As ações da Operação Lava-Jato tiveram impactos em Santa Catarina em seis das das 28 fases executadas até agora. Desde a primeira ação policial, em março de 2014, o Estado teve políticos, empresários e pessoas ligadas a grupos partidários com o nome envolvido na maior investigação de corrupção já vista no país. Nenhum deles, porém, ainda foi condenado nas ações.
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Relembre abaixo como foi cada uma dessas seis fases:
1ª – Lava-Jato
Já na primeira fase da Lava-Jato, a Polícia Federal cumpriu mandados em Santa Catarina. Em março de 2014, foi preso preventivamente Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará. Dono de um apartamento na Avenida Atlântica, a principal de Balneário Camboriú, ele trabalhava como entregador de valores para o doleiro Alberto Youssef. Com Ceará, policiais apreenderam veículos, dinheiro, relógios, documentos e outros objetos.Em delação premiada homologada pelo STF no ano passado, ele contou que por diversas vezes viu políticos indo até o escritório do doleiro em São Paulo. Para levar a propina aos políticos, recebia uma comissão. Ceará disse ter entregue R$ 5,5 milhões para o catarinense João Alberto Pizzolatti (PP) na campanha de 2010. Outras quantias teriam sido entregues para mais políticos do Partido Progressista e para o ex-presidente Fernando Collor. Na delação, ele citou ainda que Youssef comentou que o esquema de propina era o ¿mensalão do PP¿.Atualmente, Ceará está solto e o processo contra ele foi suspenso depois de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF). Do acordo constaram condicionantes como o pagamento de R$ 100 mil e a apresentação a cada dois meses à sede da Justiça Federal em Itajaí. Ceará continua morando em Santa Catarina.
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9ª – My Way
A nona fase, em fevereiro de 2015, atacou diretamente uma empresa catarinense e se refletiu na própria indústria. A Arxo, fabricante de tanques de combustíveis de Balneário Piçarras, no Litoral Norte, foi o alvo da operação. A empresa mantinha contratos com a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Os três principais nomes da Arxo foram presos temporariamente no dia 5 de fevereiro por policiais federais. Dias depois, em 9 de fevereiro, foram soltos. Desde então, o inquérito continua com a PF. No final de março deste ano, os agentes pediram a prorrogação da investigação por mais 90 dias. A defesa dos donos da Arxo não quer falar sobre o caso antes do fim do inquérito.Fonte ouvida pela reportagem, que preferiu não se identificar, diz que a empresa passou a ter dificuldades de contratação de crédito em bancos por conta da Lava-Jato. Até mesmo projetos sociais bastante conhecidos na região da indústria foram cancelados. Atualmente, a empresa passaria por dificuldades financeiras também pela crise econômica.A investigação da PF aponta que a empresa pagava propina a funcionários da BR Distribuidora para ter acesso a informações e favorecimento em licitações da Petrobras. Mário Góes, apontado como um dos operadores financeiros do desvio de recursos da Petrobras, investigado também na mesma fase da Lava-Jato, já foi condenado pela Justiça a 18 anos e quatro meses de prisão. Hoje ele cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.A denúncia contra os três diretores da Arxo, João Gualberto Pereira, Gilson Pereira e Sérgio Maçaneiro partiu de um testemunho de Cíntia Provesi Francisco, ex-gerente financeira da empresa. Ela havia deixado a Arxo três meses antes da operação e afirmou à PF que a empresa forjava notas fiscais para comprovar gastos que escondessem os desvios. Cíntia atualmente está sob o programa de proteção à testemunha depois de afirmar que foi ameaçada.
16ª – Politeia
A 16ª fase, em julho de 2015, foi a primeira ação da Polícia Federal que envolveu pessoas com foro privilegiado. Entre elas o ex-presidente da República e atual senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello, e o ex-deputado federal e atual secretário estadual em Roraima, João Pizzolatti Júnior (PP). Os agentes fizeram buscas em cinco locais em Santa Catarina. Parte delas em residências de Pizzolatti. Em uma delas, em Pomerode, no Vale do Itajaí, os policiais encontraram uma arma, que fez com que recentemente o MPF oferecesse denúncia contra ele por porte ilegal de arma.Outro alvo da Lava-Jato nessa etapa foi o ex-ministro de Collor Pedro Paulo Leoni Barros, que na época era um dos donos da Companhia Águas de Itapema. Os agentes fizeram buscas na casa dele.Em delação premiada, Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, entregador de dinheiro de Youssef, afirmou que levou dinheiro até a Águas de Itapema, mas disse que não sabia que Barros era um dos donos da companhia. Ceará relatou em sua delação que o atual senador Fernando Collor recebeu valores enviados por Youssef em Maceió. Nesse trecho da delação, ele fala também sobre a entrega de dinheiro na Companhia Águas de Itapema. O delator diz ter ido três vezes até a empresa para levar dinheiro, sendo que em uma das vezes entregou R$ 380 mil.Ceará contou ainda que em conversa com Youssef teria ouvido que Collor era muito amigo de Pedro Paulo Leoni Ramos. Na delação, defendeu que não sabia que a Companhia Águas de Itapema pertencia a Pedro Paulo. O delator explicou que não sabia exatamente qual a relação entre Youssef e Pedro Paulo, mas ouviu do doleiro que Pedro Paulo confiava muito nele.Nas três vezes em que entregou valores em Itapema, elas foram feitas de carro, sendo que na última o valor teria sido de R$ 380 mil. Ceará supôs no depoimento que o dinheiro entregue se destinava a político. Inclusive, contou Ceará, uma das entregas foi repassada a alguém vinculado à prefeitura de Itapema. A homologação da delação de Ceará ocorreu em 19 de agosto de 2015.
