Não importa de que lado estão: para garantir alguns segundos a mais na TV e ganhar visibilidade junto ao eleitorado, candidatos unem-se a adversários históricos, imploram o apoio de partidos nanicos e deixam para trás ideais e convicções.
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A aliança firmada no início da semana entre o PT de Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, e um de seus mais antigos desafetos, o deputado Paulo Maluf (PP), turbinou a polêmica.
Por 1min35s a mais diante das câmeras, o ex-presidente Lula e Haddad, seu afilhado político, engoliram o orgulho e, constrangidos, foram até a casa de Maluf, na segunda-feira, apertar a mão do ex-inimigo. Sorridente, o deputado tratou de resumir o acontecimento em uma única e desconcertante frase:
– Não existe mais direita e esquerda. Existe tempo de TV.
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O pragmatismo de Maluf, reconhece o professor de Comunicação Política da USP, Gaudêncio Torquato, virou prática corrente na política. Tomou o lugar das ideologias como um punguista ataca sua vítima, de forma rápida e rasteira.
– A política está virando espetáculo circense. A imagem suplanta o conteúdo, e isso está transformando as eleições deste ano em uma geleia geral – lamenta Torquato.
O caso petista não é único. Em todo o país, afirma o cientista político Paulo Kramer, da UnB, há uma espécie de “conformismo” na classe política. Mesmo os mais resistentes, afirma ele, se renderam às alianças de ocasião.
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A curto prazo, os especialistas não veem solução para o problema. A longo prazo, as saídas passam por uma reforma política eficiente e pelo amadurecimento do eleitor. Mas o que fazer quando a propaganda começar, em 21 de agosto?
– Será preciso escolher. Ou você lê o programa partidário ou liga a TV. Não espere coerência – afirma Kramer.