Em entrevista via Skype, o comunicador Cesar Wild, da Rádio Atlântida Joinville, conversou com a atriz Itziar Ituño, que interpretou a inspetora Raquel da série La Casa de Papel. Original de uma TV espanhola, a obra foi incorporada pela plataforma Netflix e é um sucesso nos países da América Latina, inclusive no Brasil. Por aqui, a história dos oito criminosos que, orientados por um homem misterioso conhecido como “Professor”, invadem a Casa da Moeda da Espanha, virou assunto nas principais rodas de conversa, fantasia de Carnaval, estampa de camisetas, além de tema de funk e de paródias.

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Nos últimos dias, enquanto o Brasil ainda participava da Copa do Mundo na Rússia, a torcida brasileira usou a canção italiana Bella, Ciao, hino cantado pelos sequestradores de La Casa de Papel, para adaptar a letra a provocações às torcidas da Argentina e da Alemanha.

Natural do País Basco, uma das comunidades autônomas da Espanha, Itiziar tem 44 anos e começou a atuar no início dos anos 2000. Desde então participou de trabalhos em seu país, como a série espanhola Goenkale, em que sua personagem também era uma policial, e no filme Flores, um dos indicados a melhor filme no Goya, considerado o Oscar do cinema espanhol.

Confira a entrevista:

(ATENÇÃO: A entrevista em texto e o vídeo contém spoilers/informações da segunda temporada, inclusive sobre o final da personagem)

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Rádio Atlântida: A série completou um ano de sua estreia. Quando olha para trás e vê todo o caminho que você percorreu até esse grande sucesso mundial, passa um filme na sua cabeça?

Itziar Ituño: Bem, é uma coisa muito inesperada para nós, não esperávamos. Quando a série estreou na Espanha, teve sua trajetória, terminou e teve sua despedida. De repente, com a estreia da Netflix Internacional, veio um tsunami da América Latina, da Argentina, do Brasil, do Uruguai, do Paraguai e da Colômbia… Estamos alucinando ainda. É algo enorme que não esperávamos, é uma alegria muito grande ver que esse trabalho árduo que fizemos — porque foi um trabalho muito árduo — está sendo reconhecido e é muito gratificante.

Qual foi a cena que você mais gostou de gravar? E qual a mais engraçada?

A cena mais bonita e mais difícil de gravar foi quando Raquel descobre quem realmente é Salva (o Professor), quando ela vê aquele fio de cabelo vermelho e dali pra frente tudo o que acontece, quando ela o leva, o amarra, o interroga, tudo isso foi incrível de gravar. Porque emocionalmente era um coquetel de muitos sentimentos e de raiva, decepção, amor, admiração, e foi bastante difícil emocionalmente de gravar. E depois acontece a “cena espelho”, na qual Raquel está na situação do Professor e essa foi a segunda cena mais difícil, mas a mais bonita de gravar porque foi um desafio para uma atriz e um ator. E uma muito engraçada foi quando chegamos no ferro-velho, e eu desci do carro de polícia. Era um carro automático e eu não sei dirigir carro automático! Eu não puxei o freio direito. Fui caminhando para a frente e o carro ia para trás. Foi o mais engraçado!

La Casa de Papel é uma séria muito provocativa, nos faz torcer pelos bandidos enquanto em outras horas nos dá muita pena da inspetora Raquel e a gente torce muito por ela também. Você, na vida real, estaria de que lado?

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Na vida real, Itziar estaria do lado dos sequestradores, porque eles parecem mais interessantes. Mas é verdade que Raquel, como personagem, me interessa muito porque é uma mulher defendendo seu território de trabalho, com uma vida muito complicada e com muita força. Gosto também da personagem porque está do lado da ordem e da lei, mas faz as coisas de uma maneira empática, não é autoritária. É uma psicóloga que quer negociar para que não hajam feridos. Gosto muito dessa parte, mas Itziar estaria do lado dos sequestradores.

Raquel é incrível, ela é forte, ela é decidida, inteligente, e tem um cargo importante na polícia mas tem sua competência posta à prova a toda hora. Você sente que precisa provar sua competência, a qualidade do seu trabalho, além do que os homens precisam?

Eu e a todas, eu acredito. Hoje em dia creio que isso acontece a todas, mas acho que há um despertar nas consciências. Ultimamente nós mulheres estamos tomando muita consciência de que isso não deve ser assim, e de fato estamos saindo às ruas para parar isso, porque somos metade dessa humanidade e nós temos que ter nosso lugar. E não estar sempre com teto de vidro, com salários mais baixos, tentando manter a autoridade para que ninguém a tire. Porque é certo que muitas vezes, quando uma mulher fala, não a escutam igual como escutam um homem. E creio que isso acontece um pouco com todas e claro que eu me incluo também.

No Brasil, a série se tornou viral, um dia acordamos e todos adoravam La Casa de Papel. Como é receber esse carinho dos brasileiros?

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O carinho dos brasileiros é muito apaixonado, é uma explosão. Aqui as pessoas são mais introspectivas, no País Basco as pessoas são mais tímidas, mas, no Brasil as pessoas te dizem, te escrevem com todo seu amor. Eu tenho uma pequena relação com Brasil porque estive no Festival de Cinema do Ceará, em Fortaleza, com um filme chamado Loreak (Flores). Estive no país por cinco dias. Sempre pensei em viajar para o Brasil, mas é um país tão grande que precisa de muito tempo para poder ver tudo. E agora, com essa repercussão toda, não me atrevo a ir sozinha como viajante com minha mochila.

Ficamos sabendo que a inspetora estará na terceira temporada, é verdade isso?

Tudo está um pouco no ar, mas a produção entrou em contato com a maioria dos atores da segunda temporada para ver como iniciar a terceira temporada. Não posso contar muito, mas acho que sim, estarei. Não sei como será a história, que papel farei nessa história ainda, não sabemos muito bem como vai ser, mas sim, estaremos lá.

Mas você poderia nos contar alguma coisinha sobre a terceira temporada?

Pelo que entendi, não acho que a história será no passado, mas, sim, que haverá outro assalto. Mas não sei mais, não posso dizer mais.

Além de uma grande atriz, a gente descobriu que você ama cantar um bom rock e que inclusive gosta de uma banda brasileira chamada Skank. Qual é a sua história com a música?

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Minha história com a música é como todas as pessoas que se movem no mundo da arte, sempre experimentando diversas disciplinas da arte. Eu não toco nenhum instrumento mas toco um pouco de percussão. Eu comecei num grupo de folk basco, ali comecei a tocar um pouco de percussão e depois me fizeram a proposta de cantar, primeiro covers de rock e, hoje, temos nosso próprio grupo que estamos começando, que se chama Ingot, fazemos músicas de rock em euskara, minha língua, do meu país, e estamos escrevendo as letras, ensaiando, e vamos experimentando como vai. É muito divertido e o mais importante é isso, a gente curte muito e, bom, vamos ver o que acontece.

Tem algum outro cantor brasileiro que você gosta?

Gosto muito de bossa nova. Mas lembro uma vez que Carlinhos Brown veio para um show e foi uma festa muito grande, todo mundo saiu nas ruas para dançar porque ele ia num trio elétrico pela rua principal da cidade. Aqui as pessoas não dançam muito, não é como no Brasil, mas as pessoas todas saíram para dançar como Carlinhos Brown, e eu também.

Confira a entrevista em vídeo: