Enquanto seleções de 32 países se preparam para disputar a Copa do Mundo e jogar futebol em 11 cidades da Rússia, seis cidadãos russos, que vivem em Joinville, sentem o coração bater mais forte ao ver imagens do país natal, mesmo que a competitividade do campeonato não faça tanto sentido para eles. São profissionais que fizeram suas carreiras no Teatro Bolshoi de Moscou, e que agora vivem em Joinville para integrar a equipe da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, como professores, figurinista e diretor. No momento de apontar os favoritos, a equipe se divide e dão opiniões diferentes de quem querem ver levantar a taça no dia 15 de julho, ainda que tenham uma certeza: não há como comparar a paixão dos brasileiros pelo futebol com o interesse dos russos.
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— Eu não sou muito torcedor, mas é claro que torço porque um dia nós queremos ver até que nível nossa seleção vai chegar — analisa o Dmitry Afanasiev, que foi bailarino do Bolshoi de Moscou por 20 anos e há 12 anos vive em Joinville.
Torcida verde-amarela
Pautada por intervalos nas atividades e dissoluções causados pela 1ª Guerra Mundial nos anos 1910 e pelo fim da União Soviética, nos anos 1990, a seleção da Rússia tem poucas vitórias recentes. Até por isso, não é um esporte que desperte tanta torcida na maioria dos russos. Apesar de estar há apenas três anos no Brasil, o professor Ayrat Khakimov já decidiu que torcerá pelo Brasil – um broche com a bandeira do país já foi pregado à roupa para levar essa certeza junto com ele.
Em Joinville, eles devem assistir no máximo às partidas que serão transmitidas em um telão dentro da Escola Bolshoi, quando as aulas pararem para que os alunos possam assistir ao Brasil jogar. Para a ex-bailarina do Bolshoi de Moscou e atual professora do Bolshoi Brasil, Anna Koblova, essa relação que os brasileiros tem com o futebol impressiona. Ela recebeu com surpresa um aviso da escola da filha de oito anos, de que, em 22 de junho, não haverá aula, já que o Brasil jogará contra a Costa Rica às 9h da manhã.
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— Na Rússia não damos essa importância ao futebol. Até pensei se existe alguma coisa assim, que reúne todo mundo na Rússia, e acho que é o Bolshoi, porque a dança é ainda mais forte do que qualquer esporte — avalia ela, apontando também o programa espacial que na década de 1960 fez com que a então União Soviética levasse o primeiro homem ao espaço como motivo de orgulho nacional.
Nestes dias que antecederam a Copa do Mundo, o trio conseguiu matar a saudade do seu país em reportagens especiais feitas em Moscou e por toda a Rússia sobre o país da Copa do Mundo. Rever as ruas e os pontos turísticos dos locais onde nasceram e por onde passaram durante a maior parte da vida os leva a sentimentos de deleite e nostalgia.
— Para mim é um grande prazer quando alguém vem no ateliê e diz que viu minha cidade na TV. Acho que dá para matar a saudade, um pouquinho, sim — afirma a estilista Gala Urekhova.
Já Anna não tem tanta certeza disso. Ela confessa que acompanhar as matérias tem sido dolorido, pois aumenta a saudade.
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— Para mim, aumenta a saudade. Mas então eu penso que não dá para voltar para lá, porque vou sentir saudades da Escola. Meu coração está aqui agora — reflete Anna.
Futebol e balé, artes diferentes com muitos pontos em comum
Futebol e balé parecem não ter grandes semelhanças apesar de ambos usarem o corpo como instrumento principal. Mas, se o esporte não é tão popular para os russos, principalmente entre aqueles que dedicaram suas vidas à dança e às áreas correlatas a ela, os professores da Escola Bolshoi Brasil conseguem apontar semelhanças entre os dois segmentos – ainda que eles tenham diferenças que os distaciem bastante.
O esforço físico e as carreiras curtas que este impacto inflige, com “aposentados aos 40 anos”, também são apontados pelos profissionais. Eles salientam, no entanto, que, enquanto ambos dividem a necessidade de desenvolvimento da técnica e da força, a dança ainda precisa da “alma”: então existe parte dramática envolvida nos espetáculos que leva a um esgotamento diferente.
— Nosso trabalho de ensaísta é muito parecido, trabalhando a técnica. Mas no futebol, é sobre vencer ou não vencer e o técnico é um “heroi”, ele precisa ter nervos muito fortes — avalia Liudmila Sinel’nikova, que foi primeira bailarina do Bolshoi de Moscou e é professora em Joinville desde 2007.
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