Mano Brown e Edi Rock regem a massa com versos contundentes. Ice Blue fica rondando, só para garantir. Nas pick-ups, as bases manipuladas por KL Jay embalam a mensagem, tornando-a mais eficaz. Fundamental na construção da mítica dos Racionais MC’s como os manos do microfone, o único dos integrantes que não fala no palco é o menos avesso a entrevistas. Ainda que ressabiado, o DJ topou trocar uma ideia rápida sobre os “quatro pretos mais perigosos do Brasil”, atração principal nesta sexta-feira no Devassa on Stage, em Florianópolis.
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Os pedidos de camarim do grupo
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O show integra a turnê de 25 anos da maior banda do rap nacional e vem a reboque de Cores e Valores, apontado como um dos melhores discos de 2014. O primeiro trabalho de inéditas desde 2002 surpreende pela concisão e estilo – com apenas 32 minutos, traz os Racionais ligados no que anda rolando. A sonoridade incorpora traços de trap, vertente caracterizada pelos graves e efeitos sinistros.
– É bom mudar. Essa batida é moderna e interessante. Não é um álbum, é quase uma mixtape (compilação): curtinho, pá pá pá, as músicas coladas umas nas outras e ideias que têm a ver com o mundo de hoje – explica KL Jay pelo celular, com a ressalva de que muitas faixas lembram o anterior (Nada como um Dia Após o Outro Dia) na produção e nos assuntos.
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Na opinião do DJ, o leque de temas se abriu, “mas a pobreza existe, a perseguição existe, a mesma coisa”. Os Racionais já expunham a miséria, o racismo e a violência da periferia paulistana na estreia, Holocausto Urbano, em 1990. Foi no quarto disco (Sobrevivendo no Inferno, em 1997), porém, que estabeleceram um novo parâmetro para o gênero no país.
Independentes, com mais de 500 mil cópias vendidas e shows lotados, não havia como a sociedade ignorar seu discurso – e seu sucesso. Na busca por desvendar o fenômeno, a mídia descobria o que os manos entendiam como atitude. Não atendiam determinados veículos. Não faziam determinados programas. Não viravam parceiros de quem mal conheciam. Enfim, agiam como deveria agir qualquer artista que se respeita, comportamento tão inusitado em um cenário infestado de bobos alegres e rebeldes dóceis que transformou esse antimarketing em uma poderosa ferramenta promocional.
É assim até hoje, com o rap completamente inserido no menu musical de qualquer classe social, e os Racionais cada vez mais influentes.
– É a música mais ouvida do mundo! É um prazer poder fazer parte disso. O rap é muito contagiante pela batida, pelo lance da linguagem direta. Mudou a geração também, há muita gente nova ouvindo e curtindo. Ter outros artistas bons ajuda a fortalecer mais. O rap está mais competente e competitivo – analisa, citando Emicida, Criolo e Projota como alguns nomes que elevaram o nível de qualidade.
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Para acompanhar esse movimento, o grupo tem munição de sobra. Como a apresentação costuma durar uma hora e meia, se tocarem Cores e Valores inteiro resta tempo suficiente para mandar clássicos que todo fã espera: Vida Loka, Negro Drama, Jesus Chorou, Fim de Semana no Parque e tantos outros com letras quilométricas cantadas em uníssono ao vivo.
– É para todos irem com bastante energia, porque será um grande show – finaliza ele, antes de partir para o próximo “corre” pelas quebradas de São Paulo.
Agende-se
O quê: show de Racionais MC’s
Quando: hoje, com abertura da casa às 22h
Onde: Devassa on Stage (Rod. Maurício Sirotsky Sobrinho, 2.500, Jurerê Internacional, Florianópolis)
Quanto: a partir de R$ 45 (pista _ 1º lote), à venda no Blueticket Informações: musicpark.com.br