Shavit cresceu sabendo de sua adoção. Os pais adotivos sempre a apoiaram na procura pela família biológica, porém as dúvidas insistem em martelar na sua cabeça. Quer saber por que foi entregue. Ela faz parte de um grupo de milhares de jovens nascidos no Brasil, na década de 1980, vendidos para casais estrangeiros desesperados em adotar uma criança. O pai adotivo Uri Stern, sabe apenas que a mãe biológica dela era muito jovem quando engravidou e trabalhava como empregada doméstica, na cidade do Rio de Janeiro.

Continua depois da publicidade

Sentado ao lado da filha, emoldurados pelas paisagens históricas da Cidade Velha, em Tel Aviv, Uri conta como na época adotou duas crianças no Brasil, mesmo após ser detido pela Polícia Federal. Hoje, quer ajudar a filha a divulgar a sua história, na esperança de encontrar a mãe biológica.

Ele lembra quando esteve com a mulher Nurit Stern na cidade de Camboriú, em Santa Catarina em 1986 para adotar o primeiro filho, Aviv. Queriam uma menina e fizeram a encomenda a um advogado chamado Carlos. Porém, após a intervenção da Polícia Federal na chácara onde o casal esperava pela criança, Uri não conseguiu concretizar a adoção. Persistente, três semanas depois, com ajuda de um amigo, conseguiu sair do Brasil com um menino legalmente adotado.

A vontade de ter uma menina ainda era presente na vida do casal. Três anos depois resolveram novamente embarcar em mais um arriscado processo de adoção ilegal. Uri não queria mais vir ao Brasil. Indicados por amigos, conheceram Daniela, ela morava na região Norte de Israel e era conhecida por trazer crianças brasileiras para famílias em Israel. Combinaram a adoção de uma menina – da qual faziam questão. Dois meses depois do início das negociações, Daniela esteve no Brasil e do Rio de Janeiro trouxe Shavit para o casal israelense. Ela foi entregue a Uri na Armênia, país localizado no sudoeste da Ásia.

Continua depois da publicidade

Hoje, Uri está ao lado da filha, na busca pelo passado. Apesar de compreender a angústia de Shavit é firme ao dizer que não se arrepende das adoções dos dois filhos.

– Eles estão aqui comigo. Isso é o mais importante. São meus filhos, estou ao lado deles e vou fazer o que puder para ver Shavit feliz”, – afirma ele abraçando Shavit.

Uri dá todo apoio e está ao lado da filha na busca pela família biológica, mas acha difícil que consigam encontrar alguma informação. Com os documentos falsificados ele considera que as chances de Shavit encontrar a família é pequena.

Continua depois da publicidade

A jovem de pele morena e cabelos cacheados não pensa nas dificuldades, apenas sonha em conhecer a mãe. Ela tem perguntas a fazer, quer saber os motivos que levaram a mãe a lhe entregar. Só depois vai decidir como será sua relação com ela.

– Quero entender as razões ela e só depois disso vou saber se vamos manter contato ou não – afirma.

Concentrada em resgatar o passado, Shavit se agarra em toda ajuda que recebe. Um dia, em um supermercado em Tel Aviv se aproximou de um grupo de pessoas que falavam em português. Conversando com eles em inglês descobriu que eram brasileiros e moravam no Rio de Janeiro. Shavit contou sua história e um deles, um médico que trabalha em uma maternidade no Rio de Janeiro, ficou sensibilizado com a vontade daquela jovem. No Brasil, ele tenta ajudá-la, mas também esbarra na falta de informações. A busca incansável atormenta a vida da jovem.

Continua depois da publicidade

– Não me sinto parte do Israel, mas também não sinto fazer parte do Brasil. Quero ter a minha história – resume.