Os antipsicóticos de segunda geração começaram a ser comercializados na década de 1990. Além de tratar doenças para as quais os medicamentos anteriores apresentavam poucos efeitos, como a esquizofrenia, eles possuem efeitos colaterais menos danosos à saúde.

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Importantes para tratar distúrbios mentais como esquizofrenia e transtorno bipolar, os antipsicóticos de segunda geração também podem causar doenças graves em crianças e adolescentes. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association constatou que, assim como ocorre com adultos, os pacientes jovens medicados com essas drogas ganham peso e massa gorda rapidamente, além de sofrer uma série de alterações metabólicas, como aumento do colesterol e diminuição da insulina.

A pesquisa, liderada pelo psiquiatra Christoph U. Correll, do Zucker Hillside Hospital, em Nova York, acompanhou pacientes entre quatro e 19 anos que tomavam antipsicóticos há menos de uma semana. Depois de três meses, a equipe de Correll analisou os efeitos que as drogas aripiprazol, olanzapina, quetiapina e risperidona provocaram no organismo dos voluntários.

Correll lembra que a prescrição de antipsicóticos de segunda geração está aumentando entre os jovens americanos vítimas de distúrbios mentais.

– Os efeitos cardiometabólicos adversos também estão aumentando. Ganho inapropriado de peso, obesidade, hipertensão e anomalias na glicose e nos lipídios são problemáticas no período de crescimento, porque predeterminam a obesidade na idade adulta, além de síndrome metabólica e morbidades cardiovasculares.

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Depois de 12 semanas, os que tomaram olanzapina – substância que mais provocou ganho de peso – ficaram, em média, 8,54 quilos mais gordos. Já o ponteiro da balança do grupo sem medicamento subiu somente 19 gramas. O antipsicótico que menos engordou os pacientes foi o aripiprazol, com ganho médio de 4,4 quilos no período (veja quadro ao lado).

Em relação à massa gorda, novamente a olanzapina liderou o ranking, com 4,12 quilos a mais, sendo que, entre os não tratados, o aumento foi de 35 gramas. A substância também foi a que provocou o maior aumento da circunferência abdominal, fator de predisposição para doenças como a hipertensão.

– A olanzapina teve os maiores efeitos sobre o peso e também piorou as taxas de glicose e de lipídios, exceto o HDL (colesterol bom) – observa Correll.

Já o aripiprazol é apontado como a substância que menos trouxe danos.

– As razões não estão claras, mas podem estar relacionadas ao efeito menor que ela provocou na circunferência abdominal, comparado às outras drogas – diz o psiquiatra.

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As conclusões preocuparam Christopher Varley, do Seattle Children’s Hospital.

– Se há evidências de que esses remédios podem trazer benefícios, não acho que o tratamento deve parar, embora talvez seja necessário indicar dietas e mesmo medicamentos para diminuir a tendência de ganho de peso – argumenta.

A difícil equação custo X benefício

O psiquiatra Christoph U. Correll diz que os médicos devem analisar se os benefícios dos medicamentos são maiores que os riscos à saúde dos pacientes. Já o médico Lúcio Simões de Lima, coordenador de psiquiatria da infância e adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria, argumenta que, para severidades mentais graves, o benefício dos remédios é maior que os custos.

– A olanzapina é, disparadamente, o remédio que mais engorda. Traz aumento de peso, de cintura, mas é o único remédio que tira a pessoa de um surto psicótico – explica.

Lima explica que os remédios da velha geração tinham efeitos muito mais danosos, como a cinesia tardia (transtorno de movimento irreversível) e a impregnação, quando os músculos se contorcem involuntariamente, a ponto de ser necessário tomar remédios prescritos para quem tem doença de Parkinson.

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– Remédio sempre tem efeito colateral. Crianças bipolares não conseguem ficar no colégio. Vai deixar essa criança sem medicação? – questiona.

Ele diz que o importante é orientar os pais para incentivarem os filhos a praticar exercícios físicos, que ajudam a reverter os efeitos do aumento de peso e gordura localizada.

– Além disso, a criança precisa fazer psicoterapia. À medida que vai melhorando, o remédio começa a ser retirado.