O futebol sempre fez parte da vida de Rafael Henzel. Após narrar jogos da Chapecoense por muitos anos, estava acompanhando a delegação do clube rumo à Colômbia quando o avião da LaMia caiu em 29 de novembro de 2016. Ele foi um dos seis sobreviventes, conseguiu se recuperar e voltou a narrar jogos do Verdão do Oeste até esta terça-feira (26), quando teve um infarto enquanto jogava futebol com amigos e morreu.
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Henzel nasceu em 25 de agosto de 1973, mesmo ano de fundação da Chapecoense, na cidade gaúcha de São Leopoldo. Ainda jovem iniciou sua carreira na Rádio Oeste Capital FM, em Chapecó, e passou por outras rádios da região nos anos seguintes. Trabalhou por cinco anos na RBS, deixando a emissora em 1999 e partindo para um desafio na TV Rio Sul, rede de televisão com sede em Resende, no Rio de Janeiro, e também afiliada à TV Globo.
Mas o seu lugar era, realmente, Chapecó. O jornalista voltou para o Oeste de SC e acompanhou a ascensão meteórica da Chapecoense, que saiu da Série D em 2009 para disputar, a partir de 2014, a elite do futebol brasileiro. Henzel voltou para a Rádio Oeste Capital FM, onde narrou também os jogos da campanha do Verdão na Copa Sul-Americana de 2016.
Assim como outros colegas da imprensa local e nacional, estava no voo que transportava a delegação da Chape para a decisão da Copa Sul-Americana, naquele que deveria ser o momento mais importante do clube e da maioria das pessoas que embarcaram na aeronave. O avião da LaMia caiu já na Colômbia, a caminho do aeroporto de Rio Negro, e 71 dos 77 tripulantes morreram na tragédia.
Rafael foi o único dos 21 jornalistas a ser resgatado com vida e o penúltimo a sair do local. Em entrevista alguns dias após a tragédia, ele recordou que estava dormindo e acordou exatamente quando os socorristas passavam perto de onde estava. Ele gritou por socorro e teve dificuldades para sair do local, já que estava preso em duas árvores, com os bancos do avião de um lado e pedaços de galhos sobre suas pernas.
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Rafael Henzel teve sete costelas quebradas no acidente aéreo
O jornalista lembra que demorou cerca de 40 minutos desde o primeiro atendimento até chegar ao hospital, já que o local era íngreme e com muitas pedras. Os médicos constataram que ele teve sete costelas quebradas e dois dedos do pé direito destroncados, além de pneumonia durante a recuperação. Após 15 dias de tratamento, foi transferido para Chapecó, onde permaneceu no hospital até 19 de dezembro.
Após voltar para casa, ficou apenas um mês longe do microfone. Voltou a narrar os jogos da Chapecoense em janeiro de 2017, quando a equipe empatou por 2 a 2 no amistoso contra o Palmeiras. Na mesma semana, dividiu o microfone com Galvão Bueno, na TV Globo, durante Jogo da Amizade, nome do amistoso entre Brasil e Colômbia.
Durante a campanha histórica da Chape na Libertadores, Rafael Henzel participou da cobertura da NSC TV. O jornalista assinava uma coluna no Diário Catarinense nos dias em que o Verdão entrava em campo pela competição continental, trazendo análises e bastidores da equipe. Nesse período, seus comentários também foram destaque no Jornal do Almoço e no Debate Diário, da Rádio CBN Diário.
Em 2017, o jornalista lançou o livro "Viva como se estivesse de partida". O objetivo foi publicar um relato da tragédia e mostrar os detalhes da sua recuperação física e psicológica. Em entrevista durante o período de divulgação da obra, ele destacou que a mensagem era acreditar, e que considera que tudo que aconteceu era um milagre. "Nunca pensei que ia morrer, mesmo acordando no meio do mato", disse.
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Ele também voltou a trabalhar na Rádio Oeste Capital FM, onde acompanhava a Chapecoense nos jogos do Campeonato Catarinense e Brasileirão. Além disso, tinha dois programas na rádio: o Som, de notícias em geral, e o Clássico, sobre esportes.
Rafael Henzel esteve recentemente na Europa, onde entregou uma camisa autografada da Chapecoense a dirigentes do Atlético de Bilbao, clube da Espanha. Ele também participou do lançamento do documentário "Nossa Chape" no Festival de Berlim e no Festival Thinking Football Film 2019. Produzido pelos irmãos Michael e Jeff Zimbalist, o longa traz detalhes da repercussão mundial da tragédia.
Após tantos anos ligado ao futebol, seu último momento foi justamente praticando o esporte que tanto amou. Ele deixou a esposa Jussara e um filho, Otávio, 14 anos, mas se juntou a vários amigos e colegas de profissão que devem acolhê-lo bem nessa nova partida de sua vida.
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