*Por Steven Kurutz
Quando era jovem na Califórnia, Orion Tait costumava acompanhar o pai durante a rotina de cuidados com a casa nos fins de semana. "Domingo era dia de música alta – Neil Young – e meu pai andava de um lado para o outro, aguando as plantas. Ele tinha plantas em todos os cantos da casa. Era uma espécie de ritual", relembrou Tait.
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Tait, diretor criativo e sócio da Buck, uma empresa de produção, tentou dar continuidade a essa tradição em sua casa no Brooklyn, incluindo o rock and roll aos domingos. Mas ele e a esposa, Amy Won, são ocupados demais para cuidar de plantas. Eles nunca conseguiram mudá-las de vaso e enfrentaram uma infestação de fungos.
"Um dia cheguei à conclusão de que deveria haver alguém que pudéssemos contratar para cuidar disso. Afinal, estamos em Nova York", contou. Essa pessoa era Lisa Muñoz. Por US$ 2 mil, Muñoz enche sua casa de plantas e as deixa lindas. Você pode gastar mais de US$ 2 mil, mas não dá para gastar menos; esse é o valor mínimo cobrado por sua empresa com sede no Brooklyn, a Leaf and June.

O serviço inclui o projeto, as plantas, os vasos, a instalação e um guia detalhado de cuidados, explicou Muñoz. "Você não precisa chamar um Uber XL para transportar uma árvore para casa. Fazemos todo o trabalho sujo", explicou.
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Muñoz, de 38 anos, está acostumada a vender os serviços, já que precisa explicar o que faz sempre que alguém pergunta sua profissão: designer de plantas. Trata-se de uma carreira em ascensão, à qual ela se dedica há seis anos.

Viveiros e floriculturas fornecem há muito tempo cuidados profissionais para casas e escritórios. Dá para imaginar que a maioria dos bilionários da Park Avenue não coloca água nos próprios vasos. Muñoz também oferece esse tipo de serviço de manutenção aos clientes.
Porém seu verdadeiro papel é realizar um serviço parecido com o de um estilista ou consultor de arte: fazer escolhas estéticas e bons investimentos no lugar de outra pessoa. A diferença é que ela cuida das plantas.
O fascínio pelas plantas domésticas deu origem a muitos tipos de especialistas

Depois de começar a postar no Instagram fotos de sua casa em Baltimore, há três anos, e conversar sobre as 200 plantas que ocupam seus cômodos exuberantes, Hilton Carter se tornou uma espécie de celebridade. Ele publicou o livro "Wild at Home: How to Style and Care for Beautiful Plants" (Selvagem em Casa: Como estilizar e cuidar de lindas plantas, em tradução literal), que, segundo ele, criou um novo tipo de trabalho.
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"Não vou mentir para você – acredito que fui a primeira pessoa a dizer que era estilista de plantas. Resolvi assumir, e acho fantástico que isso tenha se tornado um trabalho", contou Carter, de 40 anos, que trabalhava em uma agência de marketing antes de deixar o emprego para se dedicar às plantas.
Carter disse que atualmente está ocupado demais para fazer novos projetos (este ano ele vai publicar um novo livro, "Wild Interiors", acompanhado de uma turnê de divulgação).

Maryah Greene, dona de um microempreendimento chamado Greene Piece, afirma ser uma "médica e estilista de plantas" de Nova York. É uma encantadora de ficus-lira: Greene cobra de US$ 125 a US$ 175 por hora. Seus clientes são, em sua maioria, aposentados que querem se cercar de verde, mas não sabem a diferença entre uma violeta e um jasmim, nem o que fazer para não as matar.
"Boa parte do que faço é tornar as pessoas mais confiantes", afirmou Greene, de 24 anos, que atua como estilista de plantas há mais de um ano e já se reuniu com cerca de 50 clientes até agora.
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A confiança exige bons conselhos: a costela-de-adão pode ficar ao lado do aquecedor? Os cactos que adoram sol conseguem sobreviver em um apartamento mal iluminado? Qual é o melhor tipo de vaso para exibir as folhas brancas e cor-de-rosa da flor-de-cera?
Quanto mais dinheiro, mais problemas

Afinal, para que serve um estilista de plantas? A biblioteca é pública e tem muitos livros sobre o assunto. Ainda assim, na era da economia dos bicos, quando freelancers e consultores surgem para resolver todos os problemas da vida e contratar alguém pode ser melhor do que aprender a fazer, ficou fácil terceirizar as decisões sobre as plantas domésticas.
Os estilistas de plantas afirmam que a maioria das pessoas não faz ideia de como escolher e cuidar corretamente das plantas, mesmo que deseje viver cercada de verde. "Uma das principais perguntas feitas pelos clientes é: 'Qual é o melhor tipo de planta para um lugar sem iluminação?' Mas sem luz fica impossível", contou Muñoz.

O chef de cozinha John Fraser contratou Muñoz para resgatar suas plantas, que "estavam à beira da morte", e para criar um espaço verde na sacada de seu apartamento. "Eu queria alguém que pudesse me explicar tudo o que as pessoas geralmente aprendem ao longo do tempo, pois viajo muito e vivo no restaurante. Não sou o melhor cuidador do mundo."
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Reunir-se com um estilista de plantas é um "serviço extremamente íntimo", contou Greene, que lida com pessoas que querem ter as próprias plantas. "Não posso criar um bom plano, a menos que eu saiba quem você é, qual é seu horário de trabalho e seu histórico com as plantas."
Não precisa de doutorado

Uma pessoa não tem de estudar quatro anos de botânica ou horticultura para ser estilista de plantas. Greene estava fazendo mestrado em educação e alfabetização, mas passava boa parte do tempo em lojas de plantas. Foi assim que ela percebeu que seu hobby poderia dar dinheiro.
Em 2013, Muñoz recebeu um certificado de horticultura do Jardim Botânico do Brooklyn e começou a trabalhar em meio período em lojas de plantas, incluindo a Sill, para aprofundar sua formação. Ela abriu seu próprio negócio em 2014.

Muñoz instalou recentemente 115 vasos de planta no escritório grande e iluminado da Buck, por recomendação de Tait e seus parceiros. Pouco depois, afirmou, a empresa ligou e pediu uma proposta para incluir mais plantas.
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"Acho que as pessoas querem ter contato com aquilo que as deixa felizes e com coisas que estejam vivas. Afinal de contas, você já ouviu falar de alguém que perdeu a paciência por causa de uma planta?", refletiu Muñoz sobre seu curioso trabalho.

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