Santa Catarina não poderia esperar um roteiro mais particular, mais interessante, mais dominador da atenção inicial dos milhões de olhares que se dirigiam a Manchester, no último domingo.
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Afinal, no lendário palco de Old Trafford, um catarinense de Tubarão, Renan Bressan, marcar gol em um catarinense de Rio Negrinho, Neto, num jogo oficial de Olimpíada, já parece improvável. Agora, isso ocorrer num jogo entre Brasil e Bielorrússia é tão mais incomum quanto o fato de transformar este pequeno instante em algo muito especial.
No 3 a 1 deste domingo, a poderosa Seleção Brasileira encarou a modesta Bielorrússia. Era a segunda rodada olímpica e os dois times, vencedores na primeira fase, classificariam com a vitória.
Renan fez deste momento de sua vida algo diferente. Viu uma oportunidade de realizar um sonho de menino, que começou no Sul do Estado. O destino conspirou, então, a favor de do garoto de 23 anos.
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Na hora do gol, ao comemorar, ele certamente voltou no tempo em que, ainda com idade júnior, jogava no Atlético Tubarão e foi visto por um empresário. A oferta para jogar na Europa soou como algo surreal, após tentativas fracassadas em escolinhas de clubes grandes como Atlético-PR e São Paulo.
Ele resolveu aceitar a proposta, dormiu por quatro noites, sem visto, no aeroporto de Kiev, Encarou uma cultura diferente, o frio que é presente quase o ano todo, tornou-se pentacampeão pelo Bate Borisov, virou o maior goleador do país, foi naturalizado e chegou à Seleção como camisa 10.
Todo este roteiro de quase quatro anos condensou-se naquele momento, aos oito minutos da partida, quando cabeceou com consciência e venceu Neto. As dificuldades ao ser recusado nas categorias de base do Atlético-PR (justamente onde Neto foi revelado) devem ter se servido de motivação quando partiu, sorrateiro, para a bola, hipnotizando os zagueiros que não o seguiram.
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E quando subiu sozinho, escolhendo o canto com perfeição, então apenas materializava o conjunto de uma obra que construíra com seu próprio esforço. Aliás, o meia, que bem poderia estar do outro lado, não fossem os descaminhos da vida, seguiu incomodando todo o primeiro tempo. Aos 16 minutos, desfechou um chute venenoso. E, aos 35 minutos, lembrou Zico ao costurar, pela direita, jogada que deixou o zagueiro Juan perdido.
O primeiro tempo foi de Renan. Foram seus 45 minutos solo, de brilho único num time limitado, e contra feras que estiveram humildes na medida para permitir seu momento único.
– Fico imaginando como ficou Tubarão, todo mundo reunido, curtindo, acho que deve ter sido a primeira vez que torceram contra o Brasil – brincou, demonstrando uma alegria incontida ao deixar o gramado e passar pela zona mista, onde foi tão assediado quanto as feras brasileiras.
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No segundo tempo, com Neymar brilhando, foi restabelecida a lógica, com o favorito vencendo a partida que tinha obrigação de ganhar. Bom para nosso país e para nosso Estado: três pontos olímpicos para o Brasil e um gol histórico para Santa Catarina.