Ainda quando cumpria internação na adolescência, Bebê Gigante garantia que estava regenerado. Na música, pretendia renascer. Formou grupo, lançou CD e gravou clips badalados na Ilha. Dizia ser um rapper inspirado na família e pronto para passar mensagens aos irmãos.
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Na manhã desta quinta-feira, ele foi preso em sua casa suspeito de tráfico de drogas em uma operação que mobilizou 30 policiais da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), a elite da Polícia Civil catarinense.
Jackson Soares Aranha, 26 anos, conhecido como Bebê Gigante, era investigado havia dois meses pela divisão de repressão a entorpecentes da Deic. Morador da comunidade Chico Mendes, na parte Continental de Florianópolis, ele apareceu em denúncias de que estaria comandando um grupo de adolescentes envolvidos com o tráfico. A polícia afirma que estaria ameaçando e expulsando moradores, além de impor regras no local.
Responsável pela investigação, o diretor da Deic, delegado Cláudio Monteiro, pediu mandados de busca e apreensão à Justiça na casa de Bebê Gigante e de outros supostos comparsas. Às 6h, a polícia desencadeou a ação no Monte Cristo para cumprir as ordens. A operação foi denominada de Pastuga porque ocorreu perto da área conhecida como Pasto do Gado.
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A polícia apreendeu uma pistola calibre 380 na casa do rapper. A outra pistola foi apreendida na casa de Saulo José de Athayde, 28 anos. Na residência de Miguel Arcanjo Camargo, 23, a polícia encontrou R$ 3,2 mil em notas de baixo valor e moedas escondidas dentro de objetos. Também foi preso Guilherme Montebeller da Silva, 20.
Com o grupo havia pequena quantidade de maconha. quatro foram autuados em flagrante por tráfico e associação para o tráfico. Ficaram o dia na Deic e seriam transferidos assim que abrissem vagas no sistema prisional.
Segundo a Deic, Bebê Gigante cumpriu medidas socioeducativas quando tinha menos de 18 anos e teria confessado seis homicídios – a sua adolescência teria sido marcada por envolvimento com gangues e delitos.
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Em 2004, quando tinha 18 anos, foi preso pela PM na Chico Mendes com uma pistola 380. A Deic apurou que estaria jurado de morte recentemente por um grupo rival ligado a Fabiano de Jesus, o Colono, morto em 2011 no mesmo bairro. E por isso não estaria mais fazendo shows.
Investigadores disseram que não conseguiram depoimento da suposta atuação criminosa dele por causa do medo da comunidade em incriminá-lo.
Compositor e clipe na praia
Desde 2009, o rapper “MC BB Gigante” e seu grupo lançaram três CDs. Na internet, atribui ao hip-hop o seu renascimento pessoal. O rapper também é compositor. Aborda temas variados e destaca as belezas da capital catarinense. Ele gravou um clipe na praia do Santinho, no Norte da Ilha.
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Bebê Gigante também costuma exaltar a importância da internet na favela. A Chico Mendes, onde mora, é um dos bairros que mais sofrem com a criminalidade na Capital. Nos últimos anos, também mostra-se um lugar esquecido pelo poder público, cujo abandono social foi tema de recente reportagem do Diário Catarinense.
“Denúncias são infundadas”, diz advogado do rapper
O rapper Bebê Gigante nega os crimes apontados pela polícia. O seu advogado, Marcelo Gonzaga, disse que as denúncias contra o seu cliente são infundadas, que ele não é traficante e que nenhum tipo de droga foi encontrado em sua casa.
O defensor disse que a arma apreendida pertence ao preso Guilherme da Silva, que mora em cima da casa de Jackson. “Ele vive da música, está regenerado dos problemas que teve com a Justiça quando era adolescente. A prisão interrompe a sua carreira e o prejudica”, criticou.
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Marcelo entrará nesta sexta-feira com pedido de relaxamento da prisão à Justiça. “Essas denúncias deveriam ter sido melhor averiguadas. Foi algo anônimo, frágil e que impossibilitou a sua defesa”, disparou o advogado.
“Nosso rap é feito com amor, é nossa vida, nossa alma e nossa profissão. Fazemos música com muita dedicação e respeito. Com ideias certas, retas e sem hipocrisia, música para tocar o coração, fortalecer e fazer os mulekes aprenderem o que é respeito, o que é malandragem”, diz o grupo do qual pertence na internet.
O apelido de Bebê Gigante teria ganho ainda quando era adolescente. O motivo, dizem policiais, seria a estatura alta e também porque costumava chorar na presença dos policiais ao ser indagado de crimes.
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