Agitada, Bia Doria atende a ligação em seu ateliê na Vila Nova Conceição, bairro sofisticado da capital paulista, numa sexta-feira à tarde. Diz que está atrasada para um compromisso, mas topa falar quando anuncio que sou do Diário Catarinense. Pelo estado natal, a artista plástica de Pinhalzinho, no Oeste, e futura primeira-dama de São Paulo, nutre um carinho especial.

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– Já fiz muitas exposições no exterior, mas nunca em Florianópolis. Adoraria! – afirma a despachada catarinense de 56 anos, que já mostrou suas peças em madeira e mármore de dimensões gigantescas e com valores entre R$ 800 e R$ 60 mil em países como Itália (onde conquistou o prêmio na categoria escultura na 10ª Bienal de Florença, em 2015), França, Alemanha, Coreia e Estados Unidos.

Mãe de três filhos, Carolina, 14, Felipe, 15, e Johnny, 21, Bia ainda nem se tornou primeira-dama, mas já teve uma prévia do que deve se transformar sua vida pelos próprios quatro anos. Desde que João Doria foi eleito prometendo eficiência, privatizações e estado mínimo, a catarinense já enfrentou manifestações em frente à mansão da família no bairro Jardim Europa (aquela avaliada em R$ 50 milhões, com 2,5 mil metros quadrados e coleção de quadros de Di Cavalcanti), teve o site do seu ateliê hackeado e recebeu uma saraivada de críticas nas redes sociais por conta de uma polêmica entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo na semana passada. Mas a catarinense se diz preparada e aceita opiniões diferentes (¿acho a democracia ótima¿).

Confira o papo com a artista plástica que se autodenomina uma representante da arte contemporânea sustentável.

Qual é a sua relação com Santa Catarina?

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Muito intensa. Vou todo o ano para Pinhalzinho. Minha mãe e alguns irmãos (Bia tem nove) moram lá. Também gosto muito de ajudar minha terra. Todo ano envio dinheiro para a Associação Hospitalar Beneficente de Pinhalzinho. Já mandei mais de R$ 10 milhões. Mas saí cedo, aos 18 anos, para estudar Educação Física. Fui jogadora de vôlei. Depois, na casa dos 20, morei em Milão onde estudei moda por seis meses. Na volta trabalhei com moda em São Paulo e no Rio de Janeiro. Conheci o João (Doria), em 1988, quando ele era presidente da Embratur e eu também trabalhava lá.

E o trabalho com as artes plásticas, como começou?

Quem faz um vestido, faz uma escultura. O meu trabalho com madeira é uma espécie de resgate. Meus pais foram desbravadores do Oeste Catarinense e construíram Pinhalzinho. Na época, o negócio era derrubar para agregar. Eles faziam clareiras no meio do mato, coisa que não pode mais. Hoje sou reflorestadora e ambientalista. Mas sempre tive a araucária na minha cabeça. Uso troncos do fundo dos rios, resíduos de florestas de manejo, hidrelétricas e queimadas e me adapto à madeira que encontro. Depois, trabalho com o formão (acessório para entalhar e cortar madeira). As minhas peças medem de um a cinco metros. Até o final do ano, um museu com 240 peças de um colecionador vai abrir em Portugal. Ainda este ano vamos expor no Memorial da América Latina (SP), e no próximo ano em Roma e Florença.

Você se surpreendeu com os três milhões de votos que elegeram João Doria no primeiro turno?

Não. Eu fui a única que apostei que ele ganharia no primeiro turno e ganhei dinheiro por conta disso. Só não votou quem não conhece a força e o trabalho dele. O próprio Luiz Henrique (da Silveira, político catarinense falecido em 2015) sempre pedia ajuda e conselhos. Ele admirava muito meu marido. Ele e a dona Ivete (Appel da Silveira, viúva de LHS) participavam dos nossos eventos do Lide (grupo empresarial criado por Doria).

Você pretende se envolver na administração da prefeitura? De que forma?

Não foi definido nada sobre isso. Estou apenas apoiando, mas se for necessário farei uma imersão no assunto que será delegado para traçar metas. Não devo assumir nenhum cargo, mas quero transitar em todas as secretarias. Especialmente nas áreas social e de meio-ambiente. Temos um cinturão de muita pobreza em São Paulo. Quero ajudar a trazer cultura para o povo, trazendo, por exemplo, apresentações do Balé Bolshoi.

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Em tempos de opinião políticas tão polarizadas, como lida com as críticas?

Eu estou acostumada com as críticas e aceito as opiniões diferentes. A democracia é ótima. Ontem mesmo não consegui entrar em casa só porque o João deu uma declaração sobre as ciclovias. Ele não disse que ia fechar, mas que ia melhorar, mas os ciclistas foram para a frente da nossa casa protestar (um dia antes da manifestação. dia 5 de outubro, em entrevista ao Estado de S. Paulo, João Doria declarou que não pretende ampliar as ciclovias e que deve acabar com os trechos em calçadas ou não utilizados). Encaro isso numa boa. E quatro anos passam rápido.

Uma matéria sobre você na Folha de S. Paulo gerou muitas críticas. Alguns a acusaram de desconhecer a cidade e outros de futilidade. Como se sentiu?

Vivemos em uma democracia e todos têm o direito de se expressar, mas infelizmente o que falei foi distorcido. Nunca fui dondoca, sempre trabalhei muito. Inclusive o João me conheceu trabalhando. Nem grávida eu parei.

No mesmo dia da publicação da reportagem, seu site foi hackeado. Como se sentiu com o ataque?

Foi uma invasão de privacidade injustificável. Aqueles que promoveram esta agressão não compreendem que um dos maiores valores da democracia é o respeito pelas pessoas.

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