Apesar das pressões, o regime sírio não cedeu, nesta segunda-feira, durante as negociações indiretas entre o governo e a oposição em Genebra, negando-se a discutir a saída do presidente Bashar Al-Assad do poder.
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A saída do chefe de Estado “está fora de discussão”, disse à imprensa o negociador do governo sírio, Bashar Al-Jaafari, após se reunir com o delegado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
Para Al-Jaafari, a transição política e o futuro de Assad são “dois temas diferentes”. “O presidente não tem nada a ver (…) com as negociações”. Este tema do chefe de Estado “já está excluído”.
Pressionado pela ONU para mostrar suas cartas, o regime sírio iniciou nesta segunda-feira, em Genebra, uma segunda semana de discussões indiretas com uma oposição bem determinada a levantar os assuntos delicados, como o destino de Al-Assad.
“Mãe de todas as batalhas”
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Em cinco anos, mais de 270.000 pessoas morreram e milhares foram forçadas ao êxodo por um conflito que se internacionalizou pouco a pouco e no qual a Rússia, aliada do regime de Damasco, adquiriu um peso cada vez mais determinante.
O anúncio surpresa, há uma semana, da retirada de grande parte das tropas russas da Síria, foi encarado como um sinal dirigido ao regime para que participe seriamente das discussões de Genebra.
Estas negociações buscam instaurar um órgão de transição em seis meses. Este seria o encarregado de elaborar uma nova Constituição e organizar eleições em menos de 18 meses.
A interpretação sobre a natureza deste órgão de transição é a “mãe de todas as batalhas”, segundo o emissário da ONU, consciente de que as tentativas de negociação anteriores se chocaram neste ponto.
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Para o regime pode se tratar apenas de um governo ampliado a alguns ministros de oposição, mas sempre dirigido por Bashar al-Assad. A oposição pede um órgão que tenha plenos poderes e no qual o presidente Assad não tenha nenhum papel.
Na sexta-feira, Staffan de Mistura lamentou que os negociadores de Damasco não tivessem nenhuma proposta concreta durante a primeira semana de trabalho, e os convidou a fornecer um plano “detalhado da maneira como planejam a transição política”.
“Mistura não tem o direito de pressionar ninguém. É o mediador nas discussões e não deve tomar partido por ninguém”, respondeu uma fonte próxima ao regime.
Negociadores e candidatos
A oposição, elogiada por Staffan de Mistura por suas propostas substanciais, parecia disposta a continuar seus esforços com a chegada prevista para esta segunda-feira em Genebra de seu coordenador, Riab Hijab.
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Mas para ela o regime busca “fugir de suas responsabilidades” e tenta jogar com o tempo.
Algumas divergências apareceram durante o fim de semana sobre como o programa das discussões vai seguir.
Staffan de Mistura havia previsto inicialmente que esta rodada acabasse na noite de quinta-feira e que uma segunda rodada fosse realizada depois de dez dias sem pausa, ou seja, uma retomada por volta de 4 de abril.
O regime, que organiza eleições parlamentares em 13 de abril, deseja esperar esta data para reiniciar o diálogo, já que “cinco membros da delegação são candidatos a estas eleições”, segundo uma fonte próxima ao regime.
No front, as forças leais ao regime sofreram sérios revezes em sua tentativa de recuperar a cidade antiga de Palmira (centro) das mãos do grupo Estado Islâmico, com a perda de 26 combatentes a quatro quilômetros da “pérola do deserto sírio”.
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Uma trégua, que entrou em vigor no dia 27 de fevereiro, tornou possível a retomada das negociações de Genebra depois de uma primeira rodada frustrada no início do ano.
Mas o cessar-fogo, apoiado por Estados Unidos e Rússia, não se aplica aos grupos jihadistas.
Nesta segunda-feira, as tensões surgiram entre as duas potências, já que o exército russo acusou o exército americano de não querer abordar o assunto do cessar-fogo.
Um encontro em Moscou, previsto para esta semana entre os chefes das diplomacias americana, John Kerry, russo Serguei Lavrov, e o presidente Vladimir Putin, pode diminuir as tensões.
bur-chp/alc/ma/lr