19ª – Nessun Dorma
O único preso na 19ª fase da Lava-Jato foi o engenheiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da construtora Engevix. Ele foi preso em Florianópolis, no seu apartamento na Beira-Mar Norte, no dia 21 de setembro de 2015. Bastante conhecido no meio empresarial e de engenharia, o empresário também era visto na praia Brava, no norte da Ilha de Santa Catarina.No mandado de busca e apreensão, o juiz federal Sérgio Moro afirmou que o objetivo era ¿a coleta de provas relativas à prática pelo investigado dos crimes de cartel ou de frustração à licitação, crimes de lavagem de dinheiro, de corrupção e de falsidade, especialmente em contratos e licitações com a Eletronuclear, além dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro¿.Recentemente, Antunes Sobrinho protagonizou um dos fatos mais relevantes da operação. Em proposta de delação premiada, divulgada pela revista Época, o engenheiro citou o vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros – ambos do PMDB. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, também foi citado por Antunes Sobrinho. Segundo ele, o peemedebista carioca pediu propina ao engenheiro quando era deputado no segundo mandato e controlava um esquema de corrupção em Furnas.A proposta de delação do dono da Engevix está com os procuradores do Ministério Público Federal da Lava-Jato, em Curitiba. Em depoimento em abril à Polícia Federal, o engenheiro teria dito aos agentes que foi procurado pelo ex-senador Gim Argello, preso na 27a fase da operação, para pagamento de propina em troca de não ser chamado a depor na CPI de Petrobras no Congresso Nacional. Sobrinho atualmente continua preso no Complexo Médico Penal do Paraná.
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22ª – Triplo X
Em 22 de janeiro deste ano, a PF deflagrou a 22ª fase da Lava-Jato. Dentre as prisões, conduções e buscas, um apartamento em Joaçaba, no Meio-Oeste catarinense, foi alvo dos agentes. Chamada de Triplo X, a operação investigou a ocultação de bens em empresas offshore e se a OAS lavou dinheiro por meio de negócios imobiliários para favorecer o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.Em Santa Catarina, o alvo foi o apartamento de Ida Aparecida Warken, irmã da publicitária Nelci Warken. Nelci foi presa, suspeita de coordenador os negócios de uma das offshore. Na casa de Ida, os policiais procuravam por documentos e dinheiro, porém nada foi encontrado. O registro da Polícia Federal sobre a ação confirma que ¿nada foi arrecadado¿ no local.De acordo com investigação da Polícia Federal, Nelci e Ida, além de serem irmãs, eram sócias. No dia da operação, Nelci foi detida, mas teve a prisão revogada em 5 de fevereiro.
26ª – Xepa (22/03/2016)
Uma das operações que mais mexeu com a estrutura política de Santa Catarina foi a Xepa, a 26ª fase da operação, com foco na construtora Odebrecht. Em oito Estados e no Distrito Federal, foram quatro prisões preventivas e nove temporárias. Os policiais federais ainda conduziram coercitivamente 28 pessoas. Dentre elas estava o advogado André Agostini Moreno, assessor do governo do Estado. A informação da PF é que Agostini seria um receptador de propinas da empreiteira, como emissário de destinatários finais ainda não identificados. O mandado contra ele foi o único cumprido em Santa Catarina. De acordo com investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, ele teria recebido propina de R$ 1 milhão em encontro em um hotel de luxo de São Paulo, no dia 23 de outubro de 2014. O caso envolvendo Agostini e os políticos catarinenses está no Supremo Tribunal Federal (STF). Raimundo Colombo (PSD), Cesar Souza Jr. (PSD), Antonio Ceron (PSD), Carlito Merss (PT), Jaison Cardoso (PSDB) e Roberto Carlos de Sousa (PSDB) são citados em lista apreendidas na Odebrecht. No dia 23 de abril, Teori Zavascki, ministro do STF relator da Lava-Jato, determinou à Procuradoria-Geral da República, por meio do procurador-geral Rodrigo Janot, que apure preliminarmente as planilhas apreendidas na operação em buscas na construtora.