A eleição presidencial deste domingo na Venezuela interessa a muito mais gente que os 30 milhões de almas do país incrustado entre Brasil, Colômbia e Guiana.
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Nos últimos 14 anos, durante a era chavista, o país sul-americano, cujo governo é disputado pelo governista Nicolás Maduro e pelo opositor Henrique Capriles, adquiriu ações da Argentina quando ninguém mais as queria, subsidiou a continuidade do castrismo na Cuba pós-soviética, comprou brigas com os Estados Unidos, envolveu-se no conflito entre o governo colombiano e a guerrilha local e conquistou seguidores naquilo que passou a ser conhecido como a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), envolvendo, por exemplo, Cuba, Bolívia e Equador.
São tantos os laços internacionais criados por Chávez que uma eventual troca de mando pode significar mudanças bruscas na economia e na divisão ideológica, especialmente quando se fala em América Latina. Mas não só isso: a China, com seus acordos envolvendo troca de investimentos por petróleo venezuelano, ou os EUA, que viram sua influência política minguar na região por conta da atuação chavista, observam com lupa o destino do país que usa o petróleo como moeda de troca e influência mundo afora.
Na América Latina em especial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deixou claro que quer o chavista Maduro dando continuidade ao modelo bolivariano. Lula não quer mudanças em um país recém acolhido pelo Mercosul. Pensam assim, também, a argentina Cristina Kirchner (que tem um manifesto sentimento de gratidão ao chavismo, do qual teria recebido até mesmo ajuda financeira para campanhas) e os herdeiros de Chávez, Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia). Mas há exceções.
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– O Paraguai mudará o governo daqui a uma semana, mas tanto o atual presidente quanto os dois principais candidatos, dos partidos Liberal e Colorado, querem o chavismo à distância. O Paraguai foi suspenso do Mercosul, e a Venezuela teve as portas abertas – diz o cientista político venezuelano Alejandro Mendez.
Laço com Cuba divide favoritos
Mesmo a Colômbia, governada pelo conservador Juan Manuel Santos, teria interesse na permanência de Maduro, prossegue Mendez:
– A Venezuela tem mostrado empenho em ajudar na consolidação de um acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
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No Caribe, o chavismo criou o Petrocaribe, um programa que subsidia países da região com petróleo.
De todos os países, porém, nenhum deseja com mais afinco do que Cuba uma vitória de Maduro. Ex-chanceler de Chávez, o candidato deve sua formação política aos irmãos Castro, com quem mantém relação estreita. Sendo assim, os cubanos torcem por ele.
Maduro chegou a prometer “união eterna” com Cuba, o que significa a manutenção do envio de 100 mil barris diários de petróleo, com a contrapartida de serviços médicos, educativos e esportivos. Capriles, por outro lado, não dará “mais uma gota” do petróleo venezuelano a outros países.