Uma das últimas ligações que Luan Barcelos da Silva, 21 anos, recebeu no sábado, antes de ser preso pelo assassinato de seis taxistas, provavelmente foi a do gerente comercial de uma escola de informática da zona norte de Porto Alegre.

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O gerente, que não quis ser identificado para não comprometer a imagem da escola, telefonou para Luan no sábado pela manhã perguntando por que ele ainda não tinha aparecido. O jovem disse que estava com um problema, mas que iria à escola assim que pudesse. Depois, desligou o celular e o gerente só teve notícias de Luan por meio da imprensa.

– Demorei para deglutir, se não pudesse ver a foto, se não tivesse o nome completo, eu não acreditaria – diz o gerente, ainda se perguntando como o rapaz que olhava nos olhos e sorria ao falar, com o sotaque acentuado da fronteira, e parecia tão agradecido pela oportunidade de trabalho tinha sido capaz de matar seis pessoas com tanta frieza.

Foi o assunto do dia nesta segunda-feira. Um funcionário lembrou que tinha levado Luan para almoçar na casa da mãe dele. Parou no caminho para pedir informação a um taxista, que fechou o vidro quando viu o jovem. Será que reconheceu o suspeito? Outra colega lembrou que Luan tinha mais de um celular. Chegou a mexer com ele quando o telefone tocou com som de forró. Ele desconversou, disse que não tinha sido ele quem colocou o toque, que ele tinha ganho o telefone há pouco tempo. Seria um dos aparelhos roubados?

O gerente falou com Zero Hora na noite desta segunda-feira, depois de prestar depoimento à Polícia Civil. Confira a entrevista.

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ZH – Como Luan foi recrutado?

Gerente – Veio de uma indicação de um funcionário meu que conhecia o trabalho dele por cima, porque ele era corretor de imóveis e comentou que o menino trabalhava bem, fazia muitas vendas. Isso me interessou. Entrevistei ele no fim de março.

ZH – O que ele disse na entrevista de seleção?

Gerente – No momento da entrevista, ele foi muito sincero em dizer que precisava de dinheiro. Não senti nenhum ar de cinismo, ele me pareceu ser muito sincero. Desde a primeira entrevista, ele me disse da necessidade dele de um emprego fixo, porque ele vinha de uma área em que se ganhava durante alguns meses e depois ficava bastante tempo sem receber comissão. Ele disse que queria muito essa oportunidade porque ele estava procurando emprego há bastante tempo. Tudo isso veio a dar crédito em cima do que ele me falou. Então, propus a ele uma experiência de uma semana para que eu pudesse acompanhá-lo, que foi de segunda a sexta-feira, na semana passada.

ZH – Como foi esse período de experiência?

Gerente – Ele teve acesso a todos os proprietários da empresa, todos os funcionários, ele encantou a todos, inclusive recebeu elogios de pessoas que conviveram com ele, de que ele era muito proativo, de que eu ia contratar um bom funcionário. Ele estava o tempo inteiro fazendo piada, sempre brincando. Para falar contigo, ele pedia com licença, muito obrigado, por favor, cheio de formalidades. Em momento algum ele transpareceu alguma coisa negativa aqui dentro. É um caso que realmente intriga. Ele tinha todas as chances de se dar bem na área comercial. Era desenvolto, brincalhão, conquistava as pessoas. Desde o princípio, ele sempre pareceu muito interessado. Um rapaz sinceramente acima de qualquer suspeita.

ZH – Ele trabalhou na semana passada como se nada tivesse acontecido…

Gerente – Em nenhum momento nessa uma semana de convivência ele se mostrou ansioso, pensativo, inseguro, ele simplesmente agiu como se nada houvesse acontecido. E se não houvesse essa questão da prisão, ele estaria aqui até agora. Não pude reparar nada de estranho na atitude dele. Era um rapaz do interior que veio para cá para vencer na vida, para trabalhar.

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ZH – Como foi a reação dos colegas ao saberem da confissão do Luan?

Gerente – O meu funcionário que indicou ele me ligou no domingo, ficou super chateado. O diretor da empresa me disse: “o guri que estava na minha sala ontem, brincando comigo, faz uma coisa dessas”. Ficaram todos surpresos. O peixe que ele me vendeu foi que era um guri do interior, que precisava trabalhar, e todos compraram esse peixe. Depois dessa, eu fico receoso, até porque eu vou ter que repor essa vaga, e fico pensando: de que forma vou analisar essas pessoas? Como identificar um perfil desses? Recrutei um vendedor, não um assassino.

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