Indicada a melhor atriz coadjuvante no Oscar deste domingo, Jennifer Lawrence aparecerá deslumbrante na premiação. O vestido como sempre um segredo de Estado até a primeira pisada no tapete vermelho terá sido escolhido com semanas de antecedência e combinado com joias, sapatos e maquiagem igualmente eleitos de forma meticulosa. Nada disso, no entanto, terá tomado tempo da atriz. Jennifer não foi a lojas, não sentou na primeira fila de desfiles, não ligou para estilistas e nem passou horas espiando páginas de revistas em busca de inspiração. Todo esse trabalho foi feito por um fiel escudeiro, o stylist, que tem por missão fazer com que a cliente fique impecável e, com sorte, entre para a lista das mais bem-vestidas da noite. O trabalho é cada vez mais requisitado e, ao contrário do que muitos podem pensar, não se restringe a ser prestado só para milionários. Mas é fato: quem tem a carteira recheada compra e se diverte mais.
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Stylist não é estilista, como o nome aparece erroneamente traduzido por aí. Ele não desenha, corta, ou cria coleções por temporada. O stylist é quase uma antena humana: analisa passarelas, pesca as novidades que as grifes colocam no mercado, tem uma agendinha de contatos de dar inveja e está por dentro do que é moda agora e do que provavelmente será no inverno de 2016. As atribuições da profissão valem tanto para Rachel Zoe – a stylist que vai vestir Jennifer Lawrence para o Oscar – quanto para Eden José e Roberta Weber, personagens da capa desta edição. De perfis e trajetórias bem diferentes, os dois gaúchos compartilham da paixão por acompanhar moda e tirar o melhor proveito dela para seus clientes.
– Trabalho com mulheres muito ricas, pessoas que têm muita informação de moda. Não faço styling delas porque estilo elas já têm. Não mudo nada, apenas repasso novidades. Há closets espetaculares em Porto Alegre, gente que tem três ou quatro bolsas Birkin de R$ 90 mil no armário – conta Eden.
– Esses dias coloquei no meu Facebook que a irmã da Giovanna Battaglia (editora de moda italiana), estava com uma grife nova de bolsas. Uma cliente imediatamente me ligou e disse: “Eu quero uma bolsa dessa mulher!”- revela o stylist.
Em momentos como esse, entra em cena aquela boa agenda de contatos. No caso de Eden, ela reúne nomes internacionais para atender os desejos das clientes mais abastadas:
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– Eu mando uma mensagem para a Anna Dello Russo (editora da Vogue japonesa) e digo que quero. Também falo muito com Charlotte Olympia (incensada estilista de sapatos). A Paula Cadermatori (gaúcha que se destaca na Europa como designer de bolsas) me aproximou dessas mulheres.
Eden José: Com uma agenda de contatos internacionais, acredita que o acessório certo faz toda diferença numa produção
Que as aparências não enganem, alerta Eden. Se stylists gringos se dão ao luxo de trabalhar apenas com uma ou duas clientes por ano, o trabalho com moda no Rio Grande do Sul exige que o dia seja preenchido com uma série de outras tarefas:
– Já produzi desfile em feira de agropecuária, com chão batido – conta, lembrando que a vida de um stylist não é feita apenas de vestir glamourosamente os outros. Também inclui compor visuais para desfiles, criar conceito de campanhas publicitárias, fazer editoriais para revistas, pesquisas de tendências para agências publicitárias. Eden alfineta:
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– Hoje ser stylist virou modinha e tem muita brincadeira com a moda. Eu não brinco. A minha alface vem da moda, o meu apartamento vem da moda.
É dessa variedade de trabalhos que sai o salário mensal de um stylist. De cachê em cachê por trabalho feito, cria-se o valor que paga a alface, o apartamento e demais contas do mês. Às vezes, um mimo aqui e outro ali também entram na parada:
– Essa coisa de remuneração é um pouco complicada. As minhas clientes mais ricas sabem que eu sou pobre, que eu tenho que comer. No início, elas me davam presentes. Já ganhei tanta, mas tanta coisa que de algumas até me desfiz. Agora, troco presentes por um dinheirinho. O valor depende da generosidade delas. Eu virei um amigo – observa.
Com idade entre 40 e 50 anos, como ele mesmo diz, Eden José entrou no mundo na moda quando o glamour dos stylists era tão restrito a altos milionários que pouco se falava deles no Brasil. Se formou em Jornalismo no Rio de Janeiro nos anos 1980 e era fascinado por Cristina Franco, repórter de moda da Rede Globo que circulava entre grandes nomes internacionais e era uma das pessoas mais interessantes e influentes do circuito. Acabou amigo dela.
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De Cristina, vieram preciosos conselhos profissionais, como passar uma temporada estudando no Exterior (Eden fez um curso na The Courtauld Institute of Art, em Londres) e, na volta, buscar trabalho em revistas. Com um panorama ruim para a moda na época, decidiu retornar à terra natal.
O caminho também foi apontado por Cristina:
– Perguntei a ela o que sabia de Porto Alegre. Ela disse que não muita coisa, mas que eu procurasse a Celia Ribeiro. A Celia, que já era colunista em Zero Hora, me recebeu e passou a me indicar para fazer editoriais, vestir as mulheres da capa da revista Donna. Foi me apresentando para várias pessoas e algumas nem acreditavam quando viam meu book, com trabalhos da época do Rio de Janeiro. Eu fazia capas com Malu Mader, Luiza Brunet, minhas amigas. Lembra que nem existia internet, por isso pessoas até desconfiavam – conta, rindo.
Os muitos anos de profissão deram cancha para soltar opiniões polêmicas sobre a área de atuação:
– Acho que os melhores stylists são homens. A mulher vai te vestir do jeito dela. Se eu pedisse para uma delas fazer um styling para a Gabi Chanas, ela te colocaria com cabelão, um decotão, não assim, com um Conguinha e uma calça de funk – diz ele, se referindo ao meu visual confortável com legging estampada, camiseta e tênis no dia da entrevista. – O homem entende melhor, capta melhor.
De fato, a lista dos maiores stylists do mundo têm vários homens. A estrela da música Taylor Swift tem Joseph Cassell a seu dispor. Rob Zangardi ajuda Kim Kardashian, Sofia Vergara e Jennifer Lopez a elegerem os looks do tapete vermelho. Mas a profissional top de 2013, segundo o prestigiado ranking da revista The Hollywood Reporter, que todo ano divulga a lista dos 25 mais poderosos, é uma mulher. Leslie Fremar veste Julianne Moore, Charlize Theron e Reese Witherspoon, nomes sempre presentes na lista das mais bem-vestidas das noites de gala. Antes de trabalhar com famosas, ralou anos como assistente de Anna Wintour (a editora da Vogue americana na qual foi inspirada a personagem Miranda Priestly do filme O Diabo veste Prada).
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– Lá por 2003, a Vogue passou a colocar celebridades nas capas. Eu era stylist assistente nessas sessões de fotos. Foi daí que surgiu meu contato com atrizes e cantoras – contou Fremar à The Hollywood Reporter.
O começo com mais trabalho duro do que glamour lembra as histórias contadas por Roberta Weber, 27 anos. Formada em fashion styling pela London College of Fashion, trabalhou em projetos de marcas como Jil Sander e Topshop enquanto morava em Londres.
– Fui assistente por um bom tempo e carregava mala de roupas, buscava café. Às vezes, montava toda uma produção e o stylist chegava e trocava apenas um cinto. Na revista, o nome que saía era o dele, não o meu, de assistente – relembra. Assim como Eden, Roberta também joga um balde de água fria em quem pensa em entrar na profissão atrás de glamour imediato e em altos níveis:
– Tem gente que acha que esse trabalho é fácil, que ganhamos muita roupa, estamos sempre lindas e maquiadas, com motorista. Isso, talvez daqui uns 20 anos. Até chegar lá, tem que ter humildade e vontade de aprender. Eu diria que o glamour é de 10%. O outros 90% são acordar cedo para fotos de editoriais, ver a modelo ali toda linda, e eu sem maquiagem, com sono – brinca.
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Roberta Weber: Formada em Londres, acredita que encontrar o estilo próprio eleva a autoestima e deixa a vida mais descomplicada
No Reino Unido, Roberta começou suas primeiras experiências de personal styling, contratada por mulheres com vida menos cinematográfica que as grandes atrizes. Ajudava a revisar o closet, a entender que mensagem a cliente queria passar com o que vestia, no que podia estar errando, no que poderia acertar mais.
– Tive uma cliente britânica que me contratou e me disse ser uma pessoa extremamente colorida. Fomos ver o closet dela e não tinha nada de colorido ali: só preto e azul-marinho. Questionei e ela me disse que se via como uma pessoa colorida, alegre. Até estranhou nossa conclusão. O que fiz foi acrescentar aquela parcela de cor que ela tanto gostava no armário.
Mas, e aquela história da stylist mulher não ser ideal?
– Eu discordo – diz Roberta Weber. – Meu trabalho não é brincar de boneca. Eu faço um questionário de estilo com minhas clientes, sento por horas com elas para entender do que gostam, tento captar como curtem se vestir. Eu mesma não sou uma pessoa que ama cores vibrantes, mas nem por isso deixei de colorir o armário da minha cliente em Londres.
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Em Porto Alegre desde 2011, após a temporada de trabalho e estudos fora, Roberta vai ao socorro de quem está em emergência de estilo. Tem na carta de clientes de grandes empresárias a uma professora de ioga – prova de que o serviço de um personal stylist não tem valores tão escabrosos. Dependendo da necessidade da cliente, vai na casa dela, analisa o armário e indica como combinar peças. Também faz vezes de personal shopper com as mais indecisas, que entram na loja e se perdem em peças que não têm nada a ver com seu estilo e por isso acabam encalhadas no guarda-roupa. A recompensa vem quando a mulher se encontra, diz que o marido passou a elogiar mais, que a autoestima melhorou. Quase um serviço de psicologia com resultado comprovado no dia a dia:
– Nós levamos 20 segundos para formar uma primeira impressão de uma pessoa. Desse conceito, 90% tem a ver com a aparência, 7% com o tom da voz e apenas 3% sobre o que estás falando – alerta a stylist, citando trecho de uma das palestras que ministra sobre moda.
Por essas e outras que existem tantas teorias sobre o que vestir numa entrevista de trabalho, num primeiro encontro. Diga-me o que usas, e te direi quem és. E se tiveres dificuldade de te entender, contrate um stylist.