Com seu projeto de referendo, o presidente do Curdistão iraquiano, Massoud Barzani, iniciou uma batalha com Bagdá com a intenção – segundo seus partidários – de declarar um Estado, mas os críticos afirmam que, na realidade, o que ele pretende é permanecer no poder.
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No afã de ser considerado o grande líder de sua comunidade, o curdo de 71 anos, sempre vestido com indumentária tradicional, não hesitou em seguir contra a corrente da classe política.
Com a aproximação do referendo, repetiu sem parar que, frente a “um Estado religioso e confessional”, “não tinha outra opção” a não ser o separatismo para preservar os direitos dos curdos, duramente reprimidos no governo Saddam Hussein, derrubado em 2003 durante a invasão americana do Iraque.
Sem a aprovação de Bagdá, “tivemos que organizar este referendo”, lamentou o primeiro – e único até hoje – presidente curdo, filho do líder histórico dos curdos, Mustafa Barzani, e dirigente do Partido Democrático do Curdistão (PDK) desde a morte de seu pai, em 1979.
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Eleito em 2005 por votação indireta, Barzani foi confirmado no cargo em 2009, para um mandato de quatro anos, após obter quase 70% dos votos na primeira eleição por sufrágio universal da região.
Quando o período expirou, o Parlamento prorrogou sua presidência por mais dois anos. E, depois, com o avanço fulgurante dos extremistas em 2014, Barzani permaneceu no poder.
Atualmente, os críticos acusam-no de usar o referendo para tentar permanecer no poder. Para os curdos, um Estado independente entre Iraque, Irã, Síria e Turquia é um sonho desejado. Mesmo assim, muitos consideram que o calendário escolhido para a votação sobre a independência não é adequado.
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A data foi determinada “de maneira intencional”, destaca a pesquisadora Denise Natali, do Instituto de Estudos Nacionais Estratégicos (INSS, na sigla em inglês). O referendo coincidirá com um momento em que “Massoud Barzani enfrenta importantes crises internas e precisa de aval para seu status de líder nacionalista”.
“De todos os lados, pedem que organize eleições à presidência da autoridade autônoma e, sobretudo, que não se candidate”, afirma Karim Pakzad, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
A divisão provocada pelo referendo entre Erbil, reduto pró-Barzani, e Suleimaniya, província vizinha onde seus rivais são mais fortes, ilustra uma brecha que, durante algum tempo, foi deixada de lado para priorizar a luta contra os extremistas.
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As divisões impediram uma reunião do Parlamento nos últimos dois anos. Com sua campanha “Não ao referendo”, os opositores da União Patriótica do Curdistão (UPK), do ex-presidente iraquiano Jalal Talabani, de Goran e da Jamaa Islamiya mostraram sua força.
A consulta “pode desbloquear a crise política interna no Curdistão, ou ao menos beneficiar Massoud Barzani frente aos opositores”, acrescenta Pakzad, em entrevista à AFP.
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* AFP