Corpos de meninos e meninas carregados em meio a multidões furiosas. Closes de bebês assassinados enrolados em panos e lençóis. Imagens como essas – impublicáveis, mas que inundam as agências de notícias e as redes sociais há 15 meses – tornaram-se o retrato da guerra civil na Síria. Pela barbárie cometida contra crianças, o país árabe foi incluído na chamada “lista da vergonha”das Nações Unidas.
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As forças do presidente sírio, Bashar al-Assad, e da milícia de shabiha (pró-governo) foram incluídas pela primeira vez em uma lista de governos de sete países e 45 grupos armados (veja alguns no mapa). As tropas de Al-Assad são responsabilizadas por torturar, mutilar, estuprar e assassinar crianças. Algumas delas, cujos pais seriam dissidentes, são usadas como “escudos humanos” pelo exército e milícias pró-governo durante ataques contra os rebeldes. As barbaridades estão listadas no relatório divulgado na segunda-feira pela representante especial da ONU para crianças em conflitos armados, Radhika Coomaraswamy.
– Raras vezes vi uma brutalidade semelhante contra crianças como na Síria, onde meninas e meninos são presos, torturados, executados e utilizados como escudos humanos – declarou Radhika.
O texto, que se atém a 2011, não contabiliza o total de mortos, mas organizações de direitos humanos estimam que cerca de 1,2 mil crianças morreram desde março, início da revolta contra o regime, cuja repressão tem sido condenada em vão pela comunidade internacional.
Entre as barbáries descritas por Radhika está o episódio no povoado de Ayn Aruz, na província de Idlib, em 9 de março, quando forças governamentais capturaram dezenas de crianças de oito a 13 anos. Elas foram posicionadas como escudos em frente às janelas de ônibus que transportavam militares que atacaram o local durante quatro dias. Há relatos, ainda, de espancamentos, tortura com choques elétricos nos genitais e queimaduras com cigarros.
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O relatório foi finalizado antes do massacre de Houla, em 25 de maio, no qual 49 crianças, algumas de dois e três anos, foram mortas. Há, também, múltiplos relatos de escolas usadas como centros de detenção, tortura e interrogação de adultos e crianças.
Conflito atingiu status de guerra
Mesmo responsabilizando o governo, o texto também menciona casos de crianças recrutadas pela oposição armada – embora o Exército Livre Sírio e outros grupos rebeldes afirmarem que não envolvem adolescentes com menos de 17 anos de idade. Eles carregariam armas e usariam uniformes camuflados.
Ontem, o chefe das forças de paz da ONU declarou que o conflito sírio atingiu o status de guerra civil, já que o regime perdeu grandes porções do território para a oposição e quer voltar a ter o controle dessas áreas. O governo americano afirmou ontem que a Rússia enviou helicópteros para reforçar o poderio de ataque ao regime do presidente sírio.
Confira o mapa com outros países que usam crianças em conflitos