O juiz da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Flávio Itabaiana Nicolau, marcou para o dia 15 de julho o depoimento da nadadora Rebeca Gusmão, atualmente banida do esporte por doping. A atleta responde pelo crime de falsidade ideológica, pois duas amostras de seus exames nos Jogos Pan-Americanos Rio-2007 apresentaram DNAs diferentes.

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Na segunda-feira, o juiz colheu o depoimento do médico Francisco Radler, coordenador do Ladetec, laboratório responsável pelos exames antidoping no Pan. Segundo Nicolau, o principal ponto a ser esclarecido era porque o número da amostra enviada pelo Ladetec ao laboratório Sonda, que fez a análise de DNA, tinha número diferente do inicial.

– O material da amostra de Rebeca que recebeu outro número era o resto da urina que já havia sido analisada, com resultado negativo para doping. Colocamos então esse resto em um outro pote que estava lacrado e que, por isso, tinha outra numeração, e o enviamos para o Sonda, para que fosse feita a análise do DNA das duas urinas colhidas em dias diferentes – explicou Radler, frisando que o envio das amostras foi feito a pedido do presidente da comissão médica da Organização Desportiva Sul-Americana (Odepa), Eduardo De Rose.

O coordenador do Ladetec também afirmou que a transferência do material de um pote para o outro foi feito na frente do médico uruguaio da Odepa José Veloso Fernandez e dele próprio. Na opinião de Radler, o pedido de Eduardo De Rose para que a urina colhida em dois dias diferentes fosse enviada ao laboratório Sonda para a realização de exame de DNA deveu-se ao fato de essas duas amostras apresentarem concentrações muito diferentes, o que sugeria que não pertenciam à mesma pessoa.

Radler também contestou algumas informações dadas pela primeira testemunha a depor no processo, a médica Renata Castro, que na época do Pan trabalhou como diretora de controle de doping da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). De acordo com o médico, não é necessária a autorização do atleta para que seja realizado um exame de DNA com a urina fornecida para o exame antidoping. Ele afirmou ainda que o laboratório Sonda, apesar de não ser credenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada), podia ter sido subcontratado para realizar o exame, pois tal atitude está prevista no regulamento da Wada.

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Além de Rebeca, outras testemunhas do processo serão ouvidas nas próximas semanas nas cidades onde residem.

Entenda o caso:

Troféu José Finkel – Rebeca foi acusada de doping no Troféu José Finkel, em maio de 2006, quando sua urina apresentou testosterona exógena. O caso foi julgado pelo CAS no dia 9 de maio de 2008. O órgão considerou-se sem jurisdição para julgar o caso por causa de erros cometidos pela Fina e pela CBDA no processo.

Suspensão – Rebeca foi suspensa preventivamente pela Fina no dia 2 de novembro de 2007 por causa do exame que apontou testosterona exógena, no dia 13 de julho de 2007, data da abertura do Pan do Rio. Por causa da suspensão, ficou fora da Olimpíada de Pequim, no ano passado.

Fraude no Pan do Rio – Rebeca foi a primeira nadadora do Brasil a vencer no Pan (50m livre). Ela também venceu os 100m livre e ajudou os revezamentos 4x100m livre e 4x100m medley a ganharem as medalhas de prata e bronze, respectivamente. Porém, com o surgimento de dois DNAs diferentes nos exames dos dias 12 e 18 de julho, a Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) cassou as medalhas.

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Investigação policial – A fraude no Pan foi investigada pela Delegacia de Repressão aos Crimescontra a Saúde Pública (DRCSP). O delegado Marcos Cipriano encaminhou o relatório ao Ministério Público Estadual (MPE) sem indiciar ninguém. Em janeiro de 2008, o MPE denunciou Rebeca por falsidade ideológica na 27ª Vara Criminal, que está colhendo novos depoimentos. Se condenada, ela pode pegar de um a três anos de prisão.

Rebeca é banida do esporte – No dia 5 de setembro de 2008, Rebeca foi banida do esporte pela Fina.Segundo as regras da entidade, o atleta que é punido duas vezes por doping se torna inelegível pelo resto da vida. Como a Fina considera que Rebeca foi flagrada duas vezes, decidiu pela punição. A atleta aguarda decisão da Corte Arbitral do Esporte (CAS) para saber se poderá voltar a nadar.