O governo federal recebeu medicamentos do chamado kit intubação enviados da China com bulas, rótulos e embalagens em mandarim. Temendo uma confusão na leitura que pode colocar pacientes em risco, entidades de saúde têm pedido a tradução para o português o mais breve possível.
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Com a lotação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com doentes de Covid-19, o estoque de medicamentos como sedativos, neurobloqueadores musculares e analgésicos opioides começou a diminuir ou até mesmo faltar em alguns hospitais. Por isso, um grupo de empresários se reuniu para fazer a doação dos remédios ao Ministério da Saúde.
A medicação em mandarim, que está sendo distribuída aos hospitais, chegou na semana passada, no primeiro lote de um total de 3,4 milhões de medicamentos que deve chegar ao país até o final do mês. Os remédios devem ser usados em 500 leitos pelo período de um mês e meio, segundo informações da Vale, que organizou a doação.
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Luis Antonio Diego, diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), afirma que a situação de superlotação das UTIs e a consequente sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde podem elevar os riscos de eventos adversos por erros de medicação. Assim, quaisquer estratégias que contribuam para minimizar potenciais erros de prescrição, dispensação, preparo e administração devem ser estimuladas, segundo ele.
— Os responsáveis por manusear os medicamentos podem se confundir [com as informações em mandarim]. O efeito adverso que isso pode causar no paciente é grave.
Pensando nisso, uma força-tarefa foi criada para ajudar na orientação dos profissionais, composta por membros da SBA, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede), do Instituto para Práticas Seguras do Uso de Medicamentos (ISMP-Br) e da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH).
Além da tradução da bula na íntegra, a força-tarefa faz outros pedidos e orientações. Umas das sugestões ao serviço de farmácia hospitalar é realizar o armazenamento e a identificação desses medicamentos separadamente, para evitar trocas e minimizar potenciais erros em toda a cadeia de abastecimento.
As entidades também enviaram um ofício para o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (Conasems) e o Ministério da Saúde com recomendação de como os rótulos deveriam ser colocados para garantir a segurança.
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O Conass afirmou, em nota, que foi informado de que os medicamentos para intubação doados por empresas brasileiras chegaram ao país com a rotulagem em idioma estrangeiro. “Foram realizadas reuniões com entidades, que, de forma complementar ao trabalho já realizado pelo Ministério da Saúde, elaboraram documentos técnicos, que foram disseminados aos estados”, escreveu o órgão.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que medicamentos doados podem vir em outro idioma. “Compete ao Ministério da Saúde atuar e fazer as discussões da instrução de uso”, salientou.
O Ministério da Saúde foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem. Em entrevista coletiva de imprensa na quarta-feira (21), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que está prevista a chegada de 1,5 milhão de medicamentos do kit intubação até maio, com a primeira remessa desse lote na próxima semana. Uma parte seria de doação da Espanha. O ministro afirmou que atua em diferentes frentes para conseguir mais medicamentos do kit, incluindo um pregão internacional sem fixação de preço para a aquisição de novos insumos.
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— Temos adotado uma série de ações para aumentar a oferta. Também contamos com o apoio da indústria nacional, OMS/OPAS, e com a solidariedade de outros países que farão doações dos insumos ao Brasil — explicou Queiroga.
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