Recentemente, o brasileiro tomou conhecimento do drama da personagem Carol Miranda, personagem de Camila Pitanga, na novela Insensato Coração, da Rede Globo, que assim que conhece seu príncipe encantado, o personagem André Gurgel, vivido por Lázaro Ramos, informou ao pretendente que não poderia ser mãe, pois sofre de endometriose. Mas, para alegria de todos os telespectadores, o que parecia ser “a sina da personagem”… Não será mais. Carol descobriu que está grávida e decide ter o bebê.

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A questão retratada na novela pode esclarecer as dúvidas de muitas mulheres. Afinal, uma mulher com endometriose pode engravidar?

– Pode. A relação entre a endometriose e a infertilidade feminina pode manifestar-se em alguns casos. Pacientes em estágio avançado da doença e com obstrução na tuba uterina que impeça o óvulo de chegar ao espermatozóide têm um fator anatômico que justifica a infertilidade. Além disso, algumas questões hormonais e imunológicas podem ser a causa para algumas mulheres com quadros mais leves de endometriose não conseguirem engravidar – explica o ginecologista Joji Ueno, diretor da Clínica Gera..

– Após o tratamento, geralmente após a realização da laparoscopia, uma boa parcela das mulheres consegue engravidar, principalmente pacientes em que as tubas não tiverem sofrido obstrução. É por isso que no final da laparoscopia, costuma-se injetar contraste pelo canal do colo uterino para ver se ele sai pelas tubas. A caracterização dessa permeabilidade tubária é um ponto a favor de uma gravidez que depende, entretanto, de outros fatores como a função ovariana ou a não formação de aderências, depois da cirurgia.

Doença causa muito sofrimento físico

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A endometriose ocorre quando o endométrio, ou seja, o tecido que reveste a cavidade uterina, implanta-se fora do útero. Cogita-se que quando a mulher menstrua – e a menstruação nada mais é do que a eliminação do endométrio – fragmentos desse tecido podem caminhar pelas tubas, alcançar a cavidade abdominal, nela implantar-se e crescer sob a ação dos hormônios femininos.

Hoje, sabemos que mulheres sem a doença também podem apresentar essa menstruação retrógada, isto é, a que faculta a chegada do endométrio na cavidade abdominal, mas só algumas desenvolvem a endometriose.

– Podemos concluir, então, que alguns fatores permitem a instalação dos implantes na cavidade peritoneal, dentre eles, destaca-se o sistema imunológico da mulher. É possível encontrar células do endométrio lá dentro, em casos de pacientes com endometriose assintomática – explica Joji Ueno.

A doença é tema recorrente entre as mulheres porque além de causar dor durante a relação sexual, alterações intestinais durante a menstruação – como diarreia ou dor para evacuar – também está associada às dificuldades para engravidar após um ano de tentativas sem sucesso.

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Como as cólicas menstruais são ocorrências habituais na vida da mulher, o médico recomenda que a investigação das causas da cólica deve ser feita quando estas apresentarem resistência a melhorar com remédios ou quando elas incapacitam a mulher para exercer suas atividades normalmente.

– Cólica intensa é o principal sintoma de endometriose e leva à suspeita de que a doença esteja instalada – diz o diretor da Clínica Gera.

Demora no diagnóstico

Como os sintomas da presença da endometriose são frustros, muitas vezes, podem confundir as mulheres, conseqüentemente, uma parcela significativa da população feminina pode demorar muito para ter a doença diagnosticada.

Segundo Joji Ueno, a doença pode acometer mulheres a partir da primeira até a última menstruação, com média de diagnóstico por volta dos 30 anos.

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– Em média, a mulher tem 32 anos quando é feito o diagnóstico da doença. Em 44% dos casos passaram-se cinco anos ou mais até a doença ser diagnosticada. De 40% a 50% das adolescentes que apresentam cólica incapacitante, quer dizer, dor intensa que requer repouso e as impede de exercer as atividades normais podem apresentar endometriose sem saber – observa o ginecologista.

A investigação clínica, a anamnese bem feita, seguida de um exame físico adequado, o toque vaginal que permite verificar alguns aspectos característicos da doença, tudo isso faz parte do exame ginecológico normal e de rotina que não visa ao diagnóstico da doença em si, mas pode funcionar como prevenção primária para a endometriose.

– O exame ginecológico é o ponto de partida para estabelecer o diagnóstico da endometriose. Se a doença se assesta no ovário, o ginecologista pode perceber o aumento dos ovários pelo toque. Se acomete a região que fica entre o útero e o intestino, um tipo de endometriose que se chama endometriose profunda, o toque permite perceber espessamentos atrás do útero e dor quando o médico apalpa essa região. Quando a doença acomete o peritônio, fica mais difícil estabelecer o diagnóstico pelo toque – explica o especialista.