Célebre personagem do esporte brasileiro, que até ganhou o apelido de “filósofo do futebol”, Neném Prancha certa vez disse: “Pênalti é uma coisa tão importante, que quem devia bater é o presidente do clube.” Nenhuma das 17 regras do futebol prevê que isso seja possível, mas não é de se duvidar que, se fosse, o presidente Nereu Martinelli o faria pelo Joinville.

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Envolvido profundamente no dia a dia da equipe, o dirigente está cada vez mais reunido com o grupo. Na última semana, esteve na Arena para apoiar o time que treinava para enfrentar o Avaí. Na sexta-feira de noite, foi para a Ressacada e viu o JEC engolir o Leão. E, no sábado, trocou a manhã de descanso para estar presente na reapresentação do grupo no CT do Morro do Meio.

A pedido da reportagem de “AN”, reservou 30 minutos para uma conversa sobre o bom momento vivido pela equipe. O mandatário do Tricolor falou sobre diversos temas: desde a boa fase que a equipe atravessa, passando pela avaliação do desempenho da comissão técnica e até falou sobre o planejamento para 2015.

Outro tema abordado foi o polêmico pedido de desligamento do diretor financeiro Jony Stassun, que entregou o cargo por estar insatisfeito com os resultados do JEC na época, mas retomou a cadeira na última semana. Martinelli revelou que também já teve vontade de “chutar tudo para o alto” um dia, e por isso entendia a decisão de Stassun.

Mas sobre o acesso, assunto que a torcida mais deseja ouvir o presidente falar, Martinelli foi comedido. Em consonância com o discurso da comissão técnica e dos jogadores, ele evitar falar em projeção de pontos que serão necessários para garantir a vaga na Série A. Diz que isso é coisa para os matemáticos abordarem. Mas é claro que todos estão confiantes e sabem que falta pouco. Cuidadoso no discurso, o presidente sempre repete as palavras “se Deus quiser” antes de falar no acesso. Ao que tudo indica, Ele há de querer.

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Confira a entrevista completa com o presidente Nereu Martinelli, que está dividida por tópicos. Se preferir, ouça, no fim da matéria, a íntegra da conversa com o dirigente.

A BOA FASE

“A cidade de Joinville merece e precisa estar na elite do futebol brasileiro.”

Essa boa fase é resultado de um planejamento que foi feito em dezembro do ano passado, assim que terminou a Série B. Com a vinda do César Sampaio e do Hemerson Maria, definimos o perfil de atleta que queríamos. Por isso, foram feitas algumas dispensas que muita gente não entendeu o porquê. A equipe não cresceu por acaso. Em 2014, o Joinville melhorou a sua estrutura. Adquiriu equipamentos que permitem a avaliação detalhada do atleta. É um trabalho em conjunto, que possibilitou que o JEC chegasse em uma fase decisiva no campeonato e crescesse. É evidente que não se ganhou nada ainda, mas o Joinville está no caminho certo. Esperamos que continue nesse crescimento, para que se busque, em seis rodadas, a pontuação que todo mundo quer. A cidade de Joinville merece e precisa estar na elite do futebol brasileiro.

META DE PONTOS

“Quem sabe, vindo o acesso, a gente não possa sonhar mais alto.”

Não se fala nesse assunto dentro do vestiário, a partir do presidente. Isso é coisa para matemático. Se voltássemos para 2013, com essa pontuação e pelo número de vitórias, o Joinville já estaria na Série A. Neste ano, a competição está muito estranha e equilibrada. Há três ou quatro rodadas, ninguém valorizava o Santa Cruz. Dependendo dos resultados, eles podem estar no G4 daqui a duas rodadas. Então, não dá pra definir. O que existe a favor do Joinville é o crescimento da equipe e o número de vitórias. O JEC pode empatar três ou quatro rodadas, que fica no G4 pelo número de vitórias. Os matemáticos apontam 65, 66 pontos. Tem gente até que coloque com 63 pontos. Mas isso não é o importante. O importante é a cidade se voltar ao redor do time, a torcida continuar indo ao estádio e apoiando. Vamos enfrentar o Bragantino, buscando a pontuação necessária, depois vamos pensar no Sampaio Corrêa. O acesso vai vir automático. Quem sabe, vindo o acesso, a gente não possa sonhar mais alto e brigar por um título da Série B.

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O TRABALHO DA COMISSÃO TÉCNICA

“Hemerson Maria não é o melhor treinador só de Santa Catarina, ele é um dos melhores treinadores do futebol brasileiro.”

Tentei contratar o Hemerson Maria em 2013. Quando liguei para ele, ele já estava acertado com o Red Bull. A gente conhecia o trabalho dele. E o melhor indicador para o trabalho de técnico são os atletas. Nunca neguei que, por questão de avaliação, o Hemerson Maria não era o nosso primeiro nome. O primeiro nome era o Sidney Moraes. E eu nunca escondi isso do próprio Hemerson, pois aqui a gente fala e olha nos olhos. Mas as coisas não aconteceram. Quando procuramos o Hemerson novamente, foi uma conversa de dois minutos. Se perguntar para mim, o Hemerson Maria não é o melhor treinador só de Santa Catarina, ele é um dos melhores treinadores do futebol brasileiro. É só perguntar para os jogadores sobre a qualidade do trabalho dele.

O COMPROMETIMENTO

“A gente aprende errando. Tem que errar para aprender depois.”

Existe todo um trabalho da diretoria, que se empenha muito, o trabalho da comissão técnico, o trabalho do pessoal de apoio e o trabalho dos jogadores. Quando o Saci se machucou, parecia que tinha caído um vulcão na cidade, mas aí entrou a inteligência da comissão técnica. Sinceramente, algumas peças que vieram para substituir o Saci, não corresponderam dentro do que espetava. Apostamos, mas a coisa não vingou. Quando o Jael se machucou, a imprensa catarinense falou que o Joinville ia cair muito. Mas eu sabia que tinha no grupo o Viana, que, na minha opinião, fez uma grande partida contra o Avaí. Sabia que tinha um atleta experiente, que ajuda no grupo, como o Schwenck. Tivemos atletas que assumiram a responsabilidade, como o Edigar Júnio. Tudo isso (o comprometimento) vai desde o presidente até o senhor que corta a grama. Temos aqui uma cartilha, que não perdoa ninguém. Teve atleta que chegou a levar multa de R$ 1.500. Uma alimentação saudável, uma concentração. Agora que liberei, nas últimas partidas, para concentrar em hotel. Isso porque os atletas se queixavam que havia uma moto que passava de madrugada aqui perto do CT e tirava o sono deles. São coisas assim, o comprometimento é geral. São coisa assim que a gente aprende com a bola. Estou no futebol há mais de 15 anos, entre saídas e vindas pro Joinville, e a gente aprende errando. Tem que errar para aprender depois.

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SÉRIE A

“O Joinville passou em dois vestibulares por média, mas ainda não estava pronto para subir.”

Acho que o Joinville passou em dois vestibulares por média, mas ainda não estava pronto para subir. Quando falo em estar pronto, me preocupo muito com a estrutura física. Não adianta subir para a elite e depois não ter estrutura. O peso da Série A é muito grande. Se Deus quiser, vamos conseguir. Mas já não me empolgo mais com a bola. Já aprendi muito com ela e já apanhei demais. A gente tem que ir passo a passo. Temos pela frente o Bragantino, o Sampaio Corrêa, a Ponte Preta, o Boa Esporte, o Luverdense e o Oeste. Temos também que torcer um pouquinho e fazer uma figa, torcedor para que os adversários tropecem um pouco. É bom vivenciar esse momentos, mas temos que ter os pés no chão e tranquilidade.

PLANEJAMENTO PARA 2015

“Se acontecer o acesso, isso valoriza muito o profissional. E muita gente no Brasil sabe da qualidade do Hemerson Maria.”

Sobre 2015, a única coisa que já fiz foi na questão do Anselmo. Ele tinha um contrato até 2015, mas me encontrei com ele na semana passada e acertamos um novo contrato de dois anos. Só precisamos aguardar novembro, para cumprir um texto do contrato, para fazer a rescisão e acertar o novo. Hoje, a gente aprende na bola. Esse é o momento que não se deve falar de renovação com aqueles jogadores que não estão no Joinville. Não me preocupo com vários atletas que já têm contratos, no mínimo, até o catarinense do ano que vem. Temos que deixar acabar o campeonato, ver como as coisas vão se desenrolar. Eu não sei nem se a comissão técnica vai ficar. De repente, o Hemerson Maria chega e me diz que tem proposta de um time da Série A, e ele tem potencial para isso. Se acontecer o acesso, isso valoriza muito o profissional. E muita gente no Brasil sabe da qualidade do Hemerson. Nesse ano, ele deixou de ir para duas equipes da Série A de Santa Catarina. Uma se tornou pública, que foi a Chapecoense. Teve outra que me telefonou, e falou que não iria procurar o treinador em respeito ao Joinville. Então, não posso avaliar nada. Terminando a competição, vamos sentar com a comissão, discutir a situação, ouvir a opinião deles com relação ao grupo e aí fazer o planejamento. Primeiro, pensar no Catarinense e depois, se Deus quiser, pensar na competição mais difícil. Quem sabe, estejamos na Série A.

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EDIGAR JÚNIO

“Acho difícil o Edigar Júnio ficar para o ano que vem.”

Tenho que agradecer muito ao Atlético-PR, na pessoa do Mário Celso Petraglia. Fui criticado no começo do ano, quando diziam que só trazia jogadores do Atlético-PR para cá. E o Edigar Júnio, junto com outros atletas, vieram para cá sem custo, e em situação de o Atlético-PR arcar com o salário. O Edigar Júnio só ficou aqui quando terminou a Série B porque o Mário Celso bancou. Ele teve duas ou três propostas de Série A, nas quais o próprio Atlético-PR poderia se beneficiar, mas o presidente manteve a palavra. Mas acho difícil o Edigar ficar para o ano que vem. Talvez, ele deva entrar em alguma negociação futura. O presidente Mário Celso me ligou essa semana, pois acompanha muito o Joinville. Na troca de informações, a gente sente que o Edigar dificilmente permanece, a menos que não seja utilizado no Atlético-PR, mas isso não sou eu que vou avaliar. Mas existe uma coisa: o atleta tem o desejo de permanecer em Joinville. Tem que deixar as coisas acontecerem.

SAÍDA E RETORNO DO DIRETOR FINANCEIRO

“Já senti vontade de chutar tudo para o alto também.”

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Você acha que eu também não passei por isso? Comecei em 1998, como diretor financeiro. Passei por tudo: diretor financeiro, diretor de futebol, vice-presidente, presidente. Às vezes, no caso do Joy (Stassun, sócio proprietário da Romaço e diretor-financeiro do JEC), é diferente trabalhar no basquete, que ele conhece muito bem, e trabalhar no futebol. Eu entendo a situação dele. Quero dizer, que ele é um grande parceiro que, inclusive, já renovou o contrato de patrocínio para o ano que vem. O que aconteceu foi que, em um momento de desestímulo, ele tomou uma decisão. Não é fácil ser esse diretor do Joinville. No momento, ele me procurou a respeitei a sua decisão. Já senti vontade de chutar tudo para o alto também. Já fui chamado de ladrão pelo vendedor de água antigo que tínhamos na Arena, há alguns anos atrás. Hoje, minha casa está penhorada em banco pelo Joinville. Poucas pessoas fazem isso. Mas depois ele teve a humildade de vir até aqui no CT, se desculpar com todo mundo. Ele me procurou e eu disse a ele que, para mim, ele nunca tinha saído. Eu nunca usaria isso para tirar benefício. Mas, se sou jogador, pensaria: se até o diretor financeiro não acredita mais na gente… Se isso serviu de estímulo, que bom. Mas não acredito que tenha trazido motivação a mais aos jogadores. O que traz motivação é salário e premiação em dia. O Jony está aí, junto com o Joinville, e isso só deixa o nosso time mais forte.