O município de Chapecó, que tem o nome retirado da língua Kaingang, tem 104 anos de fundação. Mas somente um século depois, em 2021, pela primeira vez uma mulher indígena ocupa vaga no Legislativo. Iara Campolin (PT) é suplente de vereadora e ocupou o cargo por 45 dias, a contar da posse em 6 de outubro, em substituição ao vereador petista Valdir Carvalho, que se licenciou do cargo conforme rodízio estabelecido.

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Iara, 32 anos, mora na terra indígena Toldo do Chimbangue, onde é professora de Língua Kaingang no Centro de Educação Infantil. Foi a avó, já falecida, que lhe deu o nome de Iara. Ela é casada, graduada em Educação Física pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar) e cursa Licenciatura Intercultural em Pedagogia na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapeco).

Iara é casada e mãe de Yuri Emanuel, seis anos, e de Riquelme Kó’y Salvador, 14 anos. Primeira representante indígena a assumir uma cadeira no Parlamento de Chapecó, Iara comprometeu-se a promover e dar visibilidade às temáticas relacionadas às necessidades das comunidades locais.

Uma das propostas é a criação de um espaço específico na área central da cidade para desenvolver a cultura indígena, e que sirva de palco para apresentações de dança e de músicas. O mesmo lugar servirá para a venda de artesanato, de ervas medicinais e comidas típicas.

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Mas a vereadora não quer perder a oportunidade de olhar para dentro das aldeias. Em reuniões de trabalho, ela se compromete com projetos que levem atividades socioeducativas e de iniciação esportiva para as comunidades. 

Confira detalhes na entrevista a seguir:

Qual a trajetória para ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores de Chapecó?

Sou suplente de vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Estou na vereança graças ao entendimento do diretório e da sensibilidade dos eleitos que acreditam na importância do dar voz à diversidade. Estou vivendo a experiência política de dar visibilidade às necessidades e anseios dos indígenas e dos munícipes.

Acha importante os índios ocuparem os parlamentos?

Sim. Acredito que somente quem conhece a realidade sabe falar dos problemas, daí a importância de ter representatividade na instância política.

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Pretende concorrer novamente?

Entrei numa perspectiva de abrir caminhos, porém, se as comunidades acharem por bem que eu possa dar continuidade, não posso descartar a possibilidade de ser (candidata) novamente. Mas entrei para abrir caminhos para outros que possam vir.

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Vereadora Iara Campolin (PT) (Foto: Arquivo Pessoal)

Você é uma Kaingang. Qual é o maior desafio para o seu povo e para os povos indígenas de Santa Catarina?

O maior desafio é fazer o poder público aceitar que somos munícipes, que temos necessidades e anseios. A sociedade tem que reconhecer que temos o nosso jeito de viver, de trabalhar e que quando estamos comercializando nosso artesanato não estamos invadindo a cidade, mas que somos povos originários e que foi a cidade que invadiu o nosso território. Queremos que respeitem nosso jeito de viver.

O governo Bolsonaro está sendo considerado muito ruim para as questões indígenas, inclusive na CPI da Covid, onde se chegou a falar em genocídio. Como avalia esta situação?

O atual governo brasileiro é o pior para as questões indígenas, pois faz o discurso voltado a um processo integracionista, buscando negar a nossa cultura para posterior negar nossa identidade e existência. Hoje vivemos em constante alerta porque muitos projetos de leis, emendas constitucionais e o marco temporal, que está caindo sobre nós como um gigante, para nos arrancar dos nossos territórios.

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