A construção do caráter de um indivíduo é obra com data para iniciar – o dia do nascimento -, mas sem prazo de conclusão. O trabalho envolve dezenas de agentes – a família em primeiro lugar, mas também a escola, a vizinhança, o grupo de amigos, enfim: todos aqueles indivíduos ou grupos que convivem com o sujeito e o influenciam ao longo da vida.

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O “trabalho” mais intenso é feito durante a infância, quando os pais ou responsáveis dão os exemplos e as orientações que moldam o caráter da pessoa e a escola reforça aspectos como a socialização, o companheirismo, a aceitação do diferente, entre outras características essenciais para a vida em sociedade. A partir de certa idade, a influência da escola e até da família diminuem, mas jamais deixam de existir.

Por isso, mesmo quem atua em uma instituição de ensino superior não pode abdicar de seu papel de educador pleno. Aqui cabe uma explicação do que seja esse papel de educador pleno para evitar entendimentos inadequados do que se pretende dizer.

Seria equivocado esperar que a formação do caráter do cidadão seja o centro das atenções daqueles que trabalham com um jovem ou um adulto em uma instituição de ensino superior. Professores, coordenadores, pesquisadores tem como atribuição essencial garantir aos futuros profissionais a teoria e a prática necessárias para dominar e exercer um ofício com competência. Também é obrigação desses profissionais estimular que os alunos “aprendam a aprender” – ou seja: estejam convictos da importância do aperfeiçoamento contínuo e, ao mesmo tempo, saibam onde buscar mais informações e aperfeiçoamento.

O papel da academia não acaba aí. O bom profissional domina a teoria e a técnica, mas também aprende sobre a importância de usá-las de forma ética. Isso sem ignorarmos, é claro, que o bom profissional precisa ser também um bom cidadão, um homem ou mulher que contribua com a construção de uma sociedade melhor.

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Os chamados trotes solidários se enquadram nessa linha de raciocínio. O ingresso em um curso superior é um momento especial, o início de uma etapa completamente nova na vida das pessoas. Não há motivo racional que explique porque estudantes “veteranos” aproveitem esse momento para subjugar futuros colegas de profissão. Em vez disso, esse episódio pode ser ainda mais valorizado quando usado para ajudar a terceiros.

Duas modalidades de trote solidário foram realizadas no Centro Universitário Estácio de Sá nos últimos anos e devem se repetir nos próximos. Em parceria com o Hemosc, alunos dos cursos da área de saúde promovem a cada semestre um dia de coleta para abastecimento do banco de sangue da entidade que atende hospitais da Grande Florianópolis. Graças a isso, centenas de pessoas já foram beneficiadas. Outra parceria, essa entre o curso de Direito da instituição e o Rotaract Club Kobrasol, levou à criação do “guarda-roupas solidário”. O projeto garantiu a arrecadação de diversas peças de roupa que foram vendidas em um brechó com renda destinada a apoiar as crianças atendidas no Centro de Educação e Treinamento Esperança (CETE), mantido pelo Rotaract.

Essas são ações simples e, alguns podem dizer, tem alcance relativamente restrito. Mas a opção pelo construtivo em vez do destrutivo, o estímulo à solidariedade, a valorização daqueles que apoiam terceiros – esses exemplos por certo vão ajudar profissionais capacitados a assumir o importante papel social que tem o cidadão que completa o ensino superior em um País que ainda tem muito a avançar nessa área.