A notícia de que Londres aceitou pagar até 55 bilhões de euros para sair da União Europeia (UE) irritou aliados e críticos do governo britânico e pulverizou o argumento de que o Brexit seria barato.

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Se, há alguns meses, o ministro das Relações Exteriores Boris Johnson – principal rosto da campanha a favor do Brexit – ironizava a UE a respeito do valor a ser pago, agora, o governo britânico aceitou pagar a quantia a título de compromissos orçamentários já assumidos, ou pensões dos funcionários europeus, entre outras faturas.

Na terça-feira, o jornal Daily Telegraph revelou os valores – entre 45 bilhões e 55 bilhões de euros – e o acordo.

O veículo citou duas fontes, segundo as quais o acordo foi alcançado na semana passada em Bruxelas, mas o montante final dependerá de “como as partes calcularem a cifra, com base em uma metodologia comum”.

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Os críticos do governo e da saída da UE aproveitaram o recuo do governo da primeira-ministra Theresa May para recordar as promessas feitas antes do referendo de 26 de junho de 2016.

“É um símbolo enorme da impossibilidade de materializar o Brexit nos termos como foi vendido para o povo britânico”, disse o deputado trabalhista Chuka Umunna à rádio BBC.

– Caminho para segunda fase –

Nigel Farage, que era líder do partido antieuropeu Ukip durante a campanha do referendo, atacou Theresa May e o governo.

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“Que se aprove uma quantia desta magnitude em troca de nada mais do que a promessa de um acordo comercial decente é se vender total e completamente”, escreveu Farage no Daily.

À margem das críticas domésticas, o acordo financeiro nivelaria decisivamente a reunião de cúpula de dezembro da UE, na qual líderes do bloco devem dar sinal verde para a segunda fase das negociações – a que se refere às futuras relações comerciais entre ambos os sócios -, como insiste Londres.

Esta é a visão dos investidores, que levaram a libra esterlina a registrar o maior nível em comparação ao dólar em dois meses.

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O principal negociador europeu, Michel Barnier, limitou-se a descrever os valores como “rumores na imprensa”.

“Há um assunto, no qual devemos continuar trabalhando, independentemente dos rumores na imprensa, e é o dos compromissos financeiros”, desconversou Barnier.

“Não vamos pagar entre 27 (países) o que foi decidido entre 28, é simples. Assim, queremos liquidar as faturas”, completou.

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O ministro britânico dos Transportes, Chris Grayling, defensor do Brexit, disse que o Reino Unido “não quer sair da maneira errada” da UE e relativizou os valores: “De qualquer maneira, estamos pagando a cada ano 10 bilhões de libras anuais líquidas à UE”.

– Irlanda do Norte e expatriados –

Ainda faltam, no entanto, acordos em duas áreas delicadas de discussão, consideradas essenciais pela UE: os direitos dos expatriados após o Brexit e o futuro da fronteira irlandesa, a única terrestre entre o Reino Unido – concretamente com sua província da Irlanda do Norte – e a UE (com a Irlanda).

“O acordo sobre o dinheiro já foi”, garantiu uma fonte da negociação ao Telegraph.

Na questão dos expatriados, um dos pontos de polêmica é saber se os 3,2 milhões de europeus que moram na Grã-Bretanha terão direito de apelação no Tribunal Europeu de Justiça, ou se estarão sujeitos apenas à jurisdição britânica, como Londres deseja.

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“Agora, falta apenas o assunto do tribunal e da Irlanda do Norte antes do Conselho europeu de dezembro”, indicou a fonte.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, tinha oferecido cobrir as contribuições de seu país ao orçamento europeu de 2019 e 2020, o que significaria 20 bilhões de euros.

A cifra foi duplicada em uma reunião ministerial em Londres na semana passada.

Um porta-voz do Departamento britânico encarregado do Brexit se limitou a indicar que “conversas intensas” prosseguiam nesta semana em Bruxelas.

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* AFP