja têm permitido a existência dos progressistas. No Rio Grande do Sul, os progressistas iniciarão uma avaliação de como irão sobreviver dentro do que está por vir.