A folia está prestes a começar pelas ruas de Florianópolis, um dos principais do Estado. Em dos mais celebrados eventos do Carnaval de rua da Capital, o Berbigão do Boca, a corte que vai liderar a festa tem à frente Marina Telles, 21 anos, e Elizandra Cristina Silva, 26. Elas são rainha e madrinha, respectivamente, do Berbigão do Boca, tradicional que abre as festividades em Floripa. Elas foram eleitas no último dia 30.
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As jovens sambistas concorreram com outras seis candidatas e se destacaram no quesito simpatia, beleza, postura e espírito carnavalesco. Além do título, levaram para casa uma premiação em dinheiro, que será investido nos figurinos para curtir o Carnaval, que para elas é coisa séria.
Em comum as sambistas alimentam o amor pelo samba herdado pela família. Com pai e mãe envolvidos na coordenação da escola Consulado, Marina Telles não teve muita escolha, nasceu e foi criada no samba. Aos cinco anos iniciou no desfile na ala das crianças, foi rainha mirim, passista e destaque de chão. Há três anos se mantêm no posto rainha de bateria da escola que é a atual campeão de Florianópolis.
Conquistar o título de destaque no Berbigão do Boca estava nos sonhos e planos de Marina, que trabalha no comércio, é chefe de loja.
– O sonho da minha vida era ser rainha da minha escola, porque cresci ali. Olhava as meninas Camila Lalau e Marja Nunes, que foram rainhas, e pensava: “Um dia quero ser como elas”. Ser rainha do Berbigão também era um sonho, já que é um bloco tão grande e tradicional da cidade. E ser rainha do Carnaval de Florianópolis para qualquer sambista, posso te garantir, é o auge, é o momento único, é o último degrau. É uma emoção tão grande, que tu pensa: “Meu Deus, um dia quero chegar nesse posto”.
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O caminho é longo e exige empenho, muito mais que somente o samba no pé, afirma a rainha.
– Tem que ter uma preparação diária, o psicológico também precisa estar em dia, além disso é importante que o público se identifique contigo, porque querendo ou não estamos representando os foliões. E tem que ter humildade! Pedi muita ajuda para grandes nomes do Carnaval da cidade. Peguei referência em outras pessoas, além de ver vários vídeos na internet para ficar estudando cada passo, para hoje conseguir essa faixa tão sonhada de rainha do Berbigão do Boca.
A organizadora do concurso, Andreia Zaída, rainha do bloco em 2004,
também destaca a importância da parte emocional.
– É uma responsabilidade coordenar um concurso desse, mexe com o sonho de muitas meninas que vivem do samba, mas também é muito gratificante ver um sonho realizado.
Com samba no pé desde a barriga da mãe
Madrinha da festa no Berbigão do Boca, Elizandra sabe muito bem o que é ter um sonho. Na barriga da mãe já desfilava no Carnaval da Capital. E garante:
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– Não consigo viver sem!
Aos 26 anos, ela atua como copeira e diz que o Carnaval representa alegria, comunicação e a energia do público, que ela espera sentir de perto no desfile da próxima sexta-feira, dia 14.
– Tem que gostar muito do que está fazendo. Tem que ter garra. O Carnaval é algo que não tem explicação – reforçar Elizandra.

O amor pelo samba alimentado pela mãe e pelo pai carnavalesco ela também procura repassar para filha de cinco anos.
– Ela já me acompanha no samba e gosta da festa. Já tá me dando gasto, porque o Carnaval também envolve uma preparação financeira. Cada apresentação é um look diferente, é cabelo, é maquiagem, água – destaca a madrinha do bloco.
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Elizandra garante não se preocupar muito com a preparação do corpo.
– Não sou muito de academia.
Ela precisa de muitas fantasias, pois além de carregar a faixa de madrinha da banda do Berbigão do Boca, ela já coleciona outros títulos.
– Meu primeiro concurso foi no Lira, em 2017, ganhei como passista de ouro. O segundo concurso foi o do Bloco Marisco da Maria, em que fui eleita como 1ª princesa. No Lira, fui convidada para ser cidadã do samba e estou lá há três anos. E agora conquistei esse título como madrinha do Berbigão do Boca.
Patrimônio imaterial
O Berbigão do Boca se concentra e desfila pelas ruas do Centro da Capital sempre na sexta-feira anterior à semana do Carnaval, com o objetivo de lembrar os foliões da chegada dos festejos de Momo. O evento, que arrasta uma multidão anualmente, foi declarado patrimônio imaterial de Florianópolis, em 2011. A festa foi criada na Quarta-feira de Cinzas de 1992 e desfilou pela primeira vez em 1993.
– Estávamos numa mesa em um grupo de sete amigos curtindo a ressaca e o Boca estava inconsolável porque o Carnaval de Recife continuava e nós aqui já tínhamos parado. Mas nessa mesma conversa, já falávamos o quanto o Carnaval de rua estava ruim, já que o desfile das escolas tinha sido transferido para a (passarela) Nego Quirido. Foi aí que sugeri que, ao invés, de estender, deveríamos fazer alguma coisa para motivar o Carnaval – conta Leonardo Garofallis, um dos fundadores e idealizador do nome.
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A denominação tem inspiração no famoso bloco Bacalhau do Batata, que desfila pelas ruas de Olinda na Quarta-feira de Cinzas. Trazendo para cultura mané, o bacalhau se transformou em berbigão. E como a primeira ideia surgiu de Paulo Abraham, o Boca, a festa foi batizada de Berbigão do Boca.
Personalidades
Foi também com inspiração no Carnaval de Olinda que surgiram os primeiros bonecos, em 1995. Anualmente eles homenageiam uma personalidade já falecida da cidade. Neste ano, o destaque será o boneco de Hernani Hulk, Rei Momo da capital catarinense por 33 anos e que morreu em 2019.