Em meio a um conflito interno que já deixou 70 mil mortos, a Síria terá seu assento na Liga Árabe.
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A representação do país no órgão regional, porém, não será exercida pelo governo, mas pelos rebeldes – que, com esse status de forte simbolismo, demonstram ter crescente reconhecimento internacional.
A Coalizão Nacional, da oposição, obteve oficialmente a prerrogativa de ter o assento já para a cúpula que a liga realizará no próximo dia 2 em Doha. Tudo isso apesar das divergências internas da aliança rebelde. Um dia antes, no domingo, o líder da coalizão, Ahmed Moaz al-Khatib, anunciara sua renúncia. Ontem, porém, em sua página do Facebook, ele disse pretender ir à cúpula para pronunciar um discurso em nome do povo sírio.
Um setor dos rebeldes diz que o grupo será representado por Ghassan Hitto, encarregado de formar governo no dia 18 de março para administrar os territórios sob controle oposicionista. Mas, segundo o representante da coalizão no Qatar, Nizar Haraki, será Khatib que presidirá a delegação síria, de oito membros – entre eles, Hitto. O premier do Qatar, Hamad ben Jasen al-Thani, pediu que Khatib reconsiderasse sua decisão de renunciar.
A imprensa de Damasco criticou a concessão do posto. “A liga entregou o assento roubado da Síria a bandidos”, dizia o jornal As Saura. “Os tambores da traição ressoam em Doha”, concordava a TV oficial Al-Ijbariya.
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A Liga Árabe havia suspendido a participação do regime do presidente Bashar al-Assad em 2011, após o início da revolta popular que se transformou em guerra civil diante da repressão.
E a violência continua, especialmente em cidades como Aleppo. Em Damasco, um civil morreu atingido por morteiro na Praça dos Omíadas, e um chefe do Exército Sírio Livre, o principal integrante da coalizão rebelde, coronel Riad Assad, ficou ferido em atentado no leste do país.
Os disparos têm se intensificado. A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou a evacuação da metade de seus cem empregados estrangeiros no país devido aos crescentes riscos.
CIA teria concedido consultoria
Enquanto a oposição síria ganha assento na Liga Árabe e escancara suas fissuras, o jornal The New York Times publicou ontem que a CIA (Agência Central de Inteligência) ajuda a Arábia Saudita e o Catar a enviar armas para os rebeldes no país. A entrega seria feita por aviões sauditas e catarenses.
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A agência se limitou a dizer que o governo americano repassa apenas ajuda não letal aos insurgentes que combatem há dois anos contra o regime de Bashar al-Assad. Os Estados Unidos também reconhecem a oposição como representante da Síria.
Funcionários americanos disseram ao jornal que a CIA colaborou de forma consultiva com os carregamentos, dizendo aos países do Golfo Pérsico quais armamentos deveriam adquirir e onde poderiam ser comprados. A maioria das armas veio da Croácia, que possui depósitos da época da Guerra da Iugoslávia, nos anos 1990.
Segundo o NYT, os suprimentos militares chegaram ao país em 160 voos de aviões militares feitos entre janeiro de 2012 e o início de março. O armamento entra através das fronteiras com a Jordânia e, em especial, com a Turquia. O principal país fornecedor é o Catar, com 85 voos destinados à base militar de Esenboga, ao lado da capital turca, Ancara. De lá, os carregamentos são enviados por terra até a Síria e recebido por rebeldes nas áreas que foram dominadas pelos insurgentes. Outros 35 carregamentos foram enviados por aeronaves sauditas, enquanto oito vieram da Jordânia. O país, que abriga o maior número de refugiados sírios, também foi o destino de 35 voos cargueiros comerciais da Croácia com armas, compradas pelos catarenses e sauditas aos rebeldes.
Todos os países negaram as acusações e garantiram ter fornecem apenas ajuda de caráter não letal aos opositores sírios.
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