O Brasil voltou a ganhar destaque internacional no esporte e dessa vez não é no futebol. São os garotos do surfe que estão fazendo história com a chamada “brazilian storm”, a tempestade brasileira que invadiu a elite do surfe mundial. Nomes como Adriano de Souza, conhecido como Mineirinho, Gabriel Medina, Felipe Toledo e Ítalo Ferreira estiveram entre os finalistas de diversas etapas do World Championship Tour (WCT).
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Ter um surfista brasileiro como o melhor do mundo na elite do surfe era um sonho distante que se realizou em 2014, quando Gabriel Medina ganhou o campeonato mundial. Alegria para os brasileiros que, até então, tinham como melhor marca a participação de Fábio Gouveia e do catarinense Neco Padaratz nas finais em Hubtington Beach, na Califórnia, Estados Unidos, em 1999.
Aos olhos do restante do mundo a “brazilian storm” revela a união dos surfistas brasileiros e deixa cada vez mais nítida a determinação dos atletas ao entrar no mar e disputar uma bateria.
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-Essa geração de surfistas veio depois de uma turma que abriu portas, como Teco Padaratz, Peterson Rosa e Neco Padaratz. Esses caras inspiraram os garotos como Gabriel Medina, Adriano de Souza, Willian Cardoso e Jean da Silva a serem mais profissionais e buscar um título mundial, que antes era apenas um sonho – explica o treinador de surfe Leandro da Silva, que trabalha com muitos garotos da nova geração do surfe catarinense.
Em 2015 a tempestade brasileira ganhou ainda mais força e os brasileiros brilharam em diversas etapas do WCT. O ano fechou com chave de ouro para Adriano de Souza, o Mineirinho, que conquistou o campeonato mundial de surfe e deu a Santa Catarina a honra de abrigar o título da elite desse esporte que tem profunda identificação com os catarinenses.
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-Moro em Floripa e percebo a ascendência do surfe no Estado. Quanto mais atletas virem surfar as ondas catarinenses, melhor vai ficar o nível da nova geração. Ter um campeonato grande acontecendo próximo, com surfistas de alto nível, também contribui com o crescimento do esporte – fala Adriano de Souza em entrevista exclusiva ao Diário Catarinense.
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Segundo Mineirinho, a “brazilian storm” trouxe alegrias para os brasileiros em um ano de frustração:
– Gabriel Medina chocou o mundo com o título mundial em 2014, quando o futebol no país estava ruim e o que salvou o ano foi o surfe. Na temporada seguinte consegui o título também e sei que de alguma forma inspiramos as novas gerações. Hoje os atletas traçam metas dentro do circuito mundial, enquanto antigamente o objetivo era entrar no circuito mundial.
Tempestade catarinense
Inspirados pelos grandes feitos dos brasileiros nas águas, a jovem geração de surfistas de Santa Catarina surge como promessa. Nomes como Lucas Vicente, Ryan Cordeiro e Wallace Vasco já despontam em competições aqui e fora do país. O que eles conseguem hoje dentro do esporte só é possível porque dois caras nos anos 1990 e 2000 abriram as portas do surfe para os catarinenses.
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Os irmãos Teco e Neco Padaratz foram os grandes nomes do esporte no Estado. Teco é bicampeão mundial da divisão de acesso à elite, o World Qualification Series (WQS), e considerado um dos maiores ídolos do surfe brasileiro. Seu irmão, Neco, também sagrou-se bicampeão mundial do WQS, em 2003 e 2004. Foi por meio deles que muitos jovens descobriram que o surfe poderia ser muito mais do que um esporte e um estilo de vida, poderia ser uma profissão.
Segundo Norton Evaldt, diretor de comunicação da Federação Catarinense de Surf (Fecasurf), a mudança no perfil dos atletas é clara e expressiva, hoje eles competem de igual para igual com atletas de alto nível.
– Queremos incentivar as categorias de base e para isso criamos o Circuito Surf Talentos Oceano, para surfistas com idade entre 4 e 18 anos. A última edição, realizada na praia da Ferrugem, teve participação recorde de atletas inscritos, inclusive de outros estados e da Argentina – ressalta Norton.
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O ar catarinense parece fazer bem aos atletas, seja os que aqui nasceram ou aqueles que adotaram o Estado. Alguns tem o surfe no DNA, como é o caso do florianopolitano Lucas Vicente, 15 anos. Ele começou a surfar ao três anos de idade e com cinco já participava da primeira competição.
-Meu pai surfava e me levava para a praia. Comecei vendo ele e ficava chorando quando não me deixava entrar no mar. Aos cinco anos competi contra meninos de 12 e terminei entre os cinco primeiros. De lá pra cá comecei a gostar cada vez mais do esporte e sei que é isso que eu quero fazer pelo resto da minha vida – conta Lucas.
Outros, como o atual campeão mundial Adriano de Souza, escolheram viver e treinar em mares catarinenses porque, segundo o treinador Leandro da Silva, eles sabem que o Estado, e especialmente Florianópolis, oferece uma boa estrutura para o esporte.
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-Santa Catarina é muito bem vista lá fora. Recentemente treinei aqui o surfista chileno Nicolas Carvajal. Ele me procurou porque queria surfar onde os catarinenses treinam para tentar descobrir porque somos tão bons aqui. Estamos com uma visibilidade muito boa – destaca o treinador.
De acordo com o diretor de comunicação da Fecasurf, o elevado nível dos atletas se deve às competições de alto padrão realizadas no Estado. Isso atrai competidores fortes e motiva os surfistas a buscarem metas maiores e até internacionais. A partir do segundo semestre a Fecasurf apresenta a segunda edição da Taça Copinha de Surf Catarinense, para atletas com idade entre quatro e 15 anos, evento voltado para as novas gerações do esporte.
Rotina de atleta
Os surfistas que são destaque na nova geração tem idade entre 13 e 15 anos, estudam e já levam uma vida de atletas, inclusive com compromissos profissionais e patrocinadores. Lucas Vicente é um deles. O garoto de Florianópolis treina com o mesmo técnico de Mineirinho e tem no currículo horas de surfe no Havaí, Indonésia, Peru, Tahiti e Fiji, lista de lugares que causa inveja a muitos surfistas mais experientes.
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-Minha rotina é bastante puxada. Acordo cedo e vou para a escola, mal tenho tempo de almoçar e já vou para o mar. Faço treinamento funcional, academia e ainda tenho que manter os estudos em dia, se não tirar nota boa fico de castigo em casa – explica Lucas.

A mesma rotina de estudos e treinos seguem o catarinense Ryan Cordeiro, 15 anos, de Itapoá e Wallace Vasco, 13 anos, nascido em Brasília, mas que adotou Florianópolis desde 2011, quando conheceu o mar e se apaixonou:
-Em Brasília eu não sabia o que era surfe, comecei a surfar em Floripa, quando conheci o mar. Achei irado ver os caras na água, queria fazer aquilo também e acabei pedindo uma prancha de presente para o meu pai – relembra Wallace.
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Com a ingenuidade de um jovem adolescente ele como é a relação com um dos seus maiores ídolos, o Mineirinho:
-Eu gosto do Adriano, moro há duas ruas da casa dele e quando está em Florianópolis a gente sempre marca surfe, troca uma ideia. Ele me dá dicas e me ajuda muito – fala o garoto, sem se dar conta do privilégio que tem de pegar onda com o atual campeão mundia de surfe.
Já Ryan Cordeiro se prepara para a sua primeira viagem internacional e não esconde a ansiedade. No dia 29 de julho ele embarca rumo ao Peru. Cheio de planos, a resposta sai rápida quando perguntado como se imagina daqui há cinco anos:
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-Eu me imagino morando fora do Brasil, competindo em alto nível e representando o meu país no WCT – sonha.