Em seus primeiros anos, o blues foi se firmando como gênero musical, embalado pelo violão e pela gaita de boca. Os subgêneros da época são marcados pela forte presença feminina, pelas letras melancólicas, pelos chamados juke joints, e pela misteriosa lenda surgida em torno de Robert Johnson.

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> Especial Nos Trilhos do Blues: a origem e os subgêneros de um dos estilos mais influentes do mundo

Acompanhe o Bilheteiro do Trem do Blues enquanto ele narra esse capítulo da história do estilo.

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Classic Female Blues

Esta estação não é das mais conhecidas, mas é antiga: algumas das moças que viajaram com o Blues desembarcaram nela antes mesmo de o tal Robert Johnson dar as caras por aqui! Essas senhoras, mulheres como Ma’ Rainey, Victoria Spivey e Bessie Smith, rodavam toda a região do sul, fazendo shows nas cidades e no campo.

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Mas a vida delas não era nada fácil: suas músicas falavam sobre solidão, falta de dinheiro, amores perdidos, sexo, e até drogas e violência. Uma vez eu vi a tal Lucille Bogan beber um bocado e aí cantar uma canção tão explícita que ia deixar vocês, rapazotes, corados! O nome da música era ‘Shave em’ Dry’, se não me engano. Sofreram um tanto, essas moças. Mas também sabiam se divertir.

VOCÊ SABIA QUE…
Let’s sing our blues
A palavra “blues”, em inglês, além de significar a cor azul, também é sinônimo de melancolia: em música, uma “blue note” é uma nota cantada ou tocada em timbre mais baixo que o da escala maior, o que lhe dá um som distintivamente triste. Como nome do gênero musical, a palavra “blues” teria surgido a partir da frase “let’s sing our blues”, que significa algo como “vamos cantar nossas tristezas” – o que faz sentido, já que as primeiras canções identificadas como blues tratavam dos problemas enfrentados pelos afro-americanos nos EUA.
Intervalo musical diabólico
Existe uma lenda ligada ao trítono, intervalo musical que teria sido proibido pela Igreja de aparecer em partituras de música sacra. O trítono é uma combinação dissonante entre duas notas musicais – esses intervalos são usados para expressar sentimentos como tensão, solidão e medo. Todos os acordes de blues carregam um trítono em si; o que tem tudo a ver com o fato de que o estilo surgiu para expressar as angústias dos negros norte-americanos no fim do século XIX. Mas também contribuiu para o mito demoníaco em torno da fama de Johnson.

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Delta Blues

Essa é a maior estação de todas: a primeira da linha do Blues a ser construída, e depois se tornar famosa no país e no mundo inteiro! De um jeito ou de outro, todas as outras estações foram inspiradas na Delta Blues: músicos como Robert Johnson, Son House, Robert Lowery, Charley Patton, Jimmie Rodgers, Willie Brown, Leroy Carr, Bo Carter, Sylvester Weaver, Blind Willie Johnson e Tommy Johnson desembarcaram por aqui.

Esses sujeitos geralmente tocavam violão, gaita e nada mais: era uma coisa crua, mas também mais pura, “de raiz”, como dizem hoje em dia. Eram artistas que viajavam muito, sempre carregando o violão com eles.

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VOCÊ SABIA QUE…
O Pai do Blues
William Christopher Handy, mais conhecido como W.C. Handy, nasceu no Alabama em 1873, e é considerado o “Pai do Blues”. Filho de escravos, Handy teve contato desde cedo com as work songs dos trabalhadores negros. Foi durante uma viagem de trem que ele ouviu o tal artista anônimo tocando violão, usando uma faca ou canivete para pressionar as cordas, produzindo sons metálicos e peculiares – e, partir dessa inspiração, escreveu as primeiras composições de blues registradas em papel; como Saint Louis Blues e Memphis Blues.
Clarksdale e os Juke Joints
A cidade de Clarksdale é considerada o local de nascimento do blues: lá existem diversos pontos históricos (como a encruzilhada onde Johnson teria feito o pacto com o diabo) e muitos juke joints. Construídos em casas rústicas de madeira, os juke joints eram os únicos lugares onde os negros, marginalizados, podiam se integrar e se divertir por meio do canto, da dança e da bebida. Um dos juke joints mais famosos de Clarksdale é o Red’s Lounge, um dos últimos originais ainda em atividade.
Ike Zinnerman é o diabo de Johnson?
Robert Johnson nunca comentou abertamente sobre ter ou não feito o tal pacto, mas algumas de suas músicas trazem referências que parecem sustentar a teoria do encontro com o diabo e da venda da alma – mas há quem diga que as tais referências são, na verdade, relativas a Ike Zinnerman, músico com quem Johnson teria aprendido a tocar (e a quem, metaforicamente, deveria seu sucesso e sua alma).
O falar do sul dos Estados Unidos
Os nativos da região sul dos EUA têm um sotaque bastante característico; que inclui a omissão do ‘g’ final nos verbos no infinitivo (como em “doin'”, “goin'”); a maneira quase imperceptível de pronunciar o ‘r’ no final das palavras; e contrações como “gonna” em vez de “going to”, “lemme” em vez de “let me”. Algumas expressões típicas são “Howdy!” para “Como vai você?”; “Y’all” para “todos vocês”; o “done” como sinônimo de “already”; o “y’all come back now, ya hear” para “volte sempre”; e o “big old” para se referir a algo muito grande.

Piedmont Blues

Essa é a estação que atende a região do Piedmont, entre a Georgia, Virginia, Carolina do Norte e Carolina do Sul. O pessoal de lá gostava de ouvir música apalache e o velho ragtime, primeiro gênero musical autenticamente norte-americano! E eles faziam muita festa por lá – adoravam dançar! Confesso que esse é o meu tipo de gente, se a senhora me perguntar.

Os camaradas que embarcavam por lá – Blind Blake, Blind Boy Fuller, Blind Willie McTell, Gary Davis, Etta Baker e Elizabeth Cotten – eram mais grã-finos que a gente da estação Delta Blues, e tocavam um violão mais delicado. Mais tarde, o pessoal do country deu umas voltas por aqui, buscando novas inspirações para tocar seus instrumentos de corda.

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VOCÊ SABIA QUE…
Blues acústico ou elétrico
A palavra “blues”, em inglês, além de significar a cor azul, também é sinônimo de melancolia: em música, uma “blue note” é uma nota cantada ou tocada em timbre mais baixo que o da escala maior, o que lhe dá um som distintivamente triste. Como nome do gênero musical, a palavra “blues” teria surgido a partir da frase “let’s sing our blues”, que significa algo como “vamos cantar nossas tristezas” – o que faz sentido, já que as primeiras canções identificadas como blues tratavam dos problemas enfrentados pelos afro-americanos nos EUA.
A gaita de boca
Criada nos anos 1820 e popularizada na Europa a partir de 1850, a gaita de boca, também chamada de harmônica, ganhou força nos EUA justamente por meio do blues – passando a integrar, mais tarde, também composições e apresentações de country, jazz, folk e rock. Entre os gaiteiros mais famosos do blues estão Paul Butterfeld, James Cotton, Carey Bell, John Mayall, Sonny Boy Williamson, Junior Wells, Snooky Prior, Little Walker, e o brasileiro Flávio Guimarães. Bob Dylan é outro artista que teve sua obra profundamente marcada pela harmônica.

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