O som dos disparos de metralhadora persiste mesmo depois da morte. São tiros de vingança na execução de um homem acusado de pertencer a uma milícia do governo sírio registrada em vídeo e postada na internet.

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As imagens compõem uma galeria com outros três vídeos que mostram rebeldes sírios jogando corpos do telhado de um edifício e degolando um homem. Com a divulgação na rede, provocaram a indignação de ONGs de direitos humanos e ativistas. Seriam crimes similares aos do regime que tanto combatem.

Ao tomar para si o papel de júri e juiz à medida que conquistam novos territórios, os grupos que combatem o regime de Bashar al-Assad cometem atrocidades que nublam a aura heroica dos combatentes que recebem ajuda internacional de países como Estados Unidos, Grã-Bretanha e membros da Liga Árabe. Para a ONG Human Rights Watch (HRW), pode ser um caso de execução de prisioneiro, algo que se caracteriza como crime de guerra.

O próprio Exército Livre Sírio (ESL), principal grupo armado da oposição, afirmou ontem que matou 65 membros de forças do regime. Os opositores dizem que os mortos são soldados, policiais e integrantes das milícias leais a Al-Assad, as “shabbiha”. Para a HRW, os crimes não são novos: desde o final de março são reportados casos de tortura e sequestro.

Na análise do professor americano de relações internacionais, Walter Russel Mead, quanto mais o conflito se estender, maior será a ruptura do tecido social do país e, portanto, maior será o derramamento de sangue.

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Oposição diz ter derrubado caça

O fato é que os insurgentes estão ganhando poder: também ontem, anunciaram ter abatido um avião de combate MiG 23 no leste do país, o que seria o primeiro ataque bem-sucedido desse tipo desde o início da rebelião há 17 meses. O governo negou, argumentando que o avião sofrera “pane técnica”.

Caso a versão da oposição esteja correta, o tipo de armamento usado suscita a possibilidade de que os países ocidentais e árabes estejam apoiando a causa rebelde com muito mais que palavras. Os EUA têm aumentado o repasse na forma de medicamentos. Já a Grã-Bretanha tem contribuído com equipamentos de comunicação. Embora não seja oficial, é possível que os países da Liga Árabe estejam contribuindo com armamentos.

Os rumos da violência na Síria apontam semelhanças com os crimes cometidos na Líbia, entre eles, a morte do ditador Muamar Kadafi, caçado e morto por opositores. Na Líbia, porém, havia ação militar internacional em curso. O caos na Síria sugere que Al-Assad pode ter o destino de Kadafi, que proclamou guerra aos insurgentes. E perdeu.

Ajuda externa

– Segundo o jornal The Guardian, Estados Unidos, Grã-Bretanha e França tentam estreitar os laços com os grupos de oposição, por temerem que as doações dos Estados do Golfo estejam indo para grupos de extremistas islâmicos.

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– Alguns dos grupos mais organizados – e violentos – são compostos por radicais religiosos sunitas.

– Arábia Saudita e Catar têm apoiado os grupos mais fundamentalistas.

– Na sexta-feira, a Grã-Bretanha anunciou a doação de 5 milhões de libras em auxílio não militar à oposição.

– Na França, o governo de François Hollande é pressionado a intervir diretamente no lado da oposição.

– O Ocidente tem se recusado a fornecer armas aos rebeldes pela falta de controle de onde o armamento pode parar.

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– O maior temor dos países ocidentais é apoiar grupos jihadistas, como caso dos rebeldes afegãos comandados por Osama bin Laden em 1980, entregando armas ao inimigo.