Um vídeo que circula nas redes sociais mostra dois policiais militares de Tubarão, no sul do Estado, ameaçando quatro homens em uma casa por supostos arranhões no carro de um dos PMs. Em serviço e fardados, os policiais ainda provocam os suspeitos a praticarem atos criminosos contra instituições e pessoas públicas, dizendo que eles podem atirar em delegacias, no fórum e até “matar juiz que não tem problema”. Ressaltam, por fim, que os rapazes só não devem mexer com a PM.
Continua depois da publicidade
As imagens, ainda sem confirmação da data em que foram feitas, provocaram a instauração de um inquérito para investigar os fatos pela Delegacia de Investigação Criminal (DIC) de Tubarão e um procedimento preparatório pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP/SC). A Polícia Militar confirma a veracidade das imagens, diz ter tomado conhecimento dos vídeos nesta sexta-feira, e informa a instauração de inquérito policial militar (IPM) para apurar responsabilidades dos policiais que integram o Pelotão de Patrulhamento Tático da PM/SC.
“Vou falar pra ti, a mesma coisa que eu falei pro (sic) cara lá, que deu as informações, eu falei pra ele: vocês querem atirar em fórum, querem atirar em delegacia, em fórum eu faço até questão que vocês atirem, quer matar aquele juiz (palavrão), mata, não tem problema nenhum. Agora, não mexe com a gente, não mexe com a gente”, diz um dos PMs, enquanto outro policial repete que em fórum e juiz “pode atirar”.
Em seguida, um dos PMs prossegue e pergunta “eu quero saber quem foi que arranhou meu carro?”. Um dos homens então diz que não sabe. O policial reforça as ameaças e avisa: “Se eu não souber, isso que aconteceu hoje, vai acontecer depois, e depois, até eu saber quem foi o cara”.
Delegada regional de Tubarão, Vivian Garcia Sellig, afirma que a DIC instaurou inquérito para apurar o fato nesta sexta-feira, bem como a promotoria de Justiça que cuida do controle externo de atuação da PM em Santa Catarina. Ela conta ter recebido o vídeo na quinta-feira, dia 26, de forma anônima, e garante conhecer os policiais fardados que aparecem nas imagens e os homens que estão sentados, um no chão e outros dois com as mãos na cabeça.
Continua depois da publicidade
— Já foi instaurado o procedimento para apurar essas condutas, até porque eles dizem que não dá nada dar tiro em delegacia, no fórum e em juiz. Vamos investigar também a questão da entrada deles nessa residência, se houve a condução regular, legal, desses indivíduos. Isso aconteceu em Tubarão, recentemente, e a DIC vai apurar os fatos — explica a delegada.
O promotor Wilson Paulo Mendonça Neto, que atua na promotoria militar da Capital, disse que as falas do PMs “são muito graves”. Ele requisitou procedimento investigatório para apurar o caso nesta sexta-feira, já conversou com o corregedor da Polícia Militar, e espera que os policiais sejam afastados das funções o mais rápido possível.
— Eu já sugeri o afastamento dos policiais, porque o que eles fizeram é muito grave — avalia o promotor Mendonça Neto.
PM promete investigar atuação dos policiais da corporação
Responsável pela comunicação social da Polícia Militar de Santa Catarina, o tenente-coronel Alessandro Marques, afirma que a corporação tomou conhecimento dos vídeos na tarde desta sexta-feira e já instaurou um inquérito policial militar para averiguar as imagens e a conduta dos policiais.
Continua depois da publicidade
— A informação chegou ao conhecimento do Comando-Geral na tarde de hoje. De imediato, foi determinado a instalação de um procedimento, um inquérito policial militar para apurar o que ocorreu. Até o momento, eu ainda não posso precisar, esse vídeo não é recente, mas remete aquele episódios dos ataques, da última crise no sistema penitenciário (no início de setembro deste ano). Esse vídeo deve ser dessa época — acredita Marques.
O tenente-coronel entende que até pelas falas, ao citar juiz e fórum, o vídeo parece ser do início de setembro, já que no dia primeiro daquele mês o fórum de Tubarão foi alvo de disparos de arma de fogo.
— Enfim, aquela atitude, aquela abordagem, a verbalização que o policial teve, a participação dos outros (policiais) no fato, serão objeto de investigação da Polícia Militar, sim. Mas só tomamos conhecimento hoje (sexta-feira), quando o vídeo passou a ser divulgado em Tubarão, e através de uma comunidade da rede de vizinhos da cidade a informação chegou ao comando da PM, que determinou a investigação — revela Marques, que não soube dizer se os PMs que aparecem nos vídeos seguem atuando nas ruas de Tubarão.
Em nota divulgada nesta sexta-feira à noite, a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Santa Catarina (Adepol/SC) afirmou apoiar totalmente os agentes da Polícia Civil, bem como o poder judiciário e os magistrados do Estado, já que o vídeo mostra “claro estímulo à prática de ações criminosas” contra essas instituições.
Continua depois da publicidade