Esta reportagem não vai focar em prisão, mas em liberdade. O assunto não é um delegado e suas ordens, mas um artista e suas musas. Como Ana porque parece uma cigana da Ilha. Assim a manezinha Ana Bessa aparece num dos versos da música “Sandra”, do cantor e compositor Gilberto Gil, e que neste domingo, dia 26, faz show em Florianópolis para comemorar os 350 anos de fundação da cidade. 

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Muitos anos se passaram desde aquele 1977, quando a música virou uma das faixas do disco “Refavela”. Ana se casou, teve filhos, mudou de cidade e trocou de empregos. Gil se tornou um artista mundial, virou ministro e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas ela, desde que selaram amizade, continua fazendo coisas de fã. Já esteve em vários shows, acompanha a vida do artista e considera Gil uma ser especial. Tal qual a adolescente que por várias vezes foi visitar o músico baiano em 1976, quando por portar 750 miligramas de maconha, ele foi preso e internado num “hospício”. 

Na época não existiam centros de recuperação para usuários. 

— A musa da música é a Sandra — brinca Ana, no apartamento onde mora com a família, no Centro de Florianópolis. 

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Sobre a mesa uma caixa de papelão com capas de discos, fotografias e uma pasta com reportagens publicadas em jornais e revistas. Ana reconhece a relação de Gil com Florianópolis. Lembra que mesmo antes daquela turnê do grupo Doces Bárbaros – Gil, Gal, Betânia e Caetano Veloso – ele havia se apresentado na cidade. Recorda, inclusive, da vinda para a tradução de “No woman, no cry (Não chore mais)”. São muito as recordações: 

— Lembro daqueles dias como se fosse hoje. Era época de provas e a gente saía correndo do colégio para ir lá conversar com o Gil, sempre educado e doce. 

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Foi durante as visitas que Ana conheceu as outras mulheres citadas na música. Como as três Marias — Aparecida, Sebastiana e a de Lourdes. Igualmente a Carmensita, Lair e Salete. Sem esquecer da Andreia e Cintia, de Curitiba, e de Dulcina, que enquanto cuidava de Gil na Casa de Saúde São Sebastião, deu-lhe um beijo na boca. 

— Todas nós estávamos ali para estar com Gil. Eu era muito jovem, e queria desfrutar daquele artista. Mas elas eram mulheres que trabalhavam na área da saúde, tanto na clínica São Sebastião como no Instituto São José, e como eu ficaram encantadas por aquele artista grandioso ao mesmo tempo tão simples —conta. 

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Ana conta que o termo “cigana”, como foi identificada por Gil nos versos, tem a ver com o modo como as moças da época se vestiam: 

— A gente usava saias longas, uma coisa meio movimento hippie. Acho que foi por isso que ele fez a associação. 

“Cada verso da música é muito verdadeiro”, diz 

A música saiu um ano depois da passagem de Gil pela cidade. Ana conta que foi uma amiga que morava no Rio de Janeiro que, por carta, escreveu mostrando a letra e assinalando o verso sobre a cigana da Ilha.

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— Foi uma sensação muito boa. Cada verso da música é muito verdadeiro, como o chafé (café fraco que a Salete servia) e o beijo na boca da Dulcina, na hora da despedida para o Rio de Janeiro, cheia de gente na volta – recorda. 

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Ana conta que perdeu o contato com as outras moças da época. Lembra de algumas reportagens juntas e de ter participado de um filme sobre a história. Ao longo dos anos esteve em diferentes shows de Gil, e talvez esteja no deste domingo. 

— A cigana da Ilha ainda vai decidir — brinca.

Na clínica psiquiátrica, Gil compôs também a canção chamada “A gaivota”, que ficou fora do disco, mas voou o Brasil na voz de Ney Matogrosso. “Gaivota na ilha/Sem noção da milha/Ficou longe a terra/Gaivota menina/Gaivota querida/Voa numa boa/ Que o alento segura/Voa numa boa…”. 

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