Quitéria Tamanini Vieira Péres, 46 anos, nasceu em Umuarama (PR), três anos depois do irmão. Tinha dois anos quando o pai comerciante e a mãe cabeleireira tentaram vida melhor em Santa Catarina, mais especificamente em Timbó, onde permaneceram por 10 anos.

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Ela estudou no Grupo Escolar Professor Rodolfo Sulivan e na Escola Ruy Barbosa. Um equívoco fez com que ela entrasse com cinco anos na 1ª série e teve que fazer prova de aptidão para prosseguir os estudos. A infância foi saudável. Brincava com os amigos, ia à escola sozinha e tinha a autonomia que hoje, infelizmente, foi substituída pela insegurança.

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Quando ela estava com 12 anos a família se mudou para Balneário Camboriú atrás de boas oportunidades. Abriram uma loja na Avenida Brasil e um salão de beleza. Quitéria fez os dois últimos anos do Ensino Médio no Colégio São José, em Itajaí.

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No Litoral o pai teve um problema cardíaco e ele ficou internado, sem plano de saúde, por algum tempo em São Paulo. A mãe se afastou de tudo para acompanhar o marido. Isso pouco depois de um assalto à loja da família. Tiveram dificuldades emocionais e financeiras e isso fez com que eles ficassem apenas dois anos em Balneário.

Escolhas

Ela fez o vestibular para Medicina na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Direito na Universidade Regional de Blumenau (Furb). Aos 15 anos se viu em sala de aula discutindo a nova Constituição do país e, fora dela, buscando trabalho para ajudar a pagar a faculdade.

Passou por uma imobiliária, pela Souza Cruz e depois que soube que a Sulfabril pagava 70% da mensalidade lutou por um emprego na Rua Itajaí. Estava disposta a trabalhar na costura, mas para o cargo eles não aceitavam quem tinha Ensino Médio completo, com medo de uma possível frustração. Demorou um pouco, mas ela entrou como secretária no Departamento Jurídico da empresa.

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No sexto semestre foi selecionada para ser monitora no estágio orientado de Direito da Furb. Experiência rica pelo contato com os professores e com a população carente que buscava atendimento. Depois de formada trabalhou por quase três anos como advogada em um escritório que montou com um colega. Se afastou para fazer o mestrado na UFSC.

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Dividiu uma quitinete com outra estudante no bairro Trindade. Ganhava bolsa de R$ 700 e pagava R$ 350 de aluguel. O noivo passou a ajudar com algumas despesas. Logo ele também foi a Florianópolis fazer um doutorado. Se casaram nessa época, em 1996. Com o fim do mestrado, Quitéria partiu para o desafio de ser juíza. Por um ano se dedicou exclusivamente ao concurso para a magistratura.

O novo ofício

Iniciou o trabalho como juíza substituta na região de Imbituba, Imaruí e Laguna, onde passou a viver. O marido ficou em Florianópolis. Em Imbituba o juiz titular estava afastado por motivo de doença e ela se viu sozinha com 16 mil processos e sem experiência no ofício. Fazia audiências o dia inteiro e levava as liminares para decidir à noite.

Ficou no Sul por quase dois anos. Depois foi para Rio do Sul, ainda como substituta. Nessa época o marido estava concluindo o doutorado e voltando para Blumenau. Como juíza titular iniciou a carreira em Rio do Oeste no ano 2000, período em que teve o primeiro filho. Depois foi para Jaraguá do Sul, com o marido, e lá teve o segundo filho. Em Brusque recebeu a primeira filha adotiva e em Blumenau, para onde retornou em 2009, recebeu o segundo, irmão da primeira.

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Em Blumenau teve desafiadoras experiências. Foi juíza eleitoral e assumiu o processo de falência da Sulfabril, empresa na qual havia trabalhado na juventude. Só esse processo tinha 25 mil folhas. Depois de digitalizar 100% da vara em que trabalhava, o desafio era melhorar a gestão para dar mais velocidade ao fluxo dos processos. É fã da mediação e da conciliação como forma de pacificar os conflitos na sociedade. Hoje é diretora do Fórum da comarca e há anos leciona na Furb e na Escola da Magistratura.

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"Mãezinha" e vida pessoal

Até hoje Quitéria convive com a “mãezinha”. Dona Altamira tem 89 anos e sempre foi a empregada da família, desde os tempos de Umuarama. Hoje, com Alzheimer, Altamira vive em uma casa de repouso e recebe semanalmente a visita da menina que ajudou a criar e apoiou nos estudos.

Leitura e cinema são duas atividades de lazer para Quitéria. Gosta de livros sobre psicologia e que abordem a compreensão do ser humano. Tem preparado palestras e escreveu um livro sobre conciliação, lançado este ano. Para o futuro pensa em escrever mais e, depois da aposentadoria, quer continuar contribuindo de alguma forma. Pensa, por exemplo, em criar um instituto ou algo semelhante para trabalhar com a pacificação dos conflitos humanos.