Quando se fala em narrativas distópicas, muitas vezes encontramos cenários de colapsos governamentais, crises globais e a luta pela sobrevivência de indivíduos em meio ao caos. Em “Artefatos de Sangue”, a escritora Rebeca Luz explora esses elementos com um toque único: a combinação de fantasia científica e um olhar sensível sobre as complexas relações humanas e sociais.
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“Artefatos de Sangue” se passa em um mundo pós-pandêmico, onde uma doença devastadora divide a humanidade em três grupos principais: os sobreviventes comuns, os infectados fatais e os “super-humanos” que desenvolvem habilidades extraordinárias graças ao vírus Cólera Roja. No entanto, essas habilidades também se tornam alvo do governo, que os vê como ferramentas úteis em tempos de guerra.
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Os artefatos de sangue
Um dos pontos centrais do livro são os misteriosos artefatos que dão nome à obra. Em entrevista ao NSC Total, a autora explicou a fundo o que são os artefatos de sangue, que dão nome à obra:
— A pandemia retratada no livro está se alastrando pelo planeta e cientistas, químicos e biólogos estão em busca de uma cura. É então que o grupo de pesquisadores que está desenvolvendo a pesquisa começa a ser perseguido e decide dividir o estudo em quatro partes. Cada fragmento é selado em objetos pessoais desses cientistas, que ao longo da narrativa vão sendo revelados — , explica Rebeca.
Cada um desses objetos contendo uma parte crucial da pesquisa é separado e os pesquisadores deixam pistas para que os seus outros descendentes possam encontrá-los quando for mais seguro. Além dos artefatos com parte dos estudos em busca da cura, há também os enigmas, que também foram divididos em quatro partes, para que cada pessoa que encontre um pedaço se aproxime mais da cura.
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A escolha de Rebeca de transformar objetos comuns em peças fundamentais para a sobrevivência da humanidade adiciona uma camada de mistério à história.
Personagens complexos e suas jornadas
A construção de personagens é um dos pontos altos de “Artefatos de Sangue“. Nore, em particular, é uma protagonista cuja evolução emocional é tão importante quanto os eventos externos da trama. Com uma vida marcada por perdas e traumas, ela é constantemente confrontada pelo dilema de confiar ou não nas pessoas, algo profundamente enraizado em suas experiências de abandono, desde a infância até os momentos ao longo do livro.
Após ser abandonada por amigos e testemunhar a destruição de sua cidade, ela resgata uma criança chamada Penelope, que acaba de perder a mãe.
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— A Nore não ajuda ninguém, ela age assim: tá morrendo? Tchau. Opa! Levou um tiro? Tchau, agora com a Pene não, porque ela se vê e se projeta na criança, que tem a idade que ela tinha quando precisou fugir de casa —, explica a autora.
A proximidade rápida com Pene é muito diferente da que Nore tem com outro personagem, o Daniel. Os olhos dourados — um traço distintivo dos super-humanos — causam desconfiança na jovem. A dinâmica entre os dois explora o conflito interno de Nore, mas também questões mais amplas sobre preconceito e aceitação do que é diferente.
— Ela acha o Daniel muito suspeito, super suspeito, na verdade. Para ela ele está sempre sério, observando demais e não tem uma característica muito humana. E apesar de não dizer isso explicitamente na trama, ela reconhece sinais da mutação do vírus, como o olho dourado, e ela não gosta de ficar perto dele por conta disso —, complementa.
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Além disso, a narrativa destaca a complexidade das relações humanas, como os mal-entendidos que levam à ruptura de amizades e as dificuldades de reconstruir a confiança. Esse tema é abordado especialmente na relação de Nore com sua antiga amiga Chiara, que acreditava que a protagonista havia morrido durante um ataque.
Onde tudo começou
Rebeca começou a escrever “Artefatos de Sangue” quando tinha apenas 11 anos. A ideia nasceu durante suas aulas de escola, especialmente quando estudava sobre temas como DNA, ditadura militar e questões sociais. Inspirada pelas aulas de biologia, ela ficou fascinada com o conceito de mutações genéticas e começou a imaginar um cenário onde a biologia pudesse explicar a magia. Essa conexão entre ciência e fantasia se tornaria um dos pilares do livro.
— Para poder alcançar os jovens leitores, eu quis passar em um contexto fantástico, com os elementos de magia, algo que é verossímil e uma realidade de muitas pessoas. Eu queria que a fantasia fosse feita com sentido científico — , explicou Rebeca.
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— Por isso, criei uma pandemia fictícia que transforma alguns indivíduos em super-humanos, enquanto a maioria da população sofre as consequências letais do vírus —, continua.
Essa visão científica é fundamentada em estudos fictícios conduzidos pelos pesquisadores dentro do enredo, que tenta desvendar os mistérios por trás do vírus e encontrar uma cura.
Por outro lado, o contexto político e social do universo da obra reflete questões reais. A autora se aprofundou em temas como ditaduras, migração forçada e as consequências de conflitos armados. O resultado é um mundo onde a opressão governamental e as guerras são partes intrínsecas da trama.
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— Eu queria que as pessoas pudessem vivenciar, através da história, o que é realmente lutar pela sobrevivência —, disse ela.
Os desafios da publicação e o impacto da pandemia real
Embora o livro tenha sido inicialmente finalizado em 2017, sua publicação só ocorreu anos depois, em 2024, impulsionada pelo contexto da pandemia de COVID-19. A experiência pessoal de Rebeca durante a pandemia, especialmente com a hospitalização de seu pai, influenciou diretamente a reedição da obra.
— A pandemia me ajudou a ver a história com outros olhos. E eu queria transformar a pandemia em algo não tão sofrido para mim e como eu tinha esse livro engavetado, eu decidi voltar a trabalhar nele. Eu fiz uma reedição, porque é preciso ter cuidado de abordar um conteúdo que as pessoas viveram e sentiram na pele a dor. Algumas partes foram suavizadas e então decidi que era hora de publicar —, explica.
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Uma história para jovens e adultos
Apesar de abordar temas densos e complexos, Artefatos de Sangue é acessível a leitores jovens, sem renunciar a profundidade. Rebeca fez questão de que a obra não possuísse conteúdo inadequado para adolescentes, mantendo um equilíbrio entre ação, emoção e reflexão.
— Eu sou cristã e eu quero que outros jovens cristãos leiam o meu livro sem medo. Não é porque não tem cenas eróticas que ele não tenha romance, uma coisa não está necessariamente vinculada a outra. O meu público-alvo é a partir dos 15 anos, porque fala de guerra, de morte, faz alusão à tortura, mas é um conteúdo bem amenizado, que ainda aborda questões que são relevantes, como governo editorial, notícias falsas, armas biológicas —, explica Rebeca.
A autora também aponta que a inclusão de elementos mágicos e fantásticos procura tornar a leitura mais envolvente para jovens leitores, enquanto oferece aos adultos uma experiência rica em camadas interpretativas.
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O futuro da série
O primeiro livro de Artefatos de Sangue é apenas o início de uma saga que promete expandir ainda mais o universo criado por Rebeca. Com uma narrativa que mistura magia, ciência e política, a continuação da série já está sendo escrita pela autora e promete aprofundar ainda mais as questões de ancestralidade e explorar novos desafios para Nore e seus aliados.
Entre os planos, a autora também considera trazer mais elementos de romance, mas sem abrir mão da coerência com o desenvolvimento dos personagens.
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