Passo a passo, entre as plantações de cebolinha-verde e repolho, amparada pela bengala na mão direita e com um regador na esquerda, Irmã Córdula Butzke persiste, aos 83 anos, nas tarefas que lhe acompanham a vida toda.

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Embaixo do chapéu de palha e do tecido negro que deixa à mostra parte dos cabelos brancos, as marcas no rosto descrevem a história da menina que iniciou o trabalho na roça aos sete anos.

>>Confira imagens da vida de mulheres que escolheram se dedicar à fé

Apaixonada pela agricultura e pela vida religiosa, na Congregação das Irmãs da Divina Providência encontrou a verdadeira vocação. Cuidou de três chácaras e há 26 anos reside na silenciosa Comunidade São José, no Bairro Fidélis, em Blumenau. Apesar do amor às escolhas feitas ainda adolescente, Córdula lamenta a solidão de quem vê a profissão virar raridade:

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_ Somos em apenas quatro irmãs aqui, sendo que a mais nova está com 78 anos. Cuidamos da cozinha, capela, plantação, mas estamos tendo que ter a ajuda de leigos para as tarefas, pois não há mais jovens nesta vocação.

Irmã Córdula é uma das 24 mil mulheres brasileiras que entregam a vida à religião, abdicando do convívio familiar e da possibilidade de constituir sua prole. Nos últimos oito anos, porém, a Conferência dos Religiosos do Brasil observou redução de 6 mil pessoas no exército feminino da fé.

Conforme o Censo Anual da Igreja Católica no Brasil, em 1971 eram 39 mil religiosas. Nas contas de 2010, eram 33 mil. Os números divergem conforme a fonte, mas a tendência é a mesma: são cada vez mais raras as mulheres dispostas a dedicar a existência à religião.

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Exceções, sempre há. Aos 25 anos, Irmã Pascalis Alves dos Reis diz ter sentido o chamado para a vocação aos 10 anos, quando ainda respondia pelo nome de batismo, Natália. Natural de Maracanaú (CE), aos 18 anos desistiu do vestibular para Jornalismo e integrou-se à Congregação das Irmãs de Santa Elizabete, em Fortaleza.

Hoje, cursa a formação inicial, etapa que antecede os votos perpétuos (confira na tabela da página 19 as etapas da formação), mora em Blumenau há um ano e atua no setor administrativo de uma casa de repouso, no Bairro da Glória, onde estão 77 idosos e outras seis freiras.

_ É como se a gente saísse do mundo, mas pertencesse a ele. A vida religiosa é dedicação, é amor. Simplesmente se doa, se lança de olhos fechados sem saber para onde vai e deixa o espírito de Deus nos guiar.

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>> Na edição impressa do Santa deste final de semana você descobre quais os motivos que levaram Irmã Pascalis à vida religiosa e confere entrevista com Irmã Márian Ambrosio, presidente Nacional da Conferência dos Religiosos do Brasil.