Quando os grandes volumes de chuva passam a ameaçar a rotina das pessoas que vivem no Vale do Itajaí, não é exatamente para o céu que moradores, imprensa, lideranças políticas e órgãos de defesa do cidadão olham. As atenções se voltam para os mecanismos de monitoramento do Rio Itajaí-Açu.

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Um dos sistemas mais recorrido é o do Centro de Operações do Sistema de Alerta, conhecido pela sigla como Ceops, da Universidade Regional de Blumenau (Furb), que monitora em tempo real, 24 horas por dia, a situação da bacia dos rios Itajaí-Açu e Itajaí Mirim. Desta vez, o alerta que vem centro é mais silencioso e revela a falta de manutenção e a precariedade do sistema.

De acordo com a coordenação do Ceops, das 17 unidades que compõe a rede de monitoramento, apenas dez estão funcionando. Destas em operação, sete já estão com o tempo de validade esgotando e precisam de reposição dos equipamentos com urgência.

Cada unidade de monitoramento é composta por dois medidores, um de chuva e outro do nível do rio, uma bateria automotiva para alimentação dos equipamentos, um modem de internet para transmissão de dados e um sistema de processamento de dados, que é a principal peça da estação, chamado de Datalogger.

A rede do Ceops possui unidades que monitoram o Rio Itajaí-Açu em Gaspar, Blumenau, Indaial, Timbó, Rio dos Cedros, Benedito Novo, Apiúna, Ibirama, Rio do Sul, Taió, Pouso Redondo, Rio do Oeste, Ituporanga e Alfredo Wagner. Além disso, outras três monitoram os números do Itajaí Mirim em Brusque, Botuverá e Vidal Ramos.

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Ainda segundo a coordenação, as estações de Gaspar, Indaial, Rio do Cedros, Rio do Sul, Pouso Redondo, Alfredo Wagner e Botuverá estão sem o Datalogger, que custa cerca de R$ 11 mil. A vida útil deste equipamento é de cerca de 10 anos. A última reposição dos softwares foi em 2009 e agora eles estariam apresentando problemas de medição, como a alteração de dados e até mesmo parando de funcionar. A situação acontece nas cidades de Timbó, Benedito Novo, Rio do Oeste, Ituporanga, Taió, Vidal Ramos e Brusque.

Apenas as cidades de Blumenau, Apiúna e Ibirama possuem Dataloggers novos, trocados no ano passado, depois que o Ceops conseguiu recursos de R$ 76 mil através de um convênio, que terminou em 2018, com a extinta Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Blumenau.

Talita Catie
(Foto: Talita Catie )

Para o técnico hidrometrista do Ceops, Mario Cesar de Olivera, os equipamentos que estão quase vencendo a vida útil podem alterar dados importantes e gerar alertas falsos.

– A estação de Vidal Ramos apresentou uma informação alterada que o nível do rio estava em dois metros a mais do que o normal. Um colega acabou me ligando preocupado, pois se a informação fosse verdade, iria causar estragos em Brusque. Depois de um logo tempo de averiguação, acabamos descobrindo que a estação estava com o marcador alterado – revela o técnico.

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Para o coordenador do Ceops, Dirceu Severo, os investimentos para que toda a rede funcione perfeitamente são de aproximadamente R$ 200 mil.

Coordenador do Ceops diz que a universidade não tem condições de arcar com os custos

– Só para a compra dos processadores, teríamos que buscar cerca de R$ 140 mil, além disso, teríamos os custos de baterias, cabos e sensores. Sem contar a manutenção dos abrigos, com pinturas e reparos na estrutura. Se por acaso esse serviço de monitoramento deixar de existir, nós estaríamos regredindo na questão da prevenção das cheias na nossa região – afirma Severo.

O coordenador do Centro de Operações do Sistema de Alerta (Ceops), Dirceu Severo, aponta que atualmente a Furb não possui condições de arcar com os custos para colocar o sistema em pleno funcionamento e que a universidade faz apenas as manutenções preventivas como pinturas, por conta de depredações de vândalos e do tempo, além de roçadas.

Severo afirma também que quando o sistema foi criado em um convênio com o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica, em 1984, o contrato garantia a universidade manter apenas a operação do projeto, e que o órgão é quem deveria fazer as manutenções. Porém, o departamento foi extinto. Ainda não há nenhuma previsão de vinda de recursos para o restauro das estações. De acordo com Severo, em 2018, um projeto pedindo a verba foi inscrito em um edital do Ministério da Justiça, mas que não foi atendido.

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O secretário municipal de Defesa do Cidadão de Blumenau, Carlos Olímpio Menestrina, indicou que uma reunião entre o Ceops e a pasta para tratar do assunto está agendada para a segunda quinzena de julho, mês que inclusive é dedicado a prevenção de desastres naturais.

– Vamos nos reunir e decidir alguns pontos em que a Defesa Civil de Blumenau possa ajudar com o que tiver no nosso alcance para amenizar a situação. O que depender de mim, o serviço do Ceops não vai morrer, porque ele gera dados importantíssimos que alimentam não só Blumenau, como toda a nossa região – afirma o secretário.