Foi um reencontro tímido. Numa sala cheia de pais, avós e brinquedos, a menina já chegou serelepe, mas levou um tempo até que o menino também se entusiasmasse. Depois, a pequena dupla ficou à vontade para fazer o que melhor sabe: brincar para valer.

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Não era um casal de amiguinhos qualquer: tratam-se de Marina e Bernardo, os dois pimpolhos que mexeram com a imaginação de todos os que leram o relato reproduzido na semana passada na coluna Nave Mãe, do caderno Meu Filho.

Mãe de Bernardo, de 1 ano e 8 meses, Ana Celina Garcia Albornoz recorreu à colunista Tanise Dvoskin, de ZH, para tentar encontrar Marina, com quem o filho tivera um breve encontro na rua no mês de fevereiro e a quem, desde então, não deixara mais de mencionar. Como o menino passou quase um mês chamando pela amiguinha que havia visto apenas uma vez, a mãe decidiu ir em busca de uma resposta.

Do outro lado da história, Denise Schmitz Hirt chegou para trabalhar na última segunda-feira e foi recebida pela curiosa pergunta de uma colega de trabalho:

– Não é a tua Marina a que estão procurando?

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Mesmo após ler a coluna, ela ainda não tinha certeza. Mas, aos poucos, foi lembrando da tarde em que sua filha, de 1 ano e 7 meses, conhecera numa rua do bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, um menino de nome Bernardo. Pensando que era tudo muita coincidência, a mãe da Marina resolveu também entrar em contato com a colunista. E-mail pra cá, e-mail pra lá e bingo: Marina e Bernardo haviam mesmo se achado. Depois de ganhar a simpatia de toda uma corrente que se formou no blog da coluna Nave Mãe torcendo pelo reencontro, a dupla ficou novamente cara a cara na manhã da última quinta-feira, na sala da casa do Bernardo.

Para a psicóloga clínica e consultora em educação infantil Daniela Dal Bó Noschang, diversos fatores podem ter levado Bernardo a repetir tantas vezes o nome da menina que ele vira apenas uma vez.

– Até por volta dos 3 anos, a repetição é uma das formas com que a criança absorve o mundo. Nesse contexto, e em pleno processo de aquisição de linguagem, pode ter ajudado a própria sonoridade do nome Marina – bem parecida com a do nome da mãe, Celina. Como nessa idade o processo de troca com o outro é ainda inicial, o espaço que a família dá aos acontecimentos também influencia muito a reação da própria criança – exemplifica Daniela.

Incentivados pelos adultos, os dois pequenos divertiram-se repetindo um o nome do outro e aprontando das suas: enquanto Marina queria explorar os brinquedos do amigo, ele mostrava as fotos de família nos álbuns que adora folhear. Depois de muitas brincadeiras e risadas, foi a hora da despedida. Desta vez, já com a promessa e a certeza de um novo encontro no horizonte.

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Repetir é conhecer

:: Até os três anos, tudo é novidade no mundo infantil.Para absorver coisas diferentes, uma das principais aliadas é a repetição.

:: As crianças estão em um processo de aquisição e de assimilação das situações. Passam a usar a linguagem com mais propriedade, e as vontades são mais difíceis de serem controladas, pois elas estão experimentando a forma de fazer os pedidos e, muitas vezes, testando pais ou familiares.

:: Quando o pequeno sabe qual a próxima fala do personagem de uma história, por exemplo, ele exercita a antecipação de um movimento esperado para ter um controle maior sobre o que acontece a sua volta.

:: A segurança por meio de repetições depende da criança: aqui entra a maneira como a família reage, o retorno e o espaço que os adultos dão às atitudes dos pequenos.

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:: Aos poucos, sempre usando de bom senso e respeitando a singularidade de cada um, cabe aos pais oferecerem gradualmente coisas novas para estimular e seguir abrindo os horizontes do filho.

:: Fique atento ao que o seu filho está dizendo, e não ao que você acha que ele está dizendo. No momento em que os filtros estão sendo construídos, manter esse olhar ajuda a passar tranquilidade para que lidem com as frustrações.

Fonte: psicólogas Alice Abreu e Daniela Dal Bó Noschang