Como não poderia ser diferente, o menor reajuste do salário mínimo em 24 anos deixou muita gente indignada. Anunciado no fim de dezembro, o aumento de 1,81% ficou abaixo da inflação da inflação acumulada (2,16%), índice que representa o aumento dos preços de bens e serviços básicos. A situação é ainda pior se for levada em conta a Lei de Diretrizes Orçamentárias do governo federal, que em agosto de 2017 previa o aumento do mínimo para R$ 979 (reajuste de 4,84%). No final das contas, sobrou ao trabalhador e ao aposentado um reajuste de apenas R$ 17, totalizando R$ 954.

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Em Florianópolis, a notícia deixou a população indignada, principalmente porque o reajuste não acompanhou o aumento do custo de vida. Logo na virada do ano, a prefeitura reajustou as passagens de ônibus em 7,39%, subindo de R$ 3,90 para R$ 4,20 no dinheiro. Agora, com os R$ 17 a mais, aqueles que ganham um salário mínimo podem comprar mais quatro passagens de ônibus no mês e uma balinha para chupar no trajeto. Na moradia não foi diferente: a capital catarinense registrou aumento médio de 4,34% no preço do metro quadrado.

— O salário mínimo é um dos mecanismos mais eficientes de distribuição de renda. O Brasil está entre os 10 piores países do mundo em distribuição de renda, o que é um absurdo. Dependendo do comportamento do preço dos alimentos, a tendência agora é abrir mais essa boca do jacaré, que é a diferença entre o salário mínimo real e o mínimo ideal — comenta o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina, José Álvaro Cardoso.

O salário mínimo ideal a que se refere Cardoso é uma estimativa da renda necessária para suprir as necessidades básicas de uma família de quatro pessoas. Ele é feito pelo Dieese e leva em conta os custos de moradia, alimentação, transporte e lazer, entre outras coisas. No último levantamento feito pelo Dieese, em dezembro de 2017, o salário mínimo deveria ser de R$ 3.585,05.

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— Esse aumento de só R$ 17 foi péssimo, uma mixaria. Como a gente vai sobreviver com essa merreca? Ainda dizem que a inflação está baixa, mas o quilo da paleta que antes era menos de R$ 15, agora está R$ 21. E a gente sabe que um quilo de carne não dura nada em família de quatro pessoas — reclama a aposentada Maurina Cardoso, de 63 anos.

Federal influencia o regional

Enquanto alguns Estados seguem o mínimo nacional, outros definem seu piso por legislação própria e, em 2009, Santa Catarina passou a adotar o piso regional. Atualmente, são quatro faixas de salário mínimo, que variam de R$ 1.078 a R$ 1.235, dependendo da área de atuação do trabalhador. Esses valores deverão ser reajustados em março.

Acontece que mesmo com um salário mínimo estadual, o pequeno reajuste do mínimo nacional deve impactar negativamente a população catarinense. Além dos aposentados e pensionistas, que recebem de acordo com o valor estabelecido pelo governo federal, o salário mínimo nacional influencia diretamente os reajustes estaduais.

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— O salário mínimo tem influência no Brasil todo, porque o piso nacional acaba influenciando toda a escala salarial. Se o aumento fosse maior, beneficiaria cerca de 70% dos trabalhadores brasileiros, que estão entre os que ganham um salário mínimo, além de empurrar para cima toda a escala salarial dos que ganham mais que o mínimo — analisa José Álvaro Cardoso.

Em entrevista ao portal G1, o ministro do Planejamento Dyogo Oliveira afirmou que “o governo não podia dar um reajuste maior” e que, “no fundo, é uma notícia boa, porque a inflação foi baixa”.

— Pra quem está desempregado, o aumento (de R$ 17) parece bom. Mas se pensar bem, é pra se enforcar, né? O pior é que com esses R$ 17 só dá para comprar um pedaço pequeno de corda — ironizou Sonia Barbosa da Silva, de 36 anos, auxiliar de serviços gerais que está desempregada há quase um ano.

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FALA, POVO!

É uma vergonha, onde já se viu só isso de aumento? Só dá pra comprar um cafezinho a mais. Ney Rodrigues, 61, auxiliar de serviços gerais

É um absurdo, não dá nem pro pão. Eles ficam roubando e estão no bem bom, enquanto o povo fica pastando. Zulmira Fagundes, 82, aposentada

Aumentou bastante, né? Até dá pra comprar mais um pacote de arroz. João Sebastiano Venâncio, 83, aposentado

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Pra quem está desempregada, o aumento parece bom. Mas se pensar bem, é pra se enforcar, né? O pior é que com esses R$ 17 só dá para comprar um pedaço pequeno de corda. Sonia Barbosa da Silva, 36, auxiliar de serviços gerais, atualmente desempregada

Foi péssimo, uma mixaria. Como a gente vai sobreviver com essa merreca? Deveria ser pelo menos R$ 1.500. Dizem que a inflação está baixa, mas o quilo da paleta, que antes era menos de R$ 15, agora está R$ 21. E um quilo de carne não dura nada em uma família de quatro pessoas. Maurina Cardoso, 63, aposentada

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