As autoridades separatistas da Crimeia adotaram nesta terça-feira uma declaração de independência da Ucrânia, etapa prévia ao referendo de domingo para permitir a anexação do território à Rússia, enquanto o diálogo entre americanos e russos não avança e reduz as chances de uma saída da crise.
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Ao mesmo tempo, o chefe de Estado destituído da Ucrânia Viktor Yanukovych, refugiado na Rússia desde a sua queda em fevereiro após três meses de uma contestação pró-Ocidental que terminou com uma centena de mortos em Kiev, afirmou que continua sendo o “presidente legítimo” do país.
No Parlamento regional da Crimeia, península autônoma de língua russa controlada há mais de duas semanas por tropas russas, “a declaração de independência (…) foi aprovada por 78 dos 81 deputados presentes”, segundo um comunicado do Parlamento.
A iniciativa do Parlamento, declarado ilegal pelo novo governo de Kiev, parece destinada a criar um marco legal para uma união à Rússia como Estado soberano. A declaração cita a separação de Kosovo da Sérvia e acrescenta que “a declaração unilateral de independência de uma parte de um Estado não representa nenhuma violação das leis internacionais”.
“A República da Crimeia será um Estado democrático, laico e multinacional, que estará comprometido com a paz e o intendimento interétnico e interreligioso em seu território”, indica a declaração.
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O referendo previsto para o próximo domingo definirá a adesão da Crimeia à Rússia. Em seguida, a península “se dirigirá à Federação da Rússia para ser admitida com base em um acordo intergovernamental adequado como novo membro da Federação”.
Esta iniciativa acontece no momento em que as forças russas controlam todos os pontos estratégicos da península ucraniana. Tudo foi organizado para uma secessão rápida da península: o “primeiro-ministro” Serguei Axionov se auto-proclamou “chefe dos Exércitos” e os 2 milhões de habitantes da Crimeia, em sua maioria de língua russa, viram os canais de televisão russos substituírem os canais ucranianos em seus televisores.
Homens em uniformes vasculham qualquer viajante que chega em Simferopol vindo do Norte e apenas voos de Moscou podem pousar.
Yanukovych espera retornar
Do outro lado do mar de Azov, em Rostov, sul da Rússia, o ex-presidente Yanukovych apareceu pela segunda vez diante das câmeras. Apresentando-se como o único presidente “legítimo” da Ucrânia ele, no entanto, pareceu em desacordo com o Kremlin ao lamentar a secessão da Crimeia da Ucrânia.
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– Quando as circunstâncias permitirem – e tenho certeza de que não será necessário esperar muito -, retornarei sem dúvida alguma a Kiev. Eu me dirijo à comunidade internacional: ninguém tem o direito de apoiar um golpe de Estado – afirmou Yanukovych, que chamou o novo governo pró-Ocidente de “bando” composto por “ultranacionalistas e neofascistas”.
– O país vai se recuperar e encontrar sua unidade – acrescentou, enquanto a Rússia parece apoiar a perspectiva de divisão do país e declarou que Yanukovych não tem mais futuro político.
Na véspera de uma viagem a Washington do primeiro-ministro ucraniano interino Arseni Yatseniuk, que buscará o apoio de Barack Obama a cinco dias do referendo na Crimeia, a incompreensão é total entre russos e ocidentais. O primeiro-ministro britânico David Cameron advertiu que haveria “sanções duras se Moscou não mudar de rumo”. O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, lançou a ameaça de novas sanções “esta semana”.
Mas, no geral, o diálogo de surdos que sucedeu a intensa atividade diplomática na semana passada não sugeriu uma possível resolução para a crise. Washington acusa Moscou de ignorar as propostas sobre a mesa para tirar a Ucrânia da rise. Em contrapartida, Moscou prometeu contra-propostas, dizendo que não está satisfeito com a mudança de poder em Kiev.
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Sinal da tensão extrema entre russos e americanos, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, desistiu de uma reunião programada com seu colega russo Sergei Lavrov.
Kerry “afirmou claramente que aceitaria debates centrados na desescalada da crise na Ucrânia se e somente se víssemos evidências concretas de que a Rússia está pronta para discutir estas propostas”, declarou o Departamento de Estado.