Amante inveterado de música, quando indagado por que escreve, o jornalista e escritor Raul Caldas Filho costuma responder: “Porque foi o único instrumento que aprendi a tocar”. Com esta habilidade, faz da escrita o meio de expressão. Começou como redator de rádio em 1962, aos 22 anos e, hoje, com 81, se dedica a mais dois livros: um deles, de memórias pessoais e o outro, de crônicas e textos diversos. Ao longo dos 54 anos no jornalismo e 59 na literatura, teve oportunidades de usar seu peculiar instrumento para a música. Mas muito além disso, expressou e perpetuou a alma de um tempo, de um povo e do ser humano.

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Com a paixão pela música em comum, era adolescente nos anos 1950, quando tornou-se amigo de Luiz Henrique Rosa, que começava a cantar no rádio. O artista seguiu carreira viajando pelo Brasil, e foi para os Estados Unidos. Nos anos 1970, voltou a morar em Florianópolis e Caldas Filho já escrevia para a imprensa. Fizeram algumas parcerias em composições e duas delas foram gravadas: “Jandira” e “Sonhar”.

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Formou-se em Direito, mas foi como jornalista que começou a trabalhar e se dedicou por anos em diversas funções e empresas. As crônicas, contos e reportagens, algumas com grande repercussão, foram publicadas em jornais e revistas de Santa Catarina e nacionais. Esta profissão deu-lhe também a oportunidade de entrevistar grandes músicos e cobrir eventos como o Carnaval carioca e o Festival da Canção, que consagrou o sucesso de Caetano Veloso com “Alegria, Alegria”.

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Nos anos 1966 a 1968, foi repórter da destacada revista Manchete e frequentou os bares da zona Sul do Rio, reduto da bossa nova onde se reuniam Tom Jobim, Vinicius de Moraes e outros artistas, além de intelectuais e jornalistas.

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Em 1980, lançou o primeiro livro, “Delirante Desterro”, que reúne algumas das crônicas, narrativas do cotidiano publicadas nos anos de 1965 a 1979 nos jornais catarinenses. Quatro anos depois, saiu a primeira obra de ficção, “O Jogo Infinito”. Participou de cerca de 20 antologias e publicou no total 15 livros, entre reportagens, entrevistas, ficção, crônicas, contos, textos menores e verbetes. Um trabalho de vasto registro memorialístico, pesquisa e criatividade do jornalista e escritor. 

Uma temática recorrente é a Ilha de Santa Catarina, como em “Oh! Que delícia de Ilha” (1995), com cinco edições esgotadas, e “A Ilha dos Ventos Volúveis” (2011), premiado pela Academia Catarinense de Letras (ACL) em destaque literário no gênero romance. Nasceu em São Francisco do Sul em 1940, mas a família se mudou com ele criança para Florianópolis, onde permaneceu, com exceção de aproximadamente quatro anos morando no Rio de Janeiro. Muitos dos textos resgatam a ilha da infância e juventude, num tempo de histórias, pessoas e personagens marcantes e peculiares.

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O último livro, “Os Ponteiros do Tempo”, com uma novela e quatro contos, foi lançado no ano passado. Pela publicação anterior, “Tudo é e não é”, recebeu prêmio da ACL. 

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– Continuo escrevendo para manter os neurônios ativos – diz ele.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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