O racismo sofrido por Vinícius Júnior sensibiliza também atletas negros dos principais clubes de Santa Catarina. Alvo recente de um caso de injúria racial, o zagueiro do Hercílio Luz, Rafael Lima, diz que o sentimento com o episódio na Espanha é de revolta. Na avaliação dele, no caso de Vini Jr, o único erro do atleta brasileiro teria sido o de chorar após os ataques.
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— Não tem que chorar, até porque os racistas não merecem um pingo da lágrima.
O defensor diz que ensina as filhas que, em relação a qualquer preconceito, é preciso lutar até as últimas consequências, para que isso não mais aconteça. O jovem zagueiro do Criciúma, Thiago Jesus, estreou neste ano no elenco profissional do Tigre e diz que, em campo, ainda não passou por situação de racismo. No entanto, admite que já enfrentou olhares preconceituosos em situações do dia a dia.
— É algo que não pode mais acontecer dentro do futebol, e em nenhum lugar. Não se pode tolerar mais. Acredito que pode mudar algo, mas tem que vir dos dirigentes, da Fifa.
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O zagueiro Roberto, do Avaí, conta que nunca viveu explicitamente uma situação de racismo em campo ao longo da carreira, mas que a mãe já passou por situações deste tipo quando torcia por ele nas arquibancadas.
— Penso que se tem algum momento que possa haver uma virada de chave grande, é esse momento. Aproveitar a visibilidade que ele tem, essa força e apoio que está tendo, e realmente fazer algo que possa ser contundente, possa mudar, e faça o racismo ser tratado da forma que tem que ser tratado, que é como crime — cobra o atleta.
Relembre casos no futebol brasileiro
Caso Aranha: em uma partida entre Santos e Grêmio pela Copa do Brasil, em Porto Alegre (RS), o então goleiro da equipe santista, Aranha, foi chamado de “macaco” e ouviu gritos racistas de torcedores. Ele chegou a alertar o árbitro, mas a partida continuou. Ao fim do jogo, indignado, o atleta desabafou: “Quem joga aqui sabe, sempre tem racista no meio deles”. O caso chamou a atenção por ter resultado em punição desportiva: o Grêmio foi excluído daquela edição da Copa do Brasil. Além disso, um inquérito por injúria racial foi aberto contra quatro pessoas identificadas por filmagens.
Árbitro Márcio Chagas: em março de 2014, outro caso de racismo foi registrado em uma partida entre Esportivo e Veranópolis pelo Campeonato Gaúcho, em Bento Gonçalves (RS). A vítima desta vez foi o árbitro Márcio Chagas. Ele relatou ter ouvido xingamentos como “macaco” e “teu lugar é na selva” durante a partida. Ao fim do jogo, encontrou o carro amassado e com bananas sobre o para-brisas. Um mês depois, o Esportivo perdeu nove pontos e acabou sendo rebaixado. Também foi multado em R$ 30 mil e ficou sem mando de campo por seis jogos. Em 2018, na esfera cível, o Esportivo foi condenado a pagar indenização de R$ 20 mil ao ex-árbitro.
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Zagueiro Sandro, do Brusque: um caso de racismo envolvendo um clube catarinense ocorreu em setembro de 2021. O zagueiro Sandro, do Brusque, ouviu ofensas racistas enquanto se aquecia durante partida contra o Brasil de Pelotas, pela Série B do Brasileiro. O jogo foi interrompido e um torcedor foi identificado pela Brigada Militar e retirado das arquibancadas. Em novembro de 2022, o torcedor acusado da injúria racial e o Brasil foram condenados a indenizar o zagueiro Sandro em R$ 15 mil.
Caso Celsinho: outro episódio de injúria racial envolvendo o Brusque foi o caso Celsinho. Desta vez, no entanto, a injúria racial teria partido de um dirigente. O meia Celsinho, do Londrina, afirmou ter sido alvo de racismo durante partida disputada em agosto de 2021, no Estádio Augusto Bauer. O jogador afirmou que foi chamado de “macaco” por um integrante da diretoria do Brusque. Na súmula, o árbitro relatou que o meia ouviu a frase “vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha”. Em julgamento no STJD em setembro daquele ano resultou na perda de três pontos do Brusque e em multa de R$ 60 mil ao clube. O dirigente envolvido foi suspenso por 360 dias e multado em R$ 30 mil.
Ponte Preta x Criciúma: um caso de racismo em SC que gerou repercussão nacional ocorreu em uma partida entre Criciúma e Ponte Preta, pela Série B, em julho de 2022. A partida foi paralisada depois que o atacante Da Silva, da Ponte Preta, afirmou ter sido chamado de “macaco” por torcedores do time catarinense. O clube de Campinas também relatou que teriam jogado objetos e bebidas sobre os atletas que faziam aquecimento. O caso até o momento não teve desdobramentos na Justiça.
Rafael Lima, do Hercílio Luz: o caso mais recente de racismo envolvendo atletas de SC ocorreu no início deste mês. O zagueiro Rafael Lima, do Hercílio Luz, se preparava para entrar em campo em fila com a equipe para uma partida contra o Aimoré (RS). Neste momento, ele e o árbitro relataram ter ouvido de um torcedor não identificado: “Vai entregar o jogo aqui, negão”. O atleta registrou um BO na ocasião, e o Hercílio publicou nota repudiando o caso de racismo. O episódio foi citado na súmula da partida, mas ainda não teve desdobramentos na Justiça criminal ou desportiva.
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