Remédio utilizado contra leucemia, o dasatinibe está em falta desde abril em alguns estados brasileiros, inclusive em Santa Catarina.  O repasse do fármaco é feito pelo Ministério da Saúde, e apresenta problemas de abastecimento desde o segundo trimestre deste ano.

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O medicamento é utilizado para tratar a leucemia mieloide crônica, doença que causa o aumento de glóbulos brancos no sangue, afirma Angelo Maiolino, médico hematologista e coordenador do Comitê de Acesso a Medicamentos da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).

Em meados de abril, o Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), localizado em Florianópolis, percebeu que o remédio faltaria e o substituiu por outro similar, que segundo o hospital, é de igual efeito e não prejudica o tratamento.

O Centro de Pesquisas é financiado pela verba federal, mas administrado pela Fundação de apoio ao Hemosc/Cepon (Fahece). Isso permite que a chegada dos medicamentos não dependa de licitações ou contratos, como é o caso da aquisição do dasatinibe. Em resposta ao Diário Catarinense, o Cepon afirmou que o remédio não está faltando para quem precisa, em função do planejamento.

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— No Cepon o planejamento é muito efetivo. Quando o problema começou, houve gestão dos medicamentos disponíveis e há um controle rigoroso.

Apesar disso, segundo a Doutora Maria Tereza Scheller, diretora-geral do Cepon, a falta do medicamento afeta a todos os pacientes, podendo provocar evolução da doença.

A sugestão de substituição foi feita à Secretaria de Saúde do Estado diante do desabastecimento do dasatinibe. Segundo a SES, a pasta foi orientada a migrar para o medicamento nilotinibe no uso dos pacientes que possuem critérios específicos, informação que foi repassada às Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACONs) e aos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACONs) do estado.

O médico Angelo Maiolino reiterou que existem outros medicamentos que podem ser utilizados no tratamento da leucemia, como o nilotinibe e o imatinibe. No entanto, segundo ele, a troca de medicação pode não ser uma boa alternativa, porque os medicamentos não são idênticos.

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O hematologista disse que a substituição pode resultar em uma perda na resposta ao tratamento de quimioterapia oral, podendo causar a passagem da fase crônica da doença para a aguda, que é muito mais grave, incurável e pode levar à morte em pouco tempo.

Atualmente, a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) contabiliza 42 reclamações feitas por pacientes de diferentes partes do país que utilizam o dasatinibe e não estão com acesso ao remédio.

A situação faz com que seja necessária a normalização da entrega do remédio quanto antes, para não trazer mais problemas aos pacientes, afirma Maiolino.

— Como a compra e distribuição é direta pelo Ministério da Saúde, esse pode ser um problema que afetará todo o país se não for sanado o mais rápido possível — diz o médico.

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Como funciona a distribuição do dasatinibe

A distribuição pública do medicamento é centralizada pelo Ministério da Saúde, que o importa e o repassa para as secretarias de Saúde dos estados. Depois disso, cabe a elas entregá-lo aos hospitais regionais, para que os usuários cadastrados possam realizar a quimioterapia oral.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES), a Diretoria de Assistência Farmacêutica (DIAF), vinculada à SES, tem cobrado do Ministério da Saúde o abastecimento do medicamento dasatinibe em Santa Catarina. Em resposta à secretaria, o órgão informou que o medicamento deve chegar até o final desta semana ao seu almoxarifado, em Guarulhos, para distribuição aos estados.

A escassez do dasatinibe na versão de 20 mg é registrada desde o segundo trimestre deste ano, conforme nota técnica do Ministério da Saúde de 8 de setembro. O cenário piorou no terceiro trimestre, quando não houve distribuição na versão de 20 mg e a de 100 mg ficou com pendências.

Em 23 de agosto, a pasta firmou um contrato de aquisição com a farmacêutica Bristol Myers Squibb. A empresa informou que a importação do remédio, processo que envolve uma solicitação do ministério à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), só foi autorizada em 1º de outubro.

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Esse atraso fez com que o fármaco só chegasse ao almoxarifado do ministério em 19 de outubro. A previsão para início das entregas, segundo a pasta, seria no dia 22 daquele mês. No entanto, alguns estados reportam que, até agora, não receberam o fármaco.

O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) disse que “ainda enfrentamos uma situação de desabastecimento do dasatinibe em alguns estados”.

Procurado para comentar os atrasos, o Ministério da Saúde não respondeu até a publicação reportagem.

Entenda por que o Dasatinibe é utilizado contra a leucemia

  • O que é o dasatinibe?

O remédio é um inibidor de tirosinoquinase (ITQ), proteína advinda de uma alteração genética em uma célula-tronco e que causa a leucemia mieloide crônica. Além do dasatinibe, existem outros inibidores utilizados no controle da proteína, como o imatinibe e o nilotinibe.

  • O que é a leucemia mieloide crônica?

É uma doença manifestada quando a tirosinoquinase causa uma produção exagerada de glóbulos brancos que circulam no sangue.

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  • Que problemas a leucemia mieloide crônica traz para o paciente?

Alguns sintomas são fadiga, hemorragias esporádicas e aumento do baço e do fígado. Na fase mais avançada da doença, a pessoa pode morrer.

  • Como funciona o dasatinibe?

Assim como outros ITQs, o dasatinibe inibe a tirosinoquinase, regulando assim a produção dos glóbulos brancos. Isso faz com que o doente permaneça na fase crônica, em que não há sintomas muito graves, sem evoluir para cenários críticos.

  • O que acontece se o tratamento for paralisado?

A leucemia pode evoluir da fase crônica para o estágio agudo. Na última fase, há sintomas como anemia, infecções, sangramentos e, em último caso, o óbito.

  • É recomendada a troca de inibidores?

A troca do medicamento pode diminuir a eficácia do tratamento, resultando em cenários mais graves. A alteração entre inibidores só é recomendada quando o paciente está reagindo mal ao tratamento.

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*Com informações da Folhapress

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