O que poderia clarear a investigação sobre a morte do norte-americano Shane Gaspard, 42 anos, na verdade serviu apenas para levantar ainda mais suspeitas. Realizada na quarta-feira à noite, a reconstituição do caso levou cerca de quatro horas e revelou contradições em cima de contradições.

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Munidos de fita métrica, peritos refizeram o passo a passo das últimas horas do estrangeiro, morto na madrugada de Natal, na Praia Alegre. Durante horas eles reposicionaram testemunhas no lugar onde supostamente estariam antes, durante e após a morte do engenheiro, e fotografaram as cenas.

A reportagem de O Sol Diário não foi autorizada pela família da esposa de Shane a entrar na casa, mas acompanhou a reconstituição do lado de fora. Mais de 20 profissionais, entre policiais e peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP), além de oito testemunhas participaram da simulação.

Com base em fotografias tiradas na noite da morte, as equipes tentaram deixar o cenário o mais parecido possível com o da noite de Natal. O carro do norte-americano foi levado para a garagem da casa onde acontecia a festa e estacionado a uma distância aproximada do portão.

Os peritos só não conseguiram ajustar a iluminação perto da caminhonete. Um poste que não estaria com luz no dia da morte, estava com a lâmpada acesa durante a reconstituição e não foi possível desligá-la. Passadas mais de três horas, quando as últimas testemunhas prestavam seus esclarecimentos, o delegado responsável pelo inquérito não escondeu a frustração.

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– Esperava esclarecer algumas versões durante a reconstituição, mas todas elas se modificaram. Isso só me faz ter ainda mais suspeitas – disse o delegado Rodolfo Farah.

Durante a investigação ficou claro para o delegado que, provavelmente, Shane Gaspard foi assassinado. Mesmo assim, enquanto o caso não for concluído, ele trabalha também com a possibilidade de suicídio, levantada pelas testemunhas.

Um dos aspectos que fez o delegado passar a crer em um homicídio foi o fato de a perícia ter informado que o ferimento causado pela facada matou o norte-americano em menos de três minutos. Sendo assim, ele não teria tempo de se esfaquear e esconder a arma usada embaixo de roupas, dentro da caminhonete, antes de morrer.

De todo modo, os laudos conclusivos do IGP não foram entregues à polícia. O delegado não soube informar quando eles devem ser finalizados, mas acredita que todos chegarão ao mesmo tempo.

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Prorrogação no inquérito

Em função de todas as divergências no que dizem as testemunhas, o delegado adiantou que deve pedir uma nova prorrogação para a conclusão do inquérito. Essa será a segunda extensão pedida por Farah e com isso, o prazo para conclusão passará a 90 dias.

– Não pretendo usar, é mais por garantia – explica.

Todas as testemunhas do caso serão chamadas para depor novamente. Além disso, as fotos feitas durante a reconstituição serão confrontadas com as fotos feitas por Shane na festa de Natal que estão na câmera que a família entregou à polícia.

Viúva não escondeu o cansaço durante a simulação

Entre as testemunhas convocadas, a viúva do norte-americano, Ana Cristina da Silveira Gaspard, 39 anos, era a que aparentava maior cansaço durante a reconstituição. Ela contou aos peritos que estava em pé na calçada, de costas para a casa quando se virou para a garagem e viu o marido ao lado da caminhonete:

– Pensei assim: o que o Shane está fazendo ali? Achei que ele estivesse mexendo em algo no carro porque ele vivia mexendo com essas coisas.

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Somente ao se aproximar ela teria percebido que Shane estava morto. Após as simulações, ela foi interrogada e teve o depoimento gravado pela perícia. Ao ser questionada sobre o comportamento do marido,

Ana Cristina disse que Shane era calmo. Segundo ela, ele a agrediu apenas uma vez com um soco, depois de ter bebido demais. Abalada, ao ser liberada pelos peritos, ela abraçou uma das advogadas.

A filha dela, de 19 anos, participou da encenação antes da mãe. Após ser liberada, a jovem acompanhou o andamento da reconstituição do lado de fora da casa. As advogadas de Ana Cristina informaram que, por enquanto, não vão se manifestar. Elas pretendem aguardar as conclusões a respeito da reconstituição e os laudos periciais.

Conta bancária da vítima foi movimentada três horas após a morte

Entre as informações que chamam a atenção da polícia no inquérito, uma delas foi destacada pelo delegado Rodolfo Farah após a reconstituição. A investigação apurou que três horas depois da morte do norte-americano, a canta bancária dele foi movimentada.

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De acordo com o delegado, foi feita a retirada de uma quantia expressiva. Depois, em depoimento, Ana Cristina informou que usou o dinheiro para contratar uma advogada, conforme a polícia.

A polícia já solicitou ao Departamento de Estado Americano informações sobre as finanças do estrangeiro nos Estados Unidos para verificar se, caso tenha se tratado de homicídio, o crime possa ter sido motivado por dinheiro. Essas informações, porém, ainda não foram repassadas para a delegacia de Balneário Piçarras.