Em busca por novas oportunidades, uma família amazonense decidiu investir tudo o que tinha em Manaus e abrir mão da terra natal para recomeçar a vida em Santa Catarina. Mas nessa semana, foram surpreendidos com uma ação de despejo da casa que construíram em Joinville.
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Inspirada pela irmã, que morava há cerca de um ano na cidade depois que o marido conseguiu uma proposta de emprego como operador de máquinas, Thayná Santana Sampaio de Araújo comprou um terreno em Joinville, reuniu os cinco filhos e marido e veio, em uma longa jornada, de mudança para o município.
Depois de duas semanas na cidade, eles construíram a casa no local comprado por meio da internet, em um site de vendas. O valor do terreno foi R$ 7 mil e está localizado no bairro Fátima, zona Sul de Joinville. No entanto, o local faz parte de uma Área de Proteção Ambiental.
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Depois de terminar a construção, na última segunda-feira (22) a Sama foi ao local para derrubar a casa. A ação gerou tumulto.
– A prefeitura apareceu dizendo que eu não podia construir. E eu já tinha construído a metade, comprado o terreno. Tudo o que eu tinha em Manaus eu investi aqui. Eu não tinha para onde ir, onde ficar – conta.
Ela pontua, ainda, que o local tem diversas casas próximas, mas só a dela seria derrubada por ter sido construída recentemente.
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Condições precárias em Manaus

Por serem da etnia Deni, as seis famílias têm como costume viverem unidas. Inclusive outras crianças de familiares estavam dormindo na casa de Thayná por falta de espaço. Thayná relata que as condições de vida em Manaus estavam muito precárias.
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– Lá tínhamos moradia, mas não tínhamos emprego, nem escola. Violência estava muito grande. A pandemia acabou com tudo. Estávamos passando muita dificuldade, violência, e por isso decidimos vir para cá. Em busca de um sonho, de uma vida melhor – detalha.
Com o impacto da situação, Thayná desabafa:
– Eu não durmo, não me alimento. Eu fui me alimentar hoje. Uma coisa difícil, sofrida. Pensei: meu Deus, eu vou para a rua. Eu não tenho onde ficar – diz em lágrimas.
Lá ela trabalhava em casa, mas também atuava em ações voluntárias, como artesanato e alfabetização de crianças. Aqui ela continuaria trabalhando de forma voluntária.
As famílias estão sendo ajudadas por entidades, igrejas e vereadores da cidade.
Negociação com a prefeitura

Nesta semana, a Prefeitura de Joinville deu como alternativa à família a estadia em um abrigo. No entanto, a família recusou.
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– Abrigo não é um lar. Eu só quero um lar para a minha família, eles querem me tomar, tomar o lar da minha família. Eles disseram que cometemos um crime contra o meio ambiente. Nessa hora eu pensei: além de perder minha casa, ainda vou ser presa? – questionou desesperada.
Em comunicado emitido pela Prefeitura de Joinville, o município pontuou ter oferecido diversas alternativas às famílias, mas todas foram recusadas. Leia na íntegra:
“A ocupação irregular de áreas de preservação é um problema que avança em diversas regiões da cidade. Por se considerar um crime, a questão é tratada com atenção e seriedade pela equipe da Prefeitura de Joinville.
Na última semana, a ocupação irregular de uma área às margens do rio Itaum-Mirim, no bairro Fátima, foi autuada pelos fiscais da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente (SAMA). Desde 2010, há um processo judicial tramitando sobre outras ocupações irregulares nesta mesma área.
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No dia 19, sexta-feira, ao identificar o início de uma construção irregular em Área de Preservação Permanente (APP), os fiscais emitiram um Auto de Infração Ambiental, informando que a construção não poderia continuar. Três dias depois, no dia 22, ao retornar ao local, os fiscais constataram que a obra havia prosseguido por todo o final de semana.
Na tarde desta quarta-feira (24), o prefeito Adriano Silva recebeu uma representante da família que ocupou de forma irregular a área para encontrar uma solução para o impasse. Também participaram da reunião os vereadores Ana Lúcia Martins, Lucas Souza e Érico Vinicius, além do padre da região e de representantes da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente e da Secretaria de Assistência Social.
Foram oferecidas diversas alternativas, como o acolhimento da família em um abrigo e demais soluções legais para a situação, mas estas não foram acolhidas. A Secretaria de Assistência Social e a paróquia da região se colocaram à disposição para ajudar com as medidas possíveis para apoiar a família neste momento.
Ao fim da reunião, a representante da família que ocupou a área de forma irregular se comprometeu a deixar o local no prazo estabelecido pela autuação.
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Na manhã desta quinta-feira (25), foi organizada uma manifestação para impedir que a operação fosse realizada. Como não havia condições de segurança para que os profissionais executassem a atividade, a ação foi suspensa. Caso a família não cumpra o compromisso assumido, a questão será judicializada.”