Em fevereiro do ano passado, Elisângela Pires Pommerening, 19 anos, foi diagnosticada com câncer. Passou por duas cirurgias, foi submetida à quimioterapia, prevista para terminar em junho, e, como consequência das sessões, viu os cabelos caírem. Ao mesmo tempo, começou a circular entre os amigos a ideia de também raspar o cabelo, em solidariedade. Mas eles não esperaram o fim do tratamento, como estava previsto – e surpreenderam Elisângela.
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Na sexta-feira passada, seu irmão, Eliseu Pires Júnior, lhe avisou que iriar cortar o cabelo. Até então, ela não havia estranhado nada. Mas começou a ficar desconfiada quando no dia seguinte cinco amigos postaram uma foto no Facebook também com o cabelo raspado. No domingo à noite, concluiu que suas suspeitas tinham mesmo fundamento. Rapazes ligados ao grupo de jovens Arca da Aliança, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, em Indaial, compareceram ao culto com o cabelo mais baixo. E o motivo? Apoiar Elisângela de modo mais radical na luta contra a doença.
– Estávamos com a ideia de fazer isso no fim do tratamento. Mas não aguentamos a ansiedade e fizemos agora – conta Eliseu, um dos primeiros a encarar a proposta. Ele calcula que pelo menos 12 rapazes tenham aderido ao novo corte de cabelo.
Mas, no domingo, o grupo estava defasado. Por isso, resolveram aproveitar o encontro que o grupo realiza às sexta-feiras para se reunir em homenagem a Elisângela. A confraternização ocorreu nesta sexta e, além dos rapazes, mulheres com lenço na cabeça também participaram. Na quinta-feira, Eliseu postou um vídeo na página do grupo no Facebook convidando outras pessoas. Desde então, a mensagem teve quase duas mil visualizações. Inclusive moradores de outras cidades confirmaram presença.
– A atitude deles é inexplicável. Vemos que não existe somente pessoas más no mundo. Há muitas pessoas que me amam e se preocupam comigo – diz Elisângela, cujo tratamento está em fase final, restando 11 sessões de quimioterapia.
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A professora de Psicologia da Univali, Josiane Prado, aprova a iniciativa e diz que o suporte de amigos e familiares contribui bastante para a superação:
– O gesto mostra desprendimento e passa a mensagem: estamos com você, torcendo. É um tratamento longo, por isso o apoio é fundamental.
Depois de lhe ter surgido um nódulo em um dos seios, Elisângela levou seis meses, entre exames e consultas, para descobrir que tinha rabdomiossarcoma embrionário, um câncer de nome complicado que atinge os músculos. O diagnóstico surpreendeu os médicos, já que a doença costuma afetar crianças, e raramente na região dos seios. Feita a descoberta em Blumenau, ela partiu para São Paulo, onde fez novos exames e deu início ao tratamento, o qual está sendo concluído em Florianópolis.
– Quando descobri que estava com câncer em fevereiro, meu casamento já estava marcado para julho. Como não queriam que eu me casasse careca, deram a ideia de antecipar a cerimônia. Em 20 minutos, troquei a data de tudo: vestido, decoração, buffet para 30 de março.
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Uma vez por semana, Elisângela, que hoje mora em Brusque, vai à Capital sempre levada pelo marido, onde, além de combater a doença, conversa com outras pacientes na mesma situação. Seu tom é motivacional: convence-as a sair de casa, dá dicas de beleza e ainda mantém um blog, o quimiovida.blogspot.com.br.
– Consegui mostrar que a vida é maior que qualquer coisa.