Não é a primeira vez que o futebol brasileiro é investigado. Há quase 14 anos a CBF e o esporte mais popular do país foram focos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. O relator foi o catarinense Geraldo Althoff – senador entre 1998 e 2003. Em paralelo a esse trabalho, a Câmara dos Deputados também conduziu uma investigação através da CPI da CBF/Nike. Ambas foram pressionadas pela bancada da bola, grupo de políticos ligados a entidade maior do futebol nacional.
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A CPI dos deputados pedia o indiciamento do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e de outros 33 nomes, entre dirigentes, empresários e demais envolvidos. No entanto, a CPI terminou sem o relatório aprovado. No Senado, também houve pressão, mas o relatório final saiu. Publicada no dia 4 de dezembro de 2001, a investigação trazia à tona os erros administrativos das entidades do esporte e alertava que era necessário uma mudança na maneira de fiscalizar e agir com o futebol.
Apesar da CBF e das federações estaduais serem instituições privadas, o relatório entendia que pela importância para a formação da identidade brasileira, o futebol é um patrimônio cultural e por isso deveria ser fiscalizado pelo poder público. No entanto, o relatório que iniciou as investigações não teve prosseguimento no âmbito do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário. Apenas um dos projetos de lei sugeridos foi aprovado: o Estatuto de Defesa ao Torcedor.
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Hoje, muitos anos depois da primeira tentativa, um tetracampeão mundial conseguiu conseguiu tirar do papel uma nova CPI do Futebol. O senador e ex-jogador Romário reuniu assinaturas suficientes para instaurar uma nova CPI do Futebol no último dia 28.
Confira a entrevista de Althoff ao DC:
“Investigação será mais fácil”
De alma lavada. Este é o sentimento do ex-senador Geraldo Althoff ao ver o início de uma outra CPI do Futebol no Senado Federal para a investigação de corrupção na CBF. Desta vez, ele acredita que haja menos obstáculos para o trabalho dos parlamentares
O senhor se sente de alma lavada por finalmente ter uma investigação sobre o que foi denunciado na CPI do Futebol em 2001?
O meu sentimento é de muita alegria. Quer queira, quer não, a despeito do tempo, o reconhecimento de que o trabalho e encaminhamento dado à época era totalmente real e que sem dúvida se tivesse tido uma ação um pouco mais forte na época muita coisa poderia ter sido coibida. Esse é o meu sentimento, se quiser dizer de alma lavada pode dizer, com certeza.
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O senhor acredita que a nova CPI do Futebol pode ter um resultado diferente?
Sem dúvida que sim. Há época quando nós exercitamos o papel de relator na CPI do Senado existia uma bancada da bola estruturada. Era possível identificar nomes e parlamentares envolvidos diretamente com a CBF e tivemos extrema dificuldades e precisamos transpor algumas adversidades para poder conseguir chegar onde chegamos. Hoje isso deverá acontecer com muito mais facilidade. Até por causa das circunstâncias. Será mais fácil fazer e exercer uma investigação.
O senhor acredita que as federações deveriam passar por um processo de investigação também?
Desde a época que fizemos a CPI isso ficou claro que sim. Sem dúvida as federações têm um modelo muito parecido com o que acontece na própria confederação.
A CPI do Futebol recebeu muita pressão do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e de outras forças para não ir à frente. Acredita que a atual situação será diferente?
Sim. Hoje a bancada da bola implodiu. É difícil que alguém se posicione para defender a CBF como existiu na época em que exercemos o papel de relator da CPI. Sem dúvida a fragilização é evidente.
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O que fez a bancada da bola perder força nos últimos anos?
Ela continua existindo. Ainda consigo identificar na minha avaliação quais aqueles que podem ser considerados da bancada da bola. Só vão ficar paralisados, porque tomar uma posição hoje a favor da CBF vai trazer problemas políticos.
O Romário sempre foi um dos opositores às direções da CBF. A importância dele para a história do futebol ajuda a fortalecer a nova CPI?
Sem dúvida. O Romário é uma referência como futebolista que foi e pode ajudar. Ele tem um momento impar e um respaldo grande, inclusive político.