Nesta entrevista, o vereador Deglaber Goulart (PMDB) fala sobre o projeto que torna legal o mercado paralelo de placas de táxis em Florianópolis. Essas transferências, hoje irregulares, é que são o alvo da CPI recém-instalada pelo Legislativo e que começa a tomar depoimentos nesta quinta-feira.

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Diário Catarinense – Qual é a sua intenção ao apresentar esse projeto?

Deglaber Goulart – A ideia é facilitar as coisas para o pessoal que já trabalha nos táxis, garantir que a placa seja transferida para quem já é motorista.

DC -O senhor conversou com a categoria ou com a prefeitura antes de sugerir a mudança na lei?

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Deglaber – Não, não falei com ninguém, mas vejo as coisas que estão acontecendo e sei que a lei hoje não contempla essa situação (a transferência de placas entre taxistas).

DC – Em resumo: a placa vai ser vendida?

Deglaber – Sim, mas desde que seja para alguém que já trabalha como motorista para um taxista, mas não têm uma placa.

DC – Mas o projeto não fala que a transferência tem de ser para um motorista que já trabalha num táxi…

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Deglaber – Não necessariamente…

DC – O projeto só diz que tem de ser um condutor, mas qualquer um que tem CNH é um condutor.

Deglaber – O proprietário da placa tem liberdade de escolher e vender para alguém que já trabalha como motorista. O ideal é que dê preferência para quem já está dirigindo na praça.

DC – Mas uma das polêmicas investigadas pela CPI não é justamente a venda ilegal de placas?

Deglaber – Sim, a venda ilegal é um problema, mas quero acabar com a ilegalidade.

DC – Nós pedimos a opinião de um especialista, que disse que o projeto regulariza uma prática ilegal, que é o comércio de placa de táxi. O que o senhor tem a dizer a respeito?

Deglaber – É justamente isso. Essa venda já é feita hoje clandestinamente. Quero transformar uma prática ilegal em legal. Quero acabar com essa esculhambação, acabar com essa clandestinidade e ajudar os motoristas, esse pessoal que não tem placa.

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DC – Não é contraditório o autor do pedido de abertura da CPI dos Táxis apresentar um projeto que regulariza justamente o que está sendo questionado?

Deglaber – Vou acabar com a esculhambação. Hoje os mais prejudicados são os motoristas que trabalham como escravos e ganham só 30% do que é faturado no dia. Esses motoristas não são beneficiados pela legislação. Quando há licitação, quem vence é médico e engenheiro. Esse pessoal (o motorista) que precisa e trabalha o dia todo não tem estudo suficiente para passar na prova. Então essa lei vai ajudar quem já trabalha com o táxi.

DC – Então o senhor quer legalizar a venda e a compra de placa?

Deglaber – É isso.

DC – Mas a venda de placa é ilegal?

Deglaber – Hoje é, a lei não contempla essa situação. Com o projeto, dá oportunidade aos motoristas, que não tem oportunidade de concorrer de igual para igual. É essa situação que a gente vê na CPI.

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DC – Falando em CPI: é de praxe que o autor do pedido de investigação da CPI seja o presidente ou o relator. Por que o senhor abriu mão das duas funções?

Deglaber – Eu fiz isso para dar mais transparência às investigações. Fiz parte do governo Dário Berger (PMDB) nos oito anos. Vão ser convocados todos os secretários daquela época. Fui líder do governo passado. Alguém poderia dizer: o cara foi líder do governo Dário e agora vai investigar o próprio governo? Decidi somente participar.

DC – Não seria o caso de retirar o projeto até que a CPI seja concluída?

Deglaber – Não. Esse projeto ainda está tramitando, vai ser debatido, vamos realizar audiências públicas.

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