Bem no começo da Velha Grande, uma discreta rua de barro esconde uma utilidade que quase virou um segredo de uns tempos para cá: ligar dois bairros que parecem tão distantes, mas que, no fim das contas, estão separados apenas por uma via com quase seis quilômetros de extensão. A plaquinha maltratada pelo tempo com a inscrição “Acesso Garcia” até está lá, é verdade, mas se tornou apenas uma decoração de poste depois que a rua foi interditada após a tragédia de 2008. Sair da região Leste de Blumenau e se deslocar para o Sul? Só passando pelo Centro. Esqueça o projeto quase faraônico da ligação Velha-Garcia enquanto uma grande obra de mobilidade, porque é a Rua Willy Henkels, transversal da Bruno Ruediger, a pivô de uma discussão entre os poderes em Blumenau.
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Fechada há quase nove anos por conta de deslizamentos e instabilidade do solo, a atual ligação entre os bairros Velha Grande e Valparaíso se tornou inútil. Alguns ciclistas ou cidadãos mais aventureiros até arriscam a travessia a pé ou de bike eventualmente no local, mas nada além. Isso motivou a Câmara de Vereadores de Blumenau a reacender a discussão sobre a recuperação da via para abri-la de forma paliativa, fazendo com que a ela tivesse a mesma utilidade de quase uma década atrás – sem necessariamente sepultar qualquer possibilidade de uma obra de grande porte no local. Mas o debate é quente: enquanto alguns parlamentares creem que com um pequeno montante de recursos (em torno de R$ 150 mil) seja possível restaurar a rua, outros aliados ao governo defendem que não é bem assim.
Integrante da bancada dos que acreditam que há mais empecilhos do que benefícios nesse momento na arcaica ligação dos bairros, o vereador Sylvio Zimmermann (PSDB) – líder do governo na Câmara -, aponta situações para repensar a obra: risco e utilidade.
— Tem que ter paciência e prudência em uma discussão dessas. E se faz algo lá, dá uma chuva e perde todo o investimento, a culpa será de quem? Vai desafogar o Centro? Não. Fazer algo paliativo que vai durar até a próxima chuva e não resolver o trânsito não muda nada — aponta Zimmermann.
Do outro lado, o vereador Alexandre Caminha (Pros) fala que é possível recuperar a via para que ela seja uma nova opção à mobilidade urbana no município. Na opinião do parlamentar, basta boa vontade política para articular com o Executivo e secretarias responsáveis o andamento de projeto e execução.
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— Embora ela esteja naquela situação, está semelhante ao que temos por exemplo na Nova Rússia. Já passei por lá anos atrás e é possível fazer em oito minutos um trajeto que hoje em dia pode levar até 40 minutos. Estive no local e não vi aquilo que se falava no passado. A via está trafegável. Não podemos criar um monstro em cima de algo que é possível acontecer — argumenta Caminha.
Empecilhos e falta de recursos complicam obra
Tecnicamente falando, a situação tem mais obstáculos literalmente do que apenas ¿soluções paliativas¿, afirma o diretor de Geologia da prefeitura de Blumenau, Jean Carlos Naumann. Ele sustenta que há pelo menos uma dezena de problemas ao longo dos quase seis quilômetros de extensão da via, o que acarreta mão de obra e, como consequência, mais recursos — algo entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Trechos onde não é possível passar com carros, partes em que a calha do ribeirão invadiu a pista, deslizamentos e instabilidade de encostas são alguns dos pontos enumerados por Naumann.
— São pelo menos 10 lugares que exigem obras de contenção. Do início ao fim da via, com exceção de uma parte da Velha onde há manutenção, o restante todo tem que receber pavimentação primária, macadame e patrolagem. Tem que reconstituir toda a extensão com drenagem pluvial. Não é algo simples, como muita gente prega – argumenta o diretor de Geologia.
O professor de Geologia da Furb, Maurício Pozzobom, evita entrar na discussão política da história, mas destaca que fazer qualquer recuperação em caráter paliativo no local não é recomendado pelo fato de a área ser considerada delicada:
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— Requer rigor técnico maior e isso também reflete no custo da obra — pontua.