Apesar de Estados Unidos e Rússia terem concordado em patrocinar uma conferência internacional sobre a Síria até o final deste mês, a sorte do principal obstáculo a um entendimento – o ditador Bashar al-Assad – continua indefinida.
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Desde agosto do ano passado, quando as duas potências divulgaram em Genebra um comunicado em apoio a uma transição pacífica e negociada no país, a guerra civil entre partidários de Al-Assad e grupos rebeldes atingiu patamares inéditos de selvageria.
Os dois lados comportaram-se como se participassem de um diálogo de surdos: o ditador chegou a afirmar que não encontrou oposicionistas com quem negociar, e sim apenas terroristas, enquanto a oposição recusou qualquer solução que incluísse a permanência de Al-Assad. Ao mesmo tempo, os EUA somaram-se à pressão pela saída do ditador, enquanto a Rússia vetou por três vezes a condenação do regime no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Na terça-feira, em Moscou, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, reforçaram diante dos jornalistas o compromisso com a busca de um acordo. Uma declaração de Kerry, porém, gerou incerteza quanto a uma possível mudança de postura de parte da Casa Branca.
– É impossível para mim como indivíduo entender como seria possível a Síria ser governada no futuro pelo homem que cometeu as coisas que sabemos terem acontecido. Mas… eu não vou decidir isso hoje à noite, e não vou decidir isso no final – afirmou Kerry, ao lado de Lavrov.
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Em Washington, ao ser confrontado com a afirmação do secretário, o porta-voz da Casa Branca, Jim Carney, afirmou:
– Nossa política não mudou. Al-Assad deve partir, e quanto antes, melhor. Mas isso depende do povo sírio e da oposição na Síria enquanto trabalham nesse processo.
Aliada de Al-Assad, a Rússia teria se comprometido a viabilizar a conferência, que não tem local definido. Moscou reafirmou, porém, que a saída do ditador não deve ser uma condição prévia para as negociações de paz, insistindo ao mesmo tempo que não o estimula a permanecer no poder.
– Chegamos a um acordo de que Rússia e Estados Unidos devem pedir que o governo sírio e os grupos de oposição encontrem uma solução política – declarou Lavrov.
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Por que a solução está longe
Como age cada um dos atores da crise na Síria
Al-Assad: oposição é “terrorista”
Desde o princípio da guerra civil, em março de 2011, o regime de Damasco, que se apoia sobre a minoria religiosa alauíta (um ramo do Islã xiita, corrente muçulmana presente principalmente no Irã, no Iraque e no Líbano) afirma que a oposição é constituída por terroristas ligados à Al-Qaeda. Em dezembro, um dos grupos de oposição, a Frente Al-Nusra, declarou lealdade à Al-Qaeda.
Oposição: nenhum acordo com o regime
Embora dividida, a oposição compartilha a convicção de que não deve abandonar as armas enquanto Al-Assad não tiver deixado o poder. O principal grupo, o Conselho Nacional Sírio, foi reconhecido como o governo sírio legítimo pela França e pela Grã-Bretanha, numa reedição do ocorrido durante a revolução que derrubou Muamar Kadafi na Líbia.
EUA: busca de solução política
O governo Barack Obama levou cinco meses para defender a saída de Al-Assad: só o fez em agosto de 2012. Até o momento, tem se limitado a prover ajuda humanitária aos refugiados sírios, como o novo pacote de US$ 100 milhões anunciado ontem. Apesar da pressão dos republicanos e de parte de seu governo, Obama reluta em intervir na guerra civil e busca comprometer a Rússia com uma solução diplomática.
Rússia: sem empenho contra Al-Assad
A Rússia é aliada de primeira hora de Al-Assad. Os diplomatas russos já disseram publicamente que não se importam com o destino do ditador, mas, na prática, não se esforçam para que as iniciativas diplomáticas vinguem nem condenam o regime.
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Liga Árabe: apoio aos rebeldes
A organização que reúne países árabes rompeu com Al-Assad. Arábia Saudita, Catar e Jordânia fornecem armas e inteligência aos rebeldes